28 de mar. de 2014

Estupro: pesquisa expõe machismo brasileiro

Mulher com saia curta: pesquisa expõe machismo do brasileiro.

Segundo Ipea, 58,5% dos entrevistados diz que, se mulher se comportasse, haveria menos estupros.

Pesquisa divulgada nessa quinta-feira (27) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que 58,5% dos entrevistados concordaram totalmente ou parcialmente com a frase "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros". Em relação a essa pergunta, 35,3% concordaram totalmente, 23,2% parcialmente, 30,3% discordaram totalmente, 7,6% discordaram parcialmente e 2,6% se declararam neutros.
"Por trás da afirmação, está a noção de que os homens não conseguem controlar seus apetites sexuais; então, as mulheres que os provocam é que deveriam saber se comportar, e não os estupradores. A violência parece surgir, aqui, também, como uma correção. A mulher merece e deve ser estuprada para aprender a se comportar", dizem os pesquisadores. 

Os pesquisadores também perguntaram "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas": 42,7% concordaram totalmente com a afirmação, 22,4% parcialmente; e 24% discordaram totalmente e 8,4% parcialmente.

"O acesso dos homens aos corpos das mulheres é livre se elas não impuserem barreiras , como se comportar e se vestir ´adequadamente´", concluíram os pesquisadores.

Conforme o levantamento, 63% concordaram, total ou parcialmente, que "casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre os membros da família", 89% dos entrevistados tenderam a concordar que "a roupa suja deve ser lavada em casa" e 82% que "em briga de marido e mulher não se mete a colher".

Os dados fazem parte da pesquisa Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) - Tolerância social à violência contra as mulheres, que mostrou ainda que 78,1% dos entrevistados concordam totalmente e 13,3% concordam parcialmente que a prisão é a punição adequada para o homem que bate na esposa. A pesquisa colheu dados sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo e relação familiar.

Os pesquisadores sugerem que a população ainda tem "visão de família nuclear patriarcal, ainda que sob uma versão contemporânea, atualizada. Nessa, embora o homem seja ainda percebido como o chefe da família, seus direitos sobre a mulher não são irrestritos, e excluem as formas mais abertas e extremas de violência.

Os resultados apontam que a Lei Maria da Penha, que endurece as punições para o agressor, contribuiu para minimizar a tolerância à violência contra a mulher. Para a secretária Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Aparecida Gonçalves, as tendências machistas vêm mudando. "Apesar de não ter mudado ainda da forma como gostaríamos, elas vêm se alterando aos poucos, principalmente no que tange à violência doméstica e familiar". Ao todo, 3.810 pessoas foram entrevistadas no ano passado, sendo 66,5% mulheres.

Outra pesquisa do Ipea apresentou dados sobre o crime de estupro no Brasil. A estimativa com base nos atendimentos prestados às vítimas é que, a cada ano, 527 mil pessoas são estupradas no país. Apenas 10% dos casos chegam ao conhecimento da polícia. A maioria das vítimas é mulher, sendo 70% são crianças ou adolescentes. Mais de 92% dos agressores são homens. Pais, padrastos, amigos e conhecidos representam 56,3% dos criminosos.
Fonte:   domtotal.com 
Agência Brasil

27 de mar. de 2014

Anaximandro de Mileto e o Ilimitado


Em Anaximandro algo muda nos pré-socráticos. Isso ocorre porque, de um lado, a phýsis era entendida como algo perceptível, definido, delimitado, algo que poderia ser facilmente apreendido, como o úmido, o seco, o quente ou o frio. A phýsis agora se torna o ápeiron
Vamos por partes. Ápeiron é uma palavra composta pelo prefixo negativo "a" e pelo substantivo "péras", que indica limite, fronteira, extremidade. Ápeiron é, portanto, etimologicamente aquilo que não possui fim, imenso, ilimitado, inumerável, incalculável. Em termos filosóficos, é o indeterminado que, não possuindo nenhuma das coisas e nenhuma das qualidades dá origem a todas elas. 

O Brasil e os contrastes do novo milênio

Possuímos uma base científica relevante, mas somos retardatários na produção de tecnologia e, principalmente, na introdução de inovações. Por Roberto Amaral
por Roberto Amaral — publicado 26/03/2014 14:18, última modificação 26/03/2014 14:21Share1
David Lankford/Flickr
Possuímos uma base científica relevante, mas somos retardatários na produção de tecnologia e, principalmente, na introdução de inovações
TabletO século XX foi marcado pela disjuntiva que separava os países entre desenvolvidos (os industrializados) e subdesenvolvidos, categoria a que pertencíamos até inventarem o termo ‘emergentes’. No terceiro milênio, a polaridade se revela entre países produtores e países importadores de tecnologia - condenados, estes, condenados ao exílio na civilização tecnotrônica. São os novos 'condenados da Terra’, para lembrar Fanon.
Para além dos regimes econômicos, para além das crises do capitalismo onipotente, para além dos jogos das potências militares, é esta a nova polaridade, porque determinada pelo desenvolvimento científico de cada país, porque este é o que determina o desenvolvimento nos seus diversos níveis e transforma potências econômicas em potências militares, determinando, por fim, a nova geopolítica e a distribuição do poder em todo o planeta:  novos senhores e novos vassalos, novos alinhamentos e novos conflitos.
Uma vez mais a humanidade se vê estancada  em  blocos, antípodas. De um lado o mundo da ciência, da tecnologia e da inovação, dominante; de outro, o mundo dos dependentes de tecnologia. De um lado os países ricos e poderosos; de outro, os novos e irrecuperáveis subdesenvolvidos. Entre uns e outros, um fosso intransponível no horizonte de nossos tempos.
A  revolução tecnológica é o resultado do acúmulo histórico. Conquista da humanidade em seu ininterrupto processo civilizatório,  ela produz, porém,  em nossos dias, consequências certamente ainda mais profundas do que aquelas herdadas da revolução industrial, a quem devemos a arquitetura do mundo moderno e a sociedade de massas, posto que nos últimos 70 anos o Homem adquiriu mais conhecimentos do que em toda a sua História pregressa.  Como a revolução industrial ao seu tempo, a  tecnológica revolverá conhecimentos e crenças, destruirá verdades ‘científicas’ solidamente estabelecidas, construirá valores, conceitos, doutrinas e ideologias. Já alterou nossas vidas individuais e a vida dos povos e das nações, como já alterou a correlação de forças internacionais. E está na raiz do fim da polaridade EUA x URSS.
Mas seguirá veloz, dando poucas oportunidades de recuperação àqueles que não puderem acompanhar seu ritmo. Esse trem não voltará a estações passadas para resgatar  passageiros atrasados.
Nosso país tem pouco tempo para decidir-se pelo mundo em que sua gente, detestada pela classe dominante,  deverá viver. Quem não produz sua própria tecnologia estará condenado  a depender da tecnologia dos outros, que não está à venda nas gôndolas dos supermercados. E essa dependência tem o custo econômico que conhecemos – a começar pelo peso no balanço de pagamentos –, custo com o qual todos somos obrigados a arcar. Se no plano interno ela dificulta o equilíbrio econômico, no externo ela reduz a competitividade da economia brasileira e nos faz um país fundamentalmente primário-exportador.
Possuímos uma base científica relevante, mas somos retardatários na produção de tecnologia e, principalmente, na introdução de inovações.
A chave, claro está, é a Educação. A afirmação é um truísmo que virou lugar comum em dissertações, teses, artigos, discursos, programas de governo e tudo o mais. E, como virou clichê, carimbo de retórica, perdeu valor, perdeu sentido, perdeu força, enquanto a educação reclamada se degrada.
Os números depõem contra nós.
Um dos indicadores do desenvolvimento de um país é o número de artigos científicos publicados em revistas de referência. Em 2011 nossos cientistas publicaram 49.819 artigos. Colegas nossos nos BRICS, a Índia publicou 88.136 e a China, 377.630. Estes números nos ajudam a entender, suponho, porque o Brasil exporta minério de ferro para China e dela importa trens. A inovação, produto da decantação tecnológica, é curialmente  medida pelo número de pedidos de patentes de invenção junto ao Escritório Americano de Marcas e Patentes (USPTO, na sigla em inglês). Ainda os números dos nossos colegas dos BRICS: em 2012 a Índia registrou 5.663 pedidos; a China 13.273 e o Brasil, 679. Haverá de residir, aí, a explicação para o fato de o Brasil não ter marcas internacionais. Há 60 montadoras de veículos automotores no país, nenhuma nativa. O Brasil é o maior produtor de café (em grão…) do mundo, mas a Alemanha é a maior exportadora de café solúvel, ao lado da Suíça, e as máquinas que coam nosso café, na verdade agora o espresso, são italianas.  Ora, se não investimos em pesquisa e desenvolvimento, como pensar em inovação tecnológica?
O Brasil necessita de 800 mil engenheiros.  Mas em  2010,  apenas 5,8% dos graduandos (59.506) eram alunos de engenharia.  Também em 2010, na Rússia, os formandos em engenharia representavam 22% (454.436) do total. Nas áreas de ciências, matemática e computação, sendo as engenharias o coração da produção tecnológica, o disparate é  igual. Enquanto em 2010 formamos 55.860 profissionais, a Rússia, em 2009, havia formado 125.881. A Coreia, com seus 49 milhões de habitantes (o Brasil já ultrapassou os 200 milhões), forma 80 mil engenheiros por ano.
O próximo governo, além de manter e ampliar o  ‘Mais médicos’ (nossa carência atual, Segundo o MS,  é de de ter mais 168.424 médicos; Só na cidade de São Paulo, segundo a Prefeitura, há um déficit de 2,4 mil médicos. ) terá de  criar o ‘Mais engenheiros’‘Mais matemáticos’ e assim por diante.
Com uma população de quase 200 milhões de habitantes, formamos (2011) 45 mil engenheiros, quando precisamos de 70 a 95 mil engenheiros por ano, algo como  2,48 engenheiros por 100 mil habitantes. Os EUA formam 9,5 engenheiros por grupo de 100 habitantes, a China 13,8 e o Japão 17.
Formamos pouco, e formamos mal.
O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes-PISA, apura o desempenho de estudantes de 15 anos de todo o mundo em leitura, matemática e ciências . Na edição de 2009, o Brasil empacou no 57º lugar! Na Coreia, 51,8% dos alunos de matematica foram classificados no nivel 4, no Canadá 43,3% e na China nada menos de 71,2% dos alunos.
Em compensação, nos últimos 20 anos, o número de faculdades de direito, no Brasil, saltou de 200 para 1.260. Porém… no ‘Exame da Ordem’ deste ano   89,7%  dos bacharéis foram reprovados.
Talvez o leitor encontre nesses números a explicação para o fato de, na segunda década do terceiro milênio, 40% das exportações brasileiras serem commodities primárias, de baixo ou nenhum valor agregado, grãos, carnes e minérios. Somente 18% de nossas atuais exportações são produtos de média e alta intensidade tecnológica.
Claro, nada ocorre por acaso. Muitas devem ser as explicações para um atraso que pode comprometer nosso futuro. Uma dessas razões certamente decore de nosso modelo de desenvolvimento vindo dos anos 50, fundado no tripé empresa privada nacional, empresas multinacionais e empresas estatais, estas induzindo o crescimento e ‘protegendo’ a empresa nacional em sua concorrência com as empresas estrangeiras. Naquele então como agora, no Brasil e no mundo, as multinacionais  investem e muito em tecnologia e inovação, mas em suas matrizes. E quase sempre a tecnologia aqui empregada, onde mais uma vez a indústria automobilística (relembremos ‘as carroças’…) é paradigma, era/é atrasada, superada ou obsoleta. A empresa nacional, cingida em sua grande maioria ao mercado interno, não tinha estímulo, ou necessidade, ou cultura, ou capital disponível para o risco, para inovar ou dominar tecnologia. Assim, preferiu e ainda prefere pagar royalties. A produção tecnológica ficou ao encargo das estatais, mas essas foram, em sua maioria, alienadas nos anos do neoliberalismo e da privataria do tucanato.
Assim, ainda hoje o capital privado, no Brasil, qualquer que seja sua origem, não investe em ciência, tecnologia ou inovação. Por isso mesmo não necessita de engenheiros, matemáticos e pesquisadores em geral. Se não há demanda por engenheiros, não há, por óbvio, jovens interessados nas engenharias.
Nos EUA, 80% dos pesquisadores trabalham em empresas privadas e apenas 15% em instituições de ensino. Na Coreia e no Japão, são 75% em empresas privadas. Esse percentual não chega, no Brasil, a 27%. Nos EUA, 60% dos engenheiros com doutorado trabalham na iniciativa privada. No Brasil, apenas 2%.
Às tentativas de explicação de tanto insucesso, acrescentemos mais uma: a depredação de nosso ensino, em particular da escola pública, de primeiro e segundo graus. O ensino universitário, privatizado e mercantilizado, foge dos cursos de ciências e daquelas cadeiras cujo magistério requer altos investimentos. Se conhecimento gera conhecimento, a ignorância nada gera; se a educação gera o conhecimento científico que gera tecnologia que gera inovação, a não-educação gera o atraso.
Mas já não somos nenhuma Malásia, nenhuma Bangladesh, onde o excedente de mão-de-obra desqualificada e barata está à espera da sobre-exploração. Nosso desafio são as fronteiras tecnológicas. Como vencê-lo, sem formar nossos técnicos? Como desenvolver um país capitalista cujos capitalistas evitam o investimento e optam pelo rentismo? Capitalistas que, avessos ao risco, não querem concorrer, e – cracas dos bancos oficiais – ficam a depender do financiamento público, de um Estado que satanizam?
Aonde esperamos chegar com esse modelo?
O Estado brasileiro, porém, nada obstante o fracasso da Educação, cerne de tudo, tem investido no esforço por produção tecnológica. A pesquisa cientifica no Brasil, ou bem é produto direto de estatais, ou decorre de financiamentos sem retorno a universidades privadas ou empresas e a pesquisadores individuais ou grupos de pesquisadores. O sucesso do agronegócio e da agricultura brasileira é um dos efeitos da EMBRAPA; o que temos na indústria aeronáutica (privatizada) é decorrência do sucesso tecnológico do ITA, como devemos à Marinha a pesquisa nuclear e ao Exército os avanços em cibernética. A pesquisa no Brasil depende de uma agência estatal, o CNPq – e a outra agência estatal, a FINEP, devemos o que tivermos feito em inovação, ainda que pouco. Não é preciso falar na contribuição da Petrobras, investindo em praticamete: nte todos os cursos de engenharia do país, financiando mestrados e doutorados, produzindo ciência e tecnologia em seu CENPES e, finalmente, incorporando ao país as riquezas do pré-sal.
São êxitos que devemos reconhecer e exaltar.  Mas alguém acredita que esse desenvolvimento induzido pelo Estado, por si só, nos colocará à altura dos desafios tecnológicos que temos pela frente?

Leis mais em www.ramaral.org
Fonhttp://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-brasil-e-os-contrastes-do-novo-milenio-1517.html/view

26 de mar. de 2014

Envergonhar-se e alargar o coração

Fonte:  domtotal.com
Todos temos a necessidade de ser justificados. E o único que nos justifica é Jesus Cristo.

Quando caminhamos um pouco, a luz do Senhor nos faz ver as coisas e a ajudar os nossos irmãos.
Por Dom Anuar Battisti*

O perdão se torna cada vez mais uma experiência para místicos e santos do presente e do passado. Como é difícil perdoar, e como faz bem sentir-se perdoado.
O papa Francisco, nesta semana, recordou que para pecar não temos vergonha, mas temos vergonha de confessar o nosso pecado. "É verdade que nenhum de nós matou ninguém, mas tantas pequenas coisas, tantos pecados cotidianos, de todos os dias... E quando pensamos: ´Mas que coisa, que coração pequenino: eu fiz isto ao Senhor!’ E envergonhar-se! Envergonhar-se perante Deus e esta vergonha é uma graça: é a graça de ser pecador. ‘Eu sou pecador e envergonho-me perante Deus e peço perdão.’ É simples, mas é tão difícil dizer: Eu pequei".
Quando queremos agredir alguém, chamando-no de sem vergonha, safado, etc… Deus nunca agiu assim diante dos nossos pecados. Diante de Deus todos nós deveríamos sentir vergonha sim, de nossas malandragens e tirar as máscaras da nossa consciência e voltar ao amor misericordioso do Pai Deus numa vida nova, transparente, iluminada.
Deus ama o pecador, mas odeia o pecado. Pecador sim, corrupto não. A corrupção não deixa ver o pecado. Tudo é lícito e justificável.
Quarta feira, na audiência pública, o papa Francisco dizia: “A Quaresma é um tempo para "arrumar a vida" nos aproximando de nosso Senhor. Ele "nos quer perto de si" e nos garante que "nos espera para nos perdoar", mas quer "uma aproximação sincera" e nos avisa do perigo da hipocrisia: "O que os hipócritas fazem? Eles se maquiam de bonzinhos: fazem cara de propaganda, rezam olhando para o céu, se mostram, se consideram mais justos do que os outros, desprezam os outros. ‘Mas eu sou muito católico’, dizem eles, ‘porque o meu tio foi um grande benfeitor, a minha família é esta e eu sou... eu aprendi... eu conheci tal bispo, tal cardeal, tal padre. Eles se consideram melhores do que os outros. Esta é a hipocrisia. Nosso Senhor nos diz: ´Não, isso não´. Ninguém é justo por si mesmo. Todos nós temos a necessidade de ser justificados. E o único que nos justifica é Jesus Cristo.”
Na sua mensagem o papa reafirmava: “Temos que nos aproximar do Senhor ‘para não ser cristãos disfarçados, que, por trás das aparências, na realidade, não são cristãos’. Como, então, não ser hipócritas e aproximar-se de Deus? A resposta vem do próprio Deus na primeira leitura: ‘Lavai-vos, purificai-vos, afastai dos meus olhos o mal das vossas ações, deixai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem’”. Este é o convite.
Mas Francisco pergunta: "Qual é o sinal de que estamos no bom caminho?" Envergonhar-se e alargar o coração. Que o Senhor nos dê esta graça. ‘Socorrei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva’. Ocupar-se do próximo: do doente, do pobre, de quem tem necessidade, do ignorante. Os hipócritas não sabem fazer isto, não podem, porque são tão cheios de si que estão cegos para olhar para os outros. Quando caminhamos um pouco e nos aproximamos de nosso Senhor, a luz do Senhor nos faz ver essas coisas e a ajudar os nossos irmãos. Esse é o sinal, este é o sinal da conversão.”
CNBB, 25-03-2014.
*Dom Anuar Battisti é arcebispo de Maringá (PR).

25 de mar. de 2014

Ação por trabalho escravo na produção de roupas da marca Fenomenal pode ultrapassar um milhão de reais

O Ministério Público do Trabalho em São Paulo ajuizou ação civil pública em face das empresas MP Amorim e Inovax MX Confecções, detentoras da marca Fenomenal Internacional, por submeter trabalhadores a condições análogas à de escravo e promover dumping social, situação na qual a empresa deixa de cumprir obrigações trabalhistas com a intenção de diminuir seus custos e aumentar o lucro, prejudicando não somente o trabalhador, mas também seus concorrentes cumpridores de tais obrigações, configurando vantagem indevida perante a concorrência. Pela prática de dumping social, o procurador do Trabalho João Eduardo de Amorim, autor da ação, pede indenização de R$ 500 mil reais. Por danos morais ao submeter costureiros a condições degradantes de trabalho, Amorim pede mais R$ 500 mil reais.
Trabalho escravo na produção de peças da marca Fenomenal. Fotos: Divulgação/MPT
Trabalho escravo na produção de peças da marca Fenomenal. Fotos: Divulgação/MPT
Em agosto de 2013 uma diligência realizada pelo Ministério Público do Trabalho em São Paulo, Ministério do Trabalho e Emprego e Polícia Federal encontrou 13 trabalhadores bolivianos trabalhando em uma oficina clandestina confeccionando peças de vestuário da marca Fenomenal Internacional, sob encomenda da MP Amorim Eireli, que definia as diretrizes de desenvolvimento e produção das peças.
Na oficina, que também servia de moradia e refeitório, havia crianças e bebês, filhos dos imigrantes trabalhadores, como o relatório da procuradora do Trabalho Christiane Nogueira, que participou da diligência, aponta: “As condições de segurança e saúde dos trabalhadores eram péssimas: roupas e tecidos obstruindo as passagens, não utilização de equipamentos de proteção individual, cadeiras e máquinas em desconformidade com as regras e condições ergonômicas, instalações elétricas precárias, iluminação insuficiente, exposição a fios, presença de crianças e bebês no local de trabalho. Além disso, os trabalhadores moravam no local de trabalho e praticavam jornadas extensas”.
Os auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)lavraram autos de infração e interditaram a oficina pela precariedade das instalações, do local em que eram feitas as refeições e dos pequenos cômodos que abrigavam mais de uma família. De acordo com o relatório do MTE, “a situação precária de higiene e segurança dos trabalhadores no local configura trabalho análogo ao de escravo e as máquinas de costura não tinham proteção , o que poderia provocar acidentes de trabalho, inclusive amputação de membros dos trabalhadores”.
Após a interdição da oficina, o MPT oficiou as empresas para as quais os bolivianos produziam e o MTE procedeu com a emissão das Carteiras de Trabalho e Previdência Social provisórias e das Guias de Seguro Desemprego do Trabalhador Resgatado. As empresas detentoras da marca Fenomenal, pertencentes a um mesmo grupo econômico, realizaram o pagamento das verbas (CTPS, salário, aviso prévio, recolhimento de FGTS, férias e outras verbas rescisórias) e os documentos necessários para o recebimento do benefício de seguro desemprego.
Após o pagamento das verbas, porém, o grupo de negou a assinar um Termo de Ajustamento de Conduta proposto pelo procurador do Trabalho João Eduardo de Amorim comprometendo-se a várias obrigações de fazer e não fazer como absterem-se de utilizar subterfúgios visando à dissimulação do vínculo de emprego, de submeter trabalhadores brasileiros ou estrangeiros a condições degradantes, garantir aos trabalhadores estrangeiros os mesmos direitos assegurados aos trabalhadores brasileiros, seja diretamente ou por interposta pessoa, absterem-se de firmar contratos com pessoas físicas ou jurídicas que não garantam um meio ambiente de trabalho adequado aos seus trabalhadores, com observância às normas de saúde e segurança do trabalhador, e fiscalizar, efetivamente, o cumprimento da legislação trabalhista em sua cadeia produtiva, de bens e serviços, entre outros.
Diante da negativa em adequar a conduta ao que prescreve a lei, o procurador ajuizou a ação civil pública pedindo na justiça do Trabalho todas as obrigações negadas pelas empresas, além de uma indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 500 mil e multa no valor de R$ 20 mil por obrigação descumprida e de R$ 5 mil por trabalhador prejudicado.
Trabalho escravo na produção de peças da marca Fenomenal. Foto: Divulgação/MPT
Além disso, João Amorim pede indenização de R$ 500 mil pela prática de dumping social. “A Constituição Federal preza a livre iniciativa e, por conseguinte, legitima o sistema capitalista de produção, mas exige, em contrapartida, o compromisso de todos para o alcance do bem comum, o que passa pela observância dos valores sociais do trabalho e respeito à dignidade do ser humano que labora”, explica ele.
“Ao repassar a terceiros a atividade de produzir produtos têxteis da marca que detêm a titularidade, permitindo a ocorrência de subcontratações e máxima precarização dos direitos dos trabalhadores, as rés participam do mercado com franca vantagem sobre seus concorrentes que cumprem as leis brasileiras, já que economizam não somente no pagamento das verbas trabalhistas, mas deixam de recolher FGTS, previdência social, imposto de renda, entre outros tributos”, finaliza João Eduardo de Amorim.
Texto originalmente publicado no site do Ministério Público do Trabalho – 2ª Região. 
Fonte: http://reporterbrasil.org.br/2014/02/acao-por-trabalho-escravo-na-producao-de-roupas-da-marca-fenomenal-pode-ultrapassar-um-milhao-de-reais

24 de mar. de 2014

Você precisa perder para ter um casamento feliz?





O psicólogo Kelly Flanagan escreveu um artigo cujo título parece muito interessante: "O casamento é para perdedores". Este artigo descreve três tipos de casamento.

Quando eu namorava meu atual marido, eu me imaginava como uma esposa exemplar, morando em um pedacinho do céu (meu lar), com um marido perfeito e acho que estamos no caminho certo para alcançar isso, mas essas coisas não acontecem por mágica: você deve se esforçar. E no caminho nosso casamento passou por metamorfoses incríveis. Qualquer semelhança com seus casamentos na realidade é pura coincidência.

Eu me casei em 2010 e agora faz quase três anos desde que minha vida mudou e, devo admitir, já não sou a mesma. Além de ser mãe de um lindo bebê de 5 meses, sinto que amadureci muito e tudo graças ao meu casamento. Antes de me casar eu era propensa a acidentes e doenças, alguns riscos, com muito amor para dar, mas sem procurar oportunidades para fazê-lo. Hoje tudo mudou. 
 Passar por essas metamorfoses, que são comuns em qualquer casamento porque são dois mundos diferentes que se unem, é normal; e quando eu percebi que estava começando a gostar do poder de estar sempre certa, ser a responsável pela família, realizar seus caprichos e como tudo estava indo bem eu erroneamente achava que eu era a melhor; então, encontrei algo que mudou minha maneira de pensar. O psicólogo Kelly Flanagan escreveu um artigo cujo título parece muito interessante: "O casamento é para perdedores", está em inglês, você pode lê-lo clicando aqui. Este artigo descreve três tipos de casamento: 
Competitivo: É quando ambos competem para ganhar, e muitas vezes torna-se um duelo, onde os cônjuges estão armados com palavras ou silêncios. Esses casamentos muitas vezes destroem o ambiente que os rodeia e acabam destruindo a si mesmos. 
Dominante: O segundo tipo consiste no casamento onde há um que sempre ganha e outro que sempre perde. Ambos os papéis são definidos, e quem perde, acaba sendo sempre a mesma pessoa. Ao ler esse parágrafo, senti que eu era a má e dominante e, sem perceber, estava prejudicando meu casamento. 

O amor como sacrifício: Em seguida, vem o terceiro tipo de casamento. Não é um casamento perfeito, talvez nem esteja perto de ser, mas as pessoas que compõem esse tipo de casamento tomaram uma decisão, a decisão de amar um ao outro sem limites, e sacrificar o mais importante: a si mesmos. Neste casamento, o termo "perder" que na verdade eu entendo mais como saber ceder terreno, torna-se um modo de vida e a competição consiste em ver quem consegue cuidar, servir, perdoar e aceitar um ao outro da melhor maneira, e esta competição aumenta a dignidade e força do outro. Esses casamentos são formados por pessoas que se esforçam por ser humildes, compassivas, misericordiosas, amorosas e pacíficas.
Ao ler sobre esse tipo de casamento meus olhos se encheram de lágrimas e entendi que embora essa ideia fosse muito diferente de como a maioria das pessoas no mundo pensa (que perder nos torna pior), era justamente o que eu queria para minha família. Desde então eu posso dizer que sou uma grande perdedora, e nosso casamento é desse tipo, o mais estranho, o casal de perdedores. Agora posso dizer que este tipo de casamento não é apenas o que eu quero, mas é o que eu tenho; por isso, meu marido me faz ser humilde, compassiva, misericordiosa, amorosa e pacífica.
Alguma vez você sentiu que estava nessa situação? Você era a pessoa que sempre tinha a razão e sempre ganhava? Ou talvez o contrário: talvez você conheça alguém que não seja feliz em seu casamento, e precisa mudar algo, então este tipo de casamento, do meu ponto de vista, é a melhor opção. Você pode compartilhar esta informação e não só encontrará uma forma de consertar as coisas, mas uma maneira de ser feliz e fazer a pessoa que ama feliz. Além disso, são ideias como esta, em que fazemos uma mudança em nosso coração, que podem fazer do mundo um lugar melhor.

Traduzido e adaptado por Sarah Pierina do original ¿Necesitas perder, para tener un matrimonio feliz? de Gabriela Zuñiga.

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Gabriela Zuñiga graduou-se em engenharia da computação, trabalha em projetos web e é SEO, casada e mãe feliz de um filho de 1 ano.
Fonte:  http://familia.com.br/voce-precisa-perder-para-ter-um-casamento-feliz#sthash.XBGU4Y7g.dpuf