O ano de 1894 marca uma nova época no campo do franciscanismo e dos estudos históricos críticos das fontes franciscanas. Hoje se pode afirmar sem sombra de dúvida que os biógrafos franciscanos se distinguem a partir de uma maior ou menor aproximação dos estudos e pesquisas de Paul Sabatier. É ele que levanta a questão da oficialidade, carisma e instituição, a clericalização da Ordem; a partir de sua obra as fontes franciscanas são revistas sob a ótica da redescoberta de um autêntico São Francisco. É ele que mostra Francisco como o Santo da Paz Social que abala uma sociedade em mutação e sua ambiciosa estrutura econômico-produtiva. Sua obra é importante para atualização e humanização do Poverello e para enamorar-se cada vez mais do Movimento Evangélico surgido e Assis.
Com Sabatier aprendemos a colocar em primeiro lugar os Escritos de São Francisco para depois poder saborear os textos Biográficos. Conhecer verdadeiramente uma pessoa, conhecer a sua personalidade, sua mística, seus valores, é conhecer o modo como ela reza e escreve cartas pessoais. A partir dos Escritos, Sabatier reconstrói os valores de Francisco e do Franciscanismo na sua origem. Com Sabatier descobrimos o histórico texto do Perdão de Assis, a indulgência da Porciúncula, o dilema entre a Fraternitas e a Ordem, o Profetismo anti-institucional. Ele não tirou isto de suas reflexões pessoais, mas de anos de busca de textos originais que levaram ao incremento dos estudos franciscanos e seus temas atuais. Analisou obras, publicou trabalhos, encontrou textos de grande importância, traduziu e organizou edições com estudos e interpretações de textos primitivos. Por isso, você que está lendo esta obra, terá que debruçar-se pacientemente sobre uma vasta e necessária introdução do autor que, didaticamente, nos brindará, nas primeiras páginas, com um Estudo Crítico das Fontes, Escritos de São Francisco, Biografias Propriamente Ditas, Cronistas da Ordem; para depois, em 19 capítulos, criar o seu relato biográfico
Além da sua famosa “Vida de São Francisco de Assis”, Sabatier publicou ,em 1898,o primeiro volume de sua Coleção intitulada “Coleção de Estudos e de Documentos sobre a História Religiosa e Literária da Idade Média”, que contém o texto em latim do “Espelho da Perfeição”, encontrado por ele e por ele atribuído à Frei Leão, datado de 1227. Esta Coleção conta hoje com sete volumes e nela se encontra também o “Tratado da Indulgência de Santa Maria da Porciúncula”, os “Atos do Bem-Aventurado Francisco e de seus Companheiros”, o texto latino de “ I Fioretti”.
Em 1901, iniciou uma outra Coleção científica chamada “Opúsculos de Crítica Histórica”, são dezoito fascículos, onde se encontra a primeira versão da “Antiga Regra da Ordem Terceira”, descoberta pelo próprio Sabatier em Capestrano, Itália. O conjunto destas obras colabora muito para os estudos desde o seu tempo até hoje, porém o que trouxe a mais calorosa discussão são os seus artigos, ensaios e a sua famosa Biografia. Por que? Porque Sabatier quanto mais traduzido, mais discutido e com isto ficou mais na mira dos críticos; mas é inegável que ele trouxe a revalorização dos Escritos de São Francisco como fonte primária de seu conhecimento. Devemos a ele a padronização crítica dos Escritos e das Biografias; ele acentua a importância da humanização do Santo na geografia da Úmbria e na cultura medieval e italiana, e com isso abre um horizonte de estudos psicológicos, caracteriológicos, somáticos, antropológicos, sociológicos, fenomenológicos, teológicos e espirituais sobre São Francisco de Assis.
Os críticos nunca o pouparam de suas análises contrárias devido a supervalorização que Sabatier faz do “Espelho da Perfeição” e da “Legenda dos Três Companheiros”; as quais considera, com certeza, obra de Frei Leão e as únicas fontes confiáveis do conhecimento de Francisco em oposição às obras de Tomás de Celano e São Boaventura. Os críticos afirmam que Sabatier tem uma interpretação por demais objetiva e certo ranço anti-hierárquico, anti-romano.
A história precisava de um Biógrafo que mostrasse Francisco com seu cristianismo original, sedutor, supraconfessional e voltado para o mais Puro Evangelho! A história precisava deste contraste entre Francisco e o Cardeal Hugolino e este bom e fecundo encontro ou desencontro entre Carisma e Instituição. Há mais de 90 anos que Sabatier alimenta os debates que geraram a “Questão Franciscana”. Fonte: http://www.franciscanos.org.br/noticias/noticias_especiais/vidafranciscana_06/01.php
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