20 de mai. de 2015

Romero, o Bispo que morreu pelos pobres

Artigo de Gustavo Gutiérrez 
Fonte:  http://www.ihu.unisinos.br
Dentro de alguns dias, no dia 23 de maio, Dom Romero será beatificado. A um mês do assassinato, ocorrido em março de 1980, o maior expoente da teologia da libertação, Gustavo Gutiérrez, com lucidez, indicava a exemplaridade da vida e da morte do bispo de El Salvador. Foram necessários 35 anos para que a Igreja oficial chegasse a conclusões semelhantes.
Era assim que o vaticanista italiano Giancarlo Zizola apresentava o artigo abaixo na editoria "Religião e mundo moderno", por ele editada no jornal Il Giorno, publicado em 26-04-1980: "Gustavo Gutiérrez, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lima, um dos maiores expoentes da 'teologia da libertação' da América Latina, aprofunda neste artigo o significado da vida e do martírio de Dom Romero, do qual era amigo, oferecendo amplas informações inéditas".
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
O assassinato de Dom Óscar Arnulfo Romero, arcebispo de San Salvador, é, sem dúvida, uma data na vida da Igreja latino-americana.
Por isso, convém aprofundar o sentido da sua vida e da sua morte, esclarecendo ao mesmo tempo algumas imprecisões produzidas pela pressa da informação.
Dom Romero foi arcebispo de San Salvador por três anos. Um mês depois de ter assumido esse cargo, em março de 1977, era assassinado o padre Rutilio Grande, sacerdote jesuíta e grande amigo de Dom Romero. Atiraram nas costas dele e de dois agricultores, enquanto ia celebrar a missa.
Durante a celebração do funeral do padre Rutilio, Dom Romero mostrou o significado da sua morte, expressão de uma vida dedicada aos irmãos, no amor ensinado por Cristo, afirmando: "Esperamos a voz de uma justiça imparcial, porque, na motivação do amor, a justiça não pode ficar ausente, não pode haver verdadeira paz e verdadeiro amor com base na injustiça, na violência, na intriga". Dom Romero repetiria muitas vezes essa mesma ideia: a paz, a verdadeira paz só pode ser construída sobre a justiça social.
Quatro outros sacerdotes seriam assassinados em El Salvador depois da morte do padre Rutilio. Inúmeros foram os assassinatos cometidos pelas forças repressivas de El Salvador, entre agricultores, operários, pessoas dos vilarejos; o Socorro Jurídico do arcebispado publicava boletins periodicamente, dando números e denunciando a contínua violação dos direitos humanos.
Em Roma, onde recebeu palavras de apoio do Papa João Paulo II – que lhe disse: "Conheço a grave situação do seu país e sei que o seu apostolado é muito difícil" –, Dom Romero afirmava com grande lucidez no dia 30 de janeiro: "O maior perigo diante de tanta violência é que fiquemos insensíveis. Eu tento pensar diante de Deus que um só morto representa uma grave ofensa e que, todas as vezes que um homem ou uma mulher morre, é como matar novamente Jesus Cristo".
Dom Romero tinha uma consciência clara de que devia reconhecer os estigmas sofredores de Cristo nos rostos dos pobres do seu povo. A sua opção por eles é o ângulo concreto e histórico que nos permite compreender o seu compromisso e a sua mensagem, o seu apelo à paz baseada na justiça, a sua leitura do Evangelho.
Dom Romero pregava todos os domingos, e as suas amplas homilias (de uma a duas horas de duração) eram ouvidas com atenção em todo o país e também muito além. Cada homilia tinha três partes: um comentário sobre os textos da missa do dia, uma reflexão cristã que colocava esses textos no rastro de um tema determinado e, por fim, aplicações pastorais, leitura de cartas, análise da situação vivida pelo povo, denúncia das violações dos direitos dos mais pobres.
No dia 17 de fevereiro daquele ano, ele enviou uma carta ao presidente Carter, denunciando a situação existente em El Salvador e o apoio dos Estados Unidos, exigindo que o governo estadunidense, chamado a fazer essas intervenções, se abstivesse de intervir.
Dom Romero muitas vezes recebeu ameaças de morte. O assassinato dos sacerdotes salvadorenhos já era um aviso. No dia 24 de fevereiro, um mês antes da sua própria morte e depois de ter defendido com parcialidade evangélica os direitos dos pobres, ele dizia: "Espero que esse apelo da Igreja não endureça ainda mais o coração dos oligarcas, mas que, ao contrário, mova-os à conversão. Compartilhamos o que eles são e o que eles têm. Não nos calem, mediante a violência, a nós que tornamos presente essa exigência, não continuem a matar aqueles que estão tentando conseguir uma distribuição mais justa do poder e da riqueza de nosso país".
A essa clara denúncia, que não escondia aqueles aos quais se dirigia, ele acrescentava com serenidade e força: "Falo em primeira pessoa, porque esta semana recebi um aviso de que estou na lista daqueles que serão eliminados na próxima semana. Mas estou tranquilamente convicto de que nunca se poderá matar a voz da justiça".
A voz da justiça, não, porque ela continua ressoando em El Salvador. Mas ele, pessoalmente, sim, depois de quatro semanas de ter pronunciado essas palavras. Pode-se dizer, por isso, que Dom Romero arriscava a sua vida todos os domingos; e estava plenamente consciente disso.
Quando lhe disseram que ele tinha que se proteger, ele respondia que não queria ter a proteção que o seu povo não tinha. Ainda no sermão do dia 1º de novembro, ele tinha afirmado com toda a clareza e plena humildade: "Peço as orações de vocês para ser fiel à promessa de não abandonar o meu povo, mas de correr com ele todos os riscos que o meu ministério exige".
Com efeito, para Dom Romero, isso era cumprir o seu serviço como bispo. O exercício do seu ministério assumido com coragem e santidade provocou a bala assassina – uma única – no momento em que começava o ofertório da sua última e incompleta eucaristia, na segunda-feira, 24 de março.
Ele morreu para dar testemunho do Deus vivo na solidariedade com a vida e com os esforços de organização e de libertação dos pobres e dos oprimidos. Dom Romero não ignorava que havia alguns que não compreendiam as exigências do Deus da Bíblia.
No dia 9 de março, ele dizia: "Esta revelação do Deus vivo, caros irmãos, tem muita atualidade hoje, enquanto estamos tentando apresentar uma religião que muitos criticam como se se afastasse da sua espiritualidade".
O bispo mártir, homem de oração, não entendia isso dessa forma. Ao contrário, ele considerava que a fé no Deus de Jesus implica o compromisso com o pobre e com tudo o que exigem os seus direitos mais elementares. É por isso que, na sua rejeição humana e cristã da violência, nem tudo era posto no mesmo plano para ele.
Em inúmeras ocasiões, ele afirmou que a principal razão para aquilo que acontecia em El Salvador estava na secular situação de miséria e de desespero das grandes maiorias, resultado de um sistema opressivo feito em benefício de poucos.
Trata-se da violência e da injustiça institucionalizadas das quais falam Medellín e Puebla. A partir daí, não é possível aceitar tudo, e Dom Romero não o fez, mas importa levar isso em consideração para compreender a exigência e a encarnação do amor e da paz que ele pregava.
A essa situação de violência, soma-se uma repressão cruel. Plenamente consciente de onde vinha a violência, no dia 23 de março, Dom Romero lançou um grito angustiado e exigente: "Em nome de Deus e desse povo sofredor, cujos lamentos sobem ao céu todos os dias, peço-lhes, suplico-lhes, ordeno-lhes: cessem a repressão".
No dia seguinte, à noite, o seu sangue selou a aliança que ele tinha feito com o seu Deus, com o seu povo e com a sua Igreja.
No domingo, 30 de março, ocorreu o funeral do bispo mártir. O povo pobre de El Salvador, vencendo dificuldades e fadigas, veio de todo o país para assistir ao enterro do "monsenhor". Muitas pessoas vieram de fora, entre elas mais de 20 bispos de diferentes lugares do mundo.
O cardeal Corripio, do México, esteve presente em representação do papa; o enviado do Celam (o Conselho Episcopal Latino-Americano) teve um contratempo e não pôde estar presente na celebração. A tensão do momento fez com que só um bispo de El Salvador estivesse presente. Fato sem dúvida doloroso, mas que mostra a difícil e conflituosa situação que se vivia lá.
A poucos minutos do início da homilia do cardeal Corripio, explodiu uma bomba, e tiros foram disparados. Foi um pânico para as 150.000 a 200.000 pessoas presentes, famílias inteiras, inúmeras crianças. A soma dos mortos dessa incrível provocação foi de 30 a 40 pessoas, muitas delas por asfixia.
Na noite daquele domingo, os bispos presentes e outras pessoas se reuniram para pôr em comum o que tinham visto e tudo o que se sabia sobre o episódio durante o funeral. O resultado dessa análise detalhada foi escrito e assinado pelos participantes. Assim, recusou-se a versão dos fatos dada pelo governo salvadorenho e indicou-se o Palácio Nacional como o lugar de onde havia sido lançada a bomba e tinha se disparado sobre a multidão.
Dom Romero, então, só pôde ser enterrado nas circunstâncias em que o povo salvadorenho vive cotidianamente: no meio das balas, do medo que se busca incutir, mas também da reafirmação da vontade de libertação e de crescimento da esperança.
Dom Romero é um mártir da opção feita pela Igreja em Medellín e Puebla. A partir da sua morte, o significado dessa opção apareceria mais claramente. Um mártir que dá testemunho do Deus vivo em meio à morte que os opressores semeiam. Mártir do nosso tempo, cristão incômodo e forte, de vida clara, humilde e serena. A sua morte, infelizmente, não é um fato isolado e nos permitirá compreender muitas outras testemunhas espalhadas neste continente de dor e de opressão, mas também de libertação e de esperança, que é a América Latina.
Sobre o sangue dos mártires, constrói-se a Igreja como comunidade que anuncia na Ressurreição a vitória final. da vida sobre a morte. Sobre o sangue dos mártires, está sendo construída no nosso subcontinente uma Igreja em meio a um povo que luta pela sua libertação.
Dom Romero descrevia assim o seu trabalho, em uma homilia: "O meu trabalho consistiu em manter a esperança do meu povo. Se há um pouco de esperança, o meu dever é alimentá-la".
A sua vida e o seu martírio alimentam e aumentam as esperanças do povo pobre, explorado e cristão da América Latina, dão vida nova e impõem novas exigências para a Igreja ali presente.

17 de mai. de 2015

Dá nos um pouco da Tua àgua

                                      Júlio Lázaro Torma*
                                             " Para que todos sejam um"
                                                               ( Jo 17,21)
    A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é tradicionalmente celebrada entre os dias 18 e 25 de janeiro. Entre as festas da Cátedra de São Pedro e a Conversão de São Paulo,( hemisfério norte) e em torno de Pentecostes no hemisfério sul.
    Neste ano o tema é tirado do Evangelho de São João, do encontro de Jesus com a samaritana, no poço de Sicar, onde Jesus humildemente pede água;" Dá me de beber" ( Jo 4,7).
   O tema é proposto pelo CONIC ( Conselho de Igrejas Cristãs), que congrega as Igrejas Católica Apostólica Romana, Católica Síriana Ortodoxa, Presbiteriana Unida, Episcopal Anglicana do Brasil, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.
   Que vem ao encontro da oração de Jesus " para que todos sejam um" ( Jo 17,21) e como fala o Concílio Vaticano II, que a " oração é alma de todo o movimento ecumênico" ( UR 8).
   Dá nos um pouco da tua água, nos remete as palavras de Jesus, " Mas a água que eu lhes der virá a ser nele fonte de água, que jorrará até a vida eterna" ( Jo 4,14). Esta é a nossa sede a busca de Jesus e de vivermos a unidade dos discípulos de Jesus para sermos de fato um, como Ele e o Pai são.
    A unidade das Igrejas só acontecerá de fato quanto houver amor e acolhida entre a diversidades de religião, etnia e cultura.
   O povo brasileiro é conhecido pela cordialidade e também religioso, onde 86,8% da população se declará cristã.
    Mesmo tempo em que somos a maioria cristã da sociedade, vemos crescer atos que vão contra os princípios ensinados e vividos por Jesus, como a intolerância religiosa principalmente contra as religiões de matriz africanas e indigenas.
    Tais atos tem crescido nos últimos vinte anos praticados por fundamentalistas religiosos.
     O fundamentalismo e a intolerância religiosa são frutos do " mundanismo espiritual leva alguns cristãos a estar em guerra com outros cristãos que se interpõem na sua busca pelo poder, prestígio, prazer ou segurança econômica" ( E.G, 98).
    Enquanto isso a intolerância e a violência estatal e normativa cresce no país, como os atos racistas, xenofóbicos, a violência contra os homossexuais, mulheres, povos indígenas, extermínio da juventude negra e pobre das periferias das cidades, a violência no campo e a intolerância política e religiosa que tem dividido as famílias, pessoas e levado há óbito.
    Como podemos ser um país cristão se não vivemos de fato a mensagem de Jesus?, a intolerância religiosa e o fundamentalismo religioso destrói a mensagem de Jesus e cria uma antipatia naqueles que não conhecem Jesus e nem vivem a sua mensagem.
    Diante da intolerância religiosa nós cristãos discípulos de Jesus somos chamados a testemunhar o Amor de Deus para com a humanidade através da acolhida as mais diversas expressões religiosas, étnicas, culturais e de pensamento, pois o cristão é o mensageiro da Paz e do Amor.
    Mais uma vez o mundo nos pede testemunho e só haverá paz no Brasil e no mundo se houver paz entre as religiões.
     Pois como cristãos de diferentes tradições devemos dar o nosso testemunho de amor e de acolhida, ao mundo,pois como escrevia Tertuliano, sobre os primeiros cristãos, " Vede como se amam".
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  * Membro do colegiado da Pastoral Operária Nacional

16 de mai. de 2015

O pluralismo religioso como desafio para a teologia

fonte:  fteixeira-dialogos.blogspot.com.br
Faustino Teixeira
PPCIR-UFJF

O inclusivismo religioso tem raízes profundas e solidificadas na tradição teológica cristã. É muito difícil romper essa impermeável barreira que obstaculiza a abertura sincera para as outras tradições religiosos, no que elas tem de irredutível e irrevogável. Não há como honrar a singularidade das religiões mantendo uma perspectiva de superioridade, seja explícita ou mais sutil. Nesses últimos decênios temos verificado no âmbito da conjuntura eclesiástica católica uma crescente afirmação de posicionamentos que confirmam essa perspectiva restritiva. Vale mencionar a homilia proferida pelo papa Bento XVI na abertura da Assembléia Especial para o Médio Oriente, em 10 de outubro de 2010. O papa reconhece a presença de uma salvação universal, que passa porém por uma “mediação determinada, histórica: a mediação do povo de Israel, que depois se torna a de Jesus Cristo e da Igreja”. Há uma “porta” definida e necessária para que o evento da salvação aconteça de fato. Essa idéia é recorrente e firmada na tradição católico-romana, com um significativo aporte da reflexão teológica. São poucos os teólogos que se aventuram numa reflexão distinta, e aqueles que o fazem encontram duras barreiras para a continuidade de sua “livre” reflexão. Vivemos, infelizmente, um tempo marcado pela afirmação das identidades, e não da disponibilidade dialogal. O caminho tradicionalmente traçado vai na linha da exigência evangelizadora explícita, ou de uma nova evangelização, para tentar frear a crise que envolve o campo cristão nessa alvorada do terceiro milênio. A recente criação de um Pontifício Conselho para a Nova Evangelização é expressão desse novo momento, como uma exigência que deve animar corações e mentes.
Nós, que acreditamos num pluralismo de princípio caminhamos numa direção distinta. A idéia que nos anima é a do “inacabamento”. Estamos todos envolvidos numa “sinfonia sempre adiada”, para utilizar uma rica expressão de Christian Duquoc. Não há possibilidade de garantia alguma de posse da verdade ou do mistério. A verdade não é algo de que nos apropriamos como garantia, mas um mistério sempre aberto, pelo qual nos devemos deixar possuir (DA 49). Todas as religiões são “fragmentos” animados de forma diversificada por uma Presença Espiritual que é permanente surpresa. Trata-se de uma ilusão imaginar que cada um desses fragmentos está destinado a encontrar o seu acabamento numa dada tradição religiosa. Todos eles estão envolvidos pela maravilhosa liberdade do Espírito, que indica caminhos que são misteriosos e inusitados. Nada mais problemático que defender uma assimetria de princípio. Uma tal assimetria não consegue abarcar a “extraordinária diversidade das tradições” e muito menos honrar a dignidade da diferença. Na perspectiva defendida por aqueles que acreditam numa complementação, realização ou acabamento, o que há de valor nas outras tradições religiosas é sua “capacidade de abrir-se positivamente àquilo que ignoram”. Não se dá aí um respeito à sua identidade única e intransponível.
Para os que defendem um pluralismo de princípio, há uma convicção firmada de que Deus atua na história através de mediações distintas e diversificadas. E isso não prejudica em nada o compromisso que cada um deve assumir com a sua experiência específica de Deus. Como sublinhou Roger Haight, “a experiência cristã do que Deus fez em Jesus Cristo não se afigura diminuída pelo reconhecimento do Deus verdadeiro atuante em outras religiões”. Não há por que concentrar a mediação fundamental da presença salvífica de Deus numa única instância, ou numa única “porta”. O reconhecimento da verdade das religiões implica, necessariamente, uma abertura para percebê-las como canais verdadeiros da presença gratuita e misteriosa de Deus. As religiões são mediadoras da salvação de Deus. Se para o cristianismo a mediação basilar da presença e da salvação de Deus à humanidade vem identificada com a pessoa de Jesus, e isso define existencialmente e confessionalmente a perspectiva cristã, isso não exclui outras formas dessa mediação divina na dinâmica das outras religiões. A mediação pode ser ali um livro, um evento, um ensinamento ou uma práxis. Há, portanto, diversos caminhos de acesso ao Mistério maior, que os cristãos nomeiam como Deus. Há ainda que acrescentar que o reconhecimento da presença do Mistério Maior nos outros confere uma nova perspectiva para a identidade. Não há como firmar a identidade religiosa num tempo plural, excluindo o apelo que vem do mundo do outro. A fé cristã, por exemplo, como mostrou Adolphe Gesché, necessita de uma interface ou de um “lugar fora de sua residência” para o exercício de sua realização. Ela se vê hoje desafiada não apenas pelo diferenciado mundo das religiões, mas também pelo enriquecedor universo das distintas opções espirituais, sejam religiosas ou não.
 

15 de mai. de 2015

Vaticano anuncia reconhecimento da Palestina e defesa da solução de dois Estados

Israel se disse ‘desapontado’; Mahmoud Abbas será recebido pelo papa no sábado, véspera da canonização de duas freiras nascidas em território palestino
Por Opera Mundi
O Vaticano anunciou nesta quarta-feira (13/04) que vai reconhecer o Estado palestino e defender a solução de dois Estados para a resolução do conflito com Israel. O texto com a decisão, que ainda será assinado, pretende ajudar no reconhecimento de uma Palestina “independente”.
Israel, por sua vez, afirmou estar “desapontado” pela decisão do Vaticano, como afirmou o Ministério das Relações Exteriores. Para o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o acordo com os palestinos “não contribui para levar a Palestina para a mesa de negociações” pela paz.
No marco das relações entre Vaticano e Palestina, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, será recebido em audiência pelo papa Francisco no próximo sábado (16/05), na véspera da canonização de duas freiras nascidas em território palestino antes da criação do Estado de Israel.
Ainda não há prazo para que o texto — fruto de um acordo entre a Santa Sé e a OLP (Organização para a Libertação da Palestina) em 2000 — seja firmado, mas o Vaticano fala que isso ocorrerá em um “futuro próximo”. Segundo o comunicado da Santa Sé, o acordo fala sobre fomentar as bases para o funcionamento da religião católica no território.
O subsecretário do Vaticano para as Relações com os Estados, Antoine Camilleri, disse ao jornal L’Osservatore Romano que “seria positivo” que o acordo “pudesse ajudar” a “estabelecer e reconhecer um Estado Independente da Palestina, soberano e democrático”.
“Esta seria uma bela contribuição para paz e estabilidade em uma região que há tanto tempo esteve assolada por conflitos, e por parte da Santa Sé e da Igreja local desejamos colaborar em um caminho de diálogo e de paz”, acrescentou Camilleri.
Antecedentes
“A discussão é fruto do acordo base entre a Santa Sé e a OLP (Organização para a Libertação da Palestina), firmado em 15 de fevereiro de 2000.
O relacionamento oficial entre a Santa Sé e a OLP foi estabelecido em 26 de outubro de 1994 e, em seguida, foi constituída uma comissão bilateral permanente de trabalho que levou à aprovação do acordo de 2000″, explicou Camilleri a L’Osservatore Romano.
As negociações dessa etapa do acordo começaram a ser travadas em 2010, após a visita do então papa Bento XVI à Terra Santa, em 2009.
Camilleri também se referiu à adoção, em 29 de novembro de 2012, da resolução das Nações Unidas que reconheceu a Palestina como Estado observador não-membro. “No mesmo dia a Santa Sé, que também tem o estatuto de observador na ONU, publicou uma declaração que fazia referência à solução dos ‘dois Estados’”, afirmou.

8 de mai. de 2015

Ser discipulo do Amor

                              Júlio Lázaro Torma*
                                       " Deus é Amor"
                                             ( I Jo 4,8)
  No inicio do seu Evangelho o apóstolo João nos lembra as palavras de Maria para nós;" Fazei tudo o que ele vos mandar" ( Jo 2,5).
    Nos últimos finais de semana nos é apresentado por Jesus algumas revelações sobre Ele como o " Bom Pastor" ( Jo 10,11-18) e como a videira( Jo 15,1-8) e agora ele nos deixa o seu testamento espiritual,para a comunidade e todos aqueles que deverão futuramente segui-lo.
   O episódio acontece pelas ruas de Jerusalém e debaixo de alguma oliveira milenar do monte das oliveiras após a ceia pascal,pois de João 15,1-16,33 são as últimas  instruções antes da oração sacerdotal e da tragédia de sua paixão e morte violenta na cruz.
   No seu testamento Jesus nos pede para vivermos no seu Amor:" Amai-vos uns aos outros, assim como eu vós amei" ( Jo 15,13) e o mesmo evangelista João nos recorda que " Deus é Amor" ( I Jo 4,8).
   Onde a comunidade é chamada a viver e dar o seu testemunho de amor entre todos os homens, religiões, culturas e a criação.
   O fruto que a comunidade é chamada a produzir é o amor.Ora Jesus não quer uma adesão de servos que obedeçam a um senhor, mas uma adesão livre, de amigos e de irmãos.E a amizade é dom: Jesus é o amigo que dá a vida pelos amigos.A missão da comunidade não nasce da obediência a uma lei, mas do dom livre que participa com alegria da tarefa comum, que é testemunhar o amor de Deus que quer dar vida.
   Como podemos dizer que amo a Deus que não vejo, se não amo o irmão que vejo e que esta ao meu lado?
    Então falsa é a minha fé e como nos fala os apóstolos Tiago e João de que " a fé sem obras é morta" e " que não amemos com palavras e de boca, mas com ações e de verdade" ( Tg 2,26;I Jo 3,18),que exige que nós deixamos o nosso orgulho e o nosso " eu".
   Pois não existe amor maior do que dar a sua vida pelo irmão.Quando a gente ama, nós nos esvaziamos de nós mesmo, renunciamos pelo amor que temos e sentimos por aquela pessoa que nos afeiçoamos, como a mãe que renuncia a sua juventude e a sua vida pelo amor que nutre pelo seu fruto e que ama,amanta, alimenta,cuida, protege,renunciando vários momentos de sua vida.
   O verdadeiro cristão é o discípulo do amor, ele é movido por grandes sentimentos de amor e a exemplo de Jesus, ele se põe a serviço e é capaz de doar a sua vida pelos irmãos.
   Pois quem ama " nem o medo me detém.É hora de assumir.Morro por uma justa causa" ( Pe. Josimo Morais Tavares), se for possível defende a vida ameaçada pela perda de direitos e de melhores condições de vida,dando a sua própria vida.
   Um dos maiores gestos de amor é a política, não devemos nos eximir da nossa responsabilidade e participação política,se não participarmos ela será usada em beneficio próprio de alguns. Nós cristãos devemos dar o nosso testemunho de amor e serviço,pois o maior ato de amor é a política, a busca do bem comum para todos e não para si próprio.
    Faço um apelo ao governador Beto Richa e aos secretários estaduais, deputados estaduais e federais do Paraná,há todos os membros do PSDB que peçam publicamente perdão aos professores estaduais e que revejam ( conversão), de suas atitudes com os professores e a população paranaense e que dialogam com o seu povo.
   Amar é renunciar os nossos projetos, saber ceder e não nos impor ao outro,aceitar " perder" a si mesmo. Na vida conjugal, no namoro, pais e filhos, entre amigos e não nos esquecemos de que " eu quero você", seja prorrogado por um " eu quero que você seja você".
   Amar alguém como Cristo nos ama é muitas vezes a ajuda para nos libertar.Morte para o " eu",o sofrimento por vezes para atravessar, mas na fé que gera alegria.
   " Ao contrário, reconheçam o coração o Cristo como Senhor,estando sempre prontos a dar a razão de sua esperança a todo aquele que pede a vocês, mas com bons modos, com respeito e mantendo a consciência limpa.Assim,quando vocês forem difamados em alguma coisa,aqueles que criticam o bom comportamento que vocês têm em Cristo ficarão confundidos" ( I Pd 3,15-16). Amém.
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  * Membro do colegiado da Pastoral Operária