Por Marcos Cobra*
Fonte: http://envolverde.com.br
Gradativamente as empresas estão percebendo que investir em sustentabilidade é um bom negócio no médio e longo prazos. Em breve, será um bom negócio mesmo no curto prazo, pois a consciência por um mundo melhor, despoluído, faz bem às pessoas e economiza recursos do setor público na área de saúde. Isto está cada vez mais presente na mente das pessoas, enquanto consumidoras ou mesmo dirigentes públicos e privados.
Durante muitos anos, a indústria tabagista recolhia para o governo menos impostos do que ele gastava em seus hospitais e com previdência social. Ou seja, o malefício do tabaco era e é maior do que os benefícios tributários. Por esta razão, essas empresas já não gozam, como no passado, da simpatia do governante.
A própria legislação já não vê o fumante como um cidadão de primeira classe, banindo o fumo de ambientes públicos, fechados ou até mesmo abertos. Guindados à categoria de droga, os cigarros e as bebidas são vistos como inimigos de uma sociedade mergulhada em drogas e com problemas sociais, de segurança e de saúde .
Instaurou-se uma caça a bruxas, a produtos nocivos à saúde. E esta guerra não se restringe a produtos finais. Ao longo de toda a cadeia do processo produtivo, há uma preocupação com preservação e bem-estar das pessoas. O amianto, por exemplo, antes visto como um produto excelente na construção civil, na fabricação de telhas e caixas d’água, ganhou inimigos em quase todos os países do mundo, que travam uma batalha sem tréguas para eliminar esse produto cancerígeno. E a indústria do amianto corre tardiamente em busca de matéria-prima ou processo que substitua o amianto, sobretudo no segmento de construção civil.
Em meio a uma guerra declarada a drogas e aos produtos nocivos à saúde, as empresas, começam a abraçar a causa socioambiental, como a sua grande bandeira, na construção de uma sociedade com mais qualidade de vida e que projete para o seu negócio uma melhor imagem.
O marketing da sustentabilidade
O novo consumidor procura alimentos saudáveis e naturais e adota de vez a ideia de vida com saúde. Hoje, há uma busca por um comedimento alimentar, na qual a magreza é vista como uma nova virtude.
Portanto, muitas empresas precisam repensar seus negócios, antes que seja tarde e seus produtos emagreçam e virem pó, como aconteceu com os filmes fotográficos e cinematográficos analógicos em rolo da antigamente toda poderosa Kodak, diante das câmaras digitais. Foi ela quem inventou a câmera digital e o filme digital, mas manteve a invenção na prateleira, esperando um momento melhor, ou seja, tentando alongar ao máximo a vida útil do filme em celuloide. Antes tarde do que nunca é uma grande bobagem: a espera torna um produto obsoleto antes mesmo de ser lançado.
São negócios inteiros que se desfazem por falta de visão tecnológica e/ou mercadológica. Portanto, faz-se necessário pensar em sustentabilidade 24 horas ao dia.
As empresas devem ver o seu negócio dentro da aldeia global como um evento para um mundo melhor, aqui, agora e sempre. Temos novos mandamentos básicos neste novo mundo que precisa ser sustentável: preservar a água dos rios e nascentes, praias e lagoas, manter limpo o ar e o solo, e, sobretudo, não desmatar. E eles valem sobretudo para as grandes empresas que estão expostas diariamente ao consumo e enfrentam uma grande concorrência.
É preciso, no entanto, investir em comunicação para divulgar as ações preservacionistas que ajudarão a manter a imagem da empresa, sempre com bom conceito, junto a uma comunidade cada vez mais esclarecida e preocupada com a qualidade de vida.
Esta é uma ação que trás mais visibilidade para a empresa e, consequentemente, resultados de médio prazo nas vendas e, por decorrência, no lucro ao longo prazo. Por isso, investir em marketing – em todas as suas fases, da matéria-prima ao descarte, deve ser uma ação contínua, pois, se for esporádica, poderá ser inócua.
Quanto custa a sustentabilidade?
O custo de um marketing que inclua itens socioambientais e o valor dos produtos seriam sustentáveis? Em um artigo, Nizan Guanaes propõe uma resposta: “o sonho de consumo do brasileiro não é só o básico, é o luxo; a base da pirâmide não sonha em ser a base, mas sonha para cima”. (Manhã de Carnaval, Folha de S.Paulo, 21/2/2012, caderno B Mercado, p. B4.)
E na busca da realização de seus sonhos estaria o consumidor preocupado em consumir apenas produtos ecologicamente corretos? Talvez sim, talvez não.
O mercado brasileiro está preparado para estes produtos ecologicamente corretos? As pessoas estariam dispostas a pagar 20% a mais pelos produtos sustentáveis?
Segundo estudos do Instituto Akatu, os consumidores estão dispostos a pagar até 25% a mais por produtos ambientalmente amigáveis, pois ele sabe que vai ter de pagar a diferença de qualquer jeito, seja na hora da compra, seja no futuro, com a manutenção da saúde ou limpeza do meio ambiente.
O próprio Nizan Guanaes, no mesmo texto, arremata: “cada vez mais, o mundo quer ser brasileiro. Nosso estilo de vida agrada ao mundo. O Brasil não odeia ninguém. O Brasil não quer derrotar ninguém (menos no futebol, a Argentina). O Brasil é sorriso, e o mundo quer sorrir”.
Mas todos no planeta odeiam o Brasil, quando o assunto é o desmatamento da Amazônia.
Passos para a sustentabilidade
Sustentabilidade de acordo com a ONU é “o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”.
Isto implica mudança de postura empresarial. A seguir, sugerimos um roteiro.
1. A sustentabilidade deve ser uma busca contínua dentro da empresa. Mas “se uma empresa buscar ser 100% na sustentabilidade de imediato ela quebra”, afirma Albélio Dias, da Academia Mineira de Marketing.
<http://www.administradores.com.br/informe-se/entrevistas/marketing/se-uma-empresa-entrar-100-na-sustentabilidade-ela-quebra-diz-especialista-em-marketing/65/> Acesso: 24.fevereiro.2012, 17h45min
2. Eu digo, porém, que, se as empresas muito expostas não considerarem a sustentabilidade em seus planejamentos estratégicos, a probabilidade de quebra também existe e é grande. As menos expostas, provavelmente, demorarão mais a serem percebidas pelos clientes.
3. A busca pela sustentabilidade deve fazer parte da cultura da empresa, mobilizando funcionários, acionistas, fornecedores e consumidores. É sobretudo, um processo educativo.
4. A sustentabilidade deve ter início em um produto e depois se estender aos outros produtos da linha da empresa.
5. A sustentabilidade deve estar focada no negócio da empresa.
6. É preciso formar pessoas social e ecologicamente responsáveis.
7. Deve-se desenvolver pensamentos sustentáveis nos consumidores e fornecedores.
O hemisfério norte experimentou um desenvolvimento baseado na utilização de matérias-primas e mão de obra do hemisfério sul. Muitas vezes, esse uso foi abusivo, devastando grandes áreas florestadas e, o que é muito mais grave, destruindo grupamentos humanos.
A palavra sustentabilidade está na moda. As ações de sustentabilidade estão na primeira infância. O marketing socioambiental pode ajudar a acelerar o processo de amadurecimento.
* Marcos Cobra é professor da Universidad De La Empresa (UDE), Montevidéu, Uruguai; presidente do Instituto Latino-Americano de Marketing e Vendas (Ilam), São Paulo, SP; pós-doutorado na University of Texas System (UTS), Estados Unidos; mestre e doutor em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas, em São Paulo, onde foi professor e chefe do Departamento de Marketing; homenageado no Mkt Best 2011 pela sua contribuição ao marketing brasileiro como professor e profissional (http://www.ilam.com.br/).
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