Assis
(Itália) –
A primeira viagem a Assis de Jorge Bergoglio, como Papa, foi
acompanhada da tristeza pelos mortos de Lampeduza. Os imigrantes naufragaram
ontem (03/10) no sul da Itália.
Quando
Francisco chegou à terra de um dos santos mais amados da igreja, nesta sexta
(04/10), uma multidão esperava o primeiro papa que escolheu o seu nome. O Papa
abraçou crianças com deficiência e foi para a sala onde São Francisco se livrou
das vestes e renunciou aos bens materiais. Ali convocou a igreja a ser mais
humilde e a despojar-se das coisas do mundo.
“Hoje é
um dia de lagrimas”, declarou Francisco, referindo à tragédia de Lampeduza. “Ao
mundo não importa se as pessoas devem fugir da escravidão, da fome, buscando a
liberdade”, lamentou.
O Papa
aproveitou sua visita à cidade do santo italiano que inspirou o nome de seu
pontificado para pedir a paz no mundo, condenar a violência, as guerras e os
conflitos que atingem a Síria e o Oriente Médio.
Papa reza
no túmulo de São Francisco
“Ouçam o
grito dos que choram, sofrem e morrem devido à violência”, afirmou durante uma
concorrida missa celebrada na praça em frente à Basílica de São Francisco.
“Que
cessem os conflitos armados que ensanguentam a terra na Síria e no Oriente
Médio”, clamou. A partir de um altar de madeira, cercado por vários bispos e
por oito cardeais que o assessoram na reforma da Igreja, o Papa reiterou seu
pedido pela paz e pela harmonia no mundo.
Por
ocasião nesta sexta-feira da festa do padroeiro da Itália, o Papa ilustrou os
valores de São Francisco, que viveu na pobreza, convertendo-se também em
símbolo da paz.
“A paz
franciscana não é um sentimento doce. Este São Francisco não existe. E também
não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos. Isso também
não é franciscano”, explicou o Papa.
“O homem
está convocado a proteger o homem: que o homem esteja no centro, e não os
ídolos que criamos”, disse.
Em sua
chegada a Assis, o Papa se reuniu com 80 pessoas com deficiência física e
mental, a quem cumprimentou, conversou e abraçou pessoalmente.
MISSA NA
BASÍLICA DE SÃO FRANCISCO
Uma imensa multidão participou na
Missa celebra pelo Papa Francisco, em Assis, junto das basílicas do Santo. Na
homilia, o Papa evocou o exemplo concreto de São Francisco, com a sua “maneira
radical de imitar a Cristo”. “O amor pelos pobres e a imitação de Cristo são
dois elementos indivisivelmente unidos, duas faces da mesma medalha”, insistiu.
Qual é
hoje o testemunho que ele nos dá?, interrogou-se o Papa, observando que a
primeira coisa, a realidade fundamental de que São Francisco nos dá testemunho
é esta: ser cristão é uma relação vital com a Pessoa de Jesus, é revestir-se
d’Ele, é assimilação a Ele”. E isso “começa do olhar de Jesus na cruz”.
“Deixar-se
olhar por Ele no momento em que dá a vida por nós e nos atrai para Ele.
Francisco fez esta experiência, de um modo particular na pequena igreja de São
Damião, rezando diante do crucifixo.”
“Voltamo-nos
para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a permanecer diante do Crucifixo,
a deixarmo-nos olhar por Ele, a deixar-nos perdoar, recriar pelo seu amor”.
Um
segundo aspecto do testemunho de São Francisco recordado pelo Papa na sua
homilia foi o seguinte: “quem segue a Cristo, recebe a verdadeira paz, a paz
que só Ele, e não o mundo, nos pode dar”.
Ao
concluir a sua homilia, o Papa Francisco lançou um solene apelo à paz e ao
respeito pela criação: “Daqui, desta Cidade da Paz, repito com a força e a
mansidão do amor: respeitemos a criação, não sejamos instrumentos de
destruição! Respeitemos todo o ser humano: cessem os conflitos armados que
ensanguentam a terra, calem-se as armas e que, por toda a parte, o ódio dê
lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união. Ouçamos o grito dos
que choram, sofrem e morrem por causa da violência, do terrorismo ou da guerra
na Terra Santa, tão amada por São Francisco, na Síria, em todo o Médio Oriente,
no mundo”.
Este o
texto integral da homilia do Papa:
«Bendigo-Te,
ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e
aos entendidos e as revelaste aos pequeninos» (Mt 11, 25). A todos, paz e bem! Com esta saudação franciscana, agradeço-vos por terdes
vindo a esta Praça, cheia de história e fé. Para rezarmos juntos.
Como tantos outros peregrinos, também eu vim hoje, para bendizer o Pai por tudo
o que quis revelar a um destes «pequeninos» de que nos fala o Evangelho:
Francisco, filho de um comerciante rico de Assis. O encontro com Jesus levou-o
a despojar-se de uma vida cómoda e despreocupada, para desposar a «Senhora
Pobreza» e viver como verdadeiro filho do Pai que está nos céus. Esta escolha,
feita por São Francisco, constituía uma maneira radical de imitar a Cristo, de
se revestir d’Aquele que, sendo rico, Se fez pobre para nos enriquecer por meio
da sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). Em toda a vida de Francisco, o amor pelos
pobres e a imitação de Cristo pobre são dois elementos indivisivelmente unidos,
as duas faces da mesma medalha.
De que nos dá hoje testemunho São Francisco? Que nos diz ele, não com as palavras – isso é fácil –, mas com a vida?
De que nos dá hoje testemunho São Francisco? Que nos diz ele, não com as palavras – isso é fácil –, mas com a vida?
1. A
primeira coisa, a realidade fundamental de que nos dá testemunho é esta: ser
cristão é uma relação vital com a Pessoa de Jesus, é revestir-se d’Ele, é
assimilação a Ele.
De onde
começa o caminho de Francisco para Cristo? Começa do olhar de Jesus na cruz.
Deixar-se olhar por Ele no momento em que dá a vida por nós e nos atrai para
Ele. Francisco fez esta experiência, de um modo particular, na pequena igreja
de São Damião, rezando diante do crucifixo, que poderei também eu venerar hoje.
Naquele crucifixo, Jesus não se apresenta morto, mas vivo! O sangue escorre das
feridas das mãos, dos pés e do peito, mas aquele sangue exprime vida. Jesus não
tem os olhos fechados, mas abertos, bem abertos: um olhar que fala ao coração.
E o Crucifixo não nos fala de derrota, de fracasso; paradoxalmente fala-nos de
uma morte que é vida, que gera vida, porque nos fala de amor, porque é o Amor
de Deus encarnado, e o Amor não morre, antes derrota o mal e a morte. Quem se
deixa olhar por Jesus crucificado fica recriado, torna-se uma «nova criatura».
E daqui tudo começa: é a experiência da Graça que transforma, de sermos amados
sem mérito algum, até sendo pecadores. Por isso, Francisco pode dizer como São
Paulo: «Quanto a mim, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso
Senhor Jesus Cristo» (Gal 6, 14).
Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a permanecer diante do Crucifixo, a deixar-nos olhar por Ele, a deixar-nos perdoar, recriar pelo seu amor.
Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a permanecer diante do Crucifixo, a deixar-nos olhar por Ele, a deixar-nos perdoar, recriar pelo seu amor.
2. No
Evangelho, ouvimos estas palavras: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e
oprimidos, e Eu hei-de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de
Mim, porque sou manso e humilde de coração» (Mt 11, 28-29).
Esta é a segunda coisa de que Francisco nos dá testemunho: quem segue a Cristo, recebe a verdadeira paz, a paz que só Ele, e não o mundo, nos pode dar. Na ideia de muitos, São Francisco aparece associado com a paz; e está certo, mas poucos vão em profundidade. Qual é a paz que Francisco acolheu e viveu, e que nos transmite? A paz de Cristo, que passou através do maior amor, o da Cruz. É a paz que Jesus Ressuscitado deu aos discípulos, quando apareceu no meio deles e disse: «A paz esteja convosco!»; e disse-o, mostrando as mãos chagadas e o peito trespassado (cf. Jo 20, 19.20). A paz franciscana não é um sentimento piegas. Por favor, este São Francisco não existe! E também não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos… Também isto não é franciscano, mas uma ideia que alguns se formaram. A paz de São Francisco é a de Cristo, e encontra-a quem «toma sobre si» o seu «jugo», isto é, o seu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei (cf. Jo 13, 34; 15, 12). E este jugo não se pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas com mansidão e humildade de coração.
Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a ser «instrumentos da paz», da paz que tem a sua fonte em Deus, a paz que nos trouxe o Senhor Jesus.
Esta é a segunda coisa de que Francisco nos dá testemunho: quem segue a Cristo, recebe a verdadeira paz, a paz que só Ele, e não o mundo, nos pode dar. Na ideia de muitos, São Francisco aparece associado com a paz; e está certo, mas poucos vão em profundidade. Qual é a paz que Francisco acolheu e viveu, e que nos transmite? A paz de Cristo, que passou através do maior amor, o da Cruz. É a paz que Jesus Ressuscitado deu aos discípulos, quando apareceu no meio deles e disse: «A paz esteja convosco!»; e disse-o, mostrando as mãos chagadas e o peito trespassado (cf. Jo 20, 19.20). A paz franciscana não é um sentimento piegas. Por favor, este São Francisco não existe! E também não é uma espécie de harmonia panteísta com as energias do cosmos… Também isto não é franciscano, mas uma ideia que alguns se formaram. A paz de São Francisco é a de Cristo, e encontra-a quem «toma sobre si» o seu «jugo», isto é, o seu mandamento: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei (cf. Jo 13, 34; 15, 12). E este jugo não se pode levar com arrogância, presunção, orgulho, mas apenas com mansidão e humildade de coração.
Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: ensina-nos a ser «instrumentos da paz», da paz que tem a sua fonte em Deus, a paz que nos trouxe o Senhor Jesus.
3.
«Altíssimo, omnipotente, bom Senhor, (…) louvado sejas (…) com todas as tuas
criaturas» (FF, 1820). Assim começa o Cântico de São Francisco. O amor por toda
a criação, pela sua harmonia. O Santo de Assis dá testemunho do respeito por
tudo o que Deus criou e que o homem é chamado a guardar e proteger, mas
sobretudo dá testemunho de respeito e amor por todo o ser humano. Deus criou o
mundo, para que seja lugar de crescimento na harmonia e na paz. A harmonia e a
paz! Francisco foi homem de harmonia e de paz. Daqui, desta Cidade da Paz,
repito com a força e a mansidão do amor: respeitemos a criação, não sejamos
instrumentos de destruição! Respeitemos todo o ser humano: cessem os conflitos
armados que ensanguentam a terra, calem-se as armas e que, por toda a parte, o
ódio dê lugar ao amor, a ofensa ao perdão e a discórdia à união. Ouçamos o
grito dos que choram, sofrem e morrem por causa da violência, do terrorismo ou
da guerra na Terra Santa, tão amada por São Francisco, na Síria, em todo o
Médio Oriente, no mundo.
Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: alcançai-nos de Deus o dom de haver, neste nosso mundo, harmonia e paz!
Voltamo-nos para ti, Francisco, e te pedimos: alcançai-nos de Deus o dom de haver, neste nosso mundo, harmonia e paz!
Não
posso, enfim, esquecer que hoje a Itália celebra São Francisco como seu
Padroeiro. Disso mesmo é expressão também o gesto tradicional da oferta do
azeite para a lâmpada votiva, que este ano compete precisamente à Região da
Úmbria. Rezemos pela Nação Italiana, para que cada um trabalhe sempre pelo bem
comum, olhando mais para o que une do que para o que divide.
Faço minha a oração de São Francisco por Assis, pela Itália, pelo mundo: «Peço-Vos, pois, ó Senhor Jesus Cristo, pai das misericórdias, que Vos digneis não olhar à nossa ingratidão, mas recordai-Vos da superabundante compaixão que sempre mostrastes [por esta cidade], para que seja sempre o lugar e a morada de quantos verdadeiramente Vos conhecem e glorificam o vosso bendito e gloriosíssimo nome pelos séculos dos séculos. Amen» (Espelho de perfeição, 124: FF, 1824).
Faço minha a oração de São Francisco por Assis, pela Itália, pelo mundo: «Peço-Vos, pois, ó Senhor Jesus Cristo, pai das misericórdias, que Vos digneis não olhar à nossa ingratidão, mas recordai-Vos da superabundante compaixão que sempre mostrastes [por esta cidade], para que seja sempre o lugar e a morada de quantos verdadeiramente Vos conhecem e glorificam o vosso bendito e gloriosíssimo nome pelos séculos dos séculos. Amen» (Espelho de perfeição, 124: FF, 1824).
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