Um novo relatório ressalta que que são
necessárias mais investigações para conhecer os 'pontos sem retorno',
além da criação de um sistema de alerta. Artigo de Fernanda B. Müller
Fonte: Instituto Carbono Brasil
As mudanças
climáticas têm desencadeado temores que, dentro de algumas décadas ou
mesmo anos, a atmosfera, os oceanos e a superfície terrestre sofram
modificações sistemáticas, deixando pouco tempo para que a sociedade e
os ecossistemas se adaptem
As mudanças climáticas têm desencadeado temores que, dentro de algumas
décadas ou mesmo anos, a atmosfera, os oceanos e a superfície terrestre
sofram modificações sistemáticas, deixando pouco tempo para que a
sociedade e os ecossistemas se adaptem.
Um novo relatório
do Conselho Nacional de Investigação, dos Estados Unidos, sugere que
mesmo alterações graduais no sistema climático podem ter impactos
abruptos – por exemplo, na infraestrutura humana e nos ecossistemas – se
limiares críticos forem ultrapassados.
Assim, precisam ser desenvolvidos sistemas de alerta para ajudar a sociedade a prever mudanças súbitas e impactos emergentes.
“As investigações ajudaram-nos a começar a distinguir ameaças mais
iminentes daquelas que têm menor probabilidade de acontecer neste
século”, comentou James W.C. White, professor de Ciências Geológicas da
Universidade de Colorado, Boulder, e presidente do comité que escreveu o
relatório.
“Avaliar as mudanças climáticas e os impactos em relação à sua
magnitude potencial e à probabilidade de materialização ajudará os
legisladores e comunidades a tomarem decisões informadas sobre como se
preparar ou se adaptar a elas.”
Alterações abruptas e os impactos já atuantes são o que mais preocupa
imediatamente, coloca o relatório, como o desaparecimento do gelo no
final do verão ártico e o aumento nas taxas de extinção de espécies
marinhas e terrestres.
Outros cenários, como a desestabilização das geleiras no oeste da
Antártica, têm consequências potencialmente enormes, mas a probabilidade
de ocorrerem no próximo século não é bem compreendida, enfatizando a
necessidade de mais investigações.
Em alguns casos, o conhecimento científico evoluiu o suficiente para
determinar se certos impactos significativos devem ocorrer no próximo
século. O estudo nota que agora se sabe que eventos como a estagnação
dos padrões de circulação oceânica no Atlântico ou uma libertação rápida
de metano do permafrost (solo congelado) em altas latitudes ou do gelo
submerso são improváveis neste século – mas continuam preocupantes em
longo prazo.
Entretanto, mesmo mudanças no sistema físico-climático que acontecem
gradualmente, ao longo de muitas décadas ou séculos, podem causar
alterações ecológicas e socioeconómicas a partir do momento em que o
‘ponto sem retorno’ (‘tipping point’) for alcançado.
Por exemplo, o aumento do nível dos oceanos, mesmo que relativamente
lento, pode afetar diretamente a infraestrutura local, como estradas,
aeroportos, oleodutos ou sistemas de metropolitanos. Um incremento suave
na acidez ou na temperatura do oceano pode superar níveis além dos
quais as espécies não podem sobreviver, levando a mudanças irreversíveis
e rápidas nos ecossistemas, que contribuem para ampliar os eventos de
extinção.
Mais investigações e a monitorização dos sistemas climático,
ecossistémico e social devem ajudar a fornecer informações sobre a
iminência ou materialização do ‘ponto sem retorno’.
“No momento, não sabemos identificar muitos destes limiares”, comentou White.
O relatório identifica várias investigações necessárias, como a
identificação de espécies chave, que no caso de um declínio populacional
teriam efeitos em cascata sobre os ecossistemas e as provisões humanas.
Se a sociedade espera prever estes ‘pontos sem retorno’, é necessário o
desenvolvimento de um sistema efetivo de alerta para mudanças abruptas,
nota o relatório, o que incluiria uma monitorização cautelosa e
vigilante. Além disso, seria preciso aproveitar os sistemas de satélite
existentes e modificá-los se necessário, ou criar novos sistemas quando
viável.
O Conselho Nacional de Investigação é a principal agência operacional
da Academia Nacional de Ciências e da Academia Nacional de Engenharia
dos Estados Unidos.
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