12 de nov. de 2011

Todos caem

O resultado político linear da crise iniciada nos idos de 2008 é simples: todos caem.
Eurodeputado, 
dirigente do Bloco de Esquerda, jornalista.
Não há governo que se aguente, ponto. Na semana passada, caiu o governo grego, ainda este mês o de Zapatero dará lugar a um novo governo de direita. Não se pense, contudo, que só caem os governos de partidos socialistas. Na Dinamarca foi a direita que perdeu e a Itália provavelmente já não terá Berlusconi quando este jornal lhe chegar às mãos. O resultado político linear da crise iniciada nos idos de 2008 é simples: todos caem.
Comecemos pela crise: a traços grossos, ela foi financeira, o que levou os Estados a intervir. Recursos e garantias públicas foram mobilizadas para salvar os bancos da falência e para moderar os efeitos da recessão que durou todo o ano de 2009. Por causa dessa enorme drenagem de recursos públicos para o sector privado, os Estados viram aumentar os seus défices e níveis de endividamento ao longo de 2009 e 2010. A cegueira e a vontade de desforra dos ultra-liberais determinou que os Estados abandonassem ao longo de 2010 as almofadas anti-recessivas que, apesar de tudo, haviam aplicado no ano anterior. O relançamento das economias ficou assim hipotecado. Os países com economias exportadoras mais fortes safaram-se, mas os outros tramaram-se. É aqui que a crise financeira se metamorfoseia em crise das dívidas soberanas. Ao longo de todo o ano de 2010, os líderes políticos europeus recusaram-se a ver o que estava à frente do seu nariz – que a crise não era da Grécia, nem de Portugal, nem sequer da Irlanda, mas sim do euro, ou mais precisamente, da sua arquitectura, do modo como foi desenhado, sem um verdadeiro Orçamento europeu que o garantisse, sem Tesouro e sem um Banco Central Europeu capaz de agir emprestando aos Estados da zona euro e não apenas aos bancos. Ainda hoje, para lá de todas as evidências, a liderança europeia continua a dizer que não há nenhum problema com a moeda, mas sim com a indisciplina dos “incumpridores”. E, consequentemente, os remédios que inventa só têm como propósito a punição de quem está em dificuldades.
Nenhum governo se aguentará na Europa. Uns atrás dos outros, todos marcaram encontro com o destino. Por um lado, esta é uma boa notícia. Já não há mais governos socialistas para cair. A partir de fim de Novembro, são os de direita que começarão a ruir como um castelo de cartas. Mas por outro lado, esta é uma fraca novidade. Porque não é de esperar dos novos governos uma atitude decidida contra os especuladores financeiros. Na verdade, a Europa respira quando se vê livre de Berlusconi. Em 2012 embriagar-se-á com a partida de Sarkozy e não são de excluir eleições na própria Alemanha. Mas à velocidade a que a crise avança, tudo isto corre o risco de ser pouco mais do que uma mão cheia de nada.

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