11 de nov. de 2011

Amizade verdadeira.


Um amigo é dos bens mais preciosos que a vida nos pode conceder. Sem amigos é impossível viver e, direi mesmo, sem amigos é impossível crescer.
O verdadeiro amigo não nos abandona no momento do perigo e não nos deixa morrer só, nem mesmo na hora derradeira da nossa vida. Este caso que vou contar, e muito conhecido, é paradigmático disto mesmo. Depois de um combate encarniçado, os soldados fugiram, perante o avanço do inimigo, mas um ficou para trás, gravemente ferido.
– O meu amigo não regressou do campo de batalha. Solicito permissão para ir buscá-lo! - disse um dos camaradas de combate ao comandante de pelotão.
– Permissão negada! – respondeu o oficial – Não quero que arrisque a sua vida por um homem que certamente já morreu!
O soldado, não fazendo caso da ordem do oficial, saiu à socapa, regressando uma hora depois gravemente ferido, mas transportando o cadáver do seu amigo. O oficial estava furioso e disse-lhe:
– Agora, para além de ter perdido um homem, fiquei com outro inutilizado. Digame, valeu a pena arriscar a sua vida para chegar aqui com um cadáver?
– Sim, meu capitão! – respondeu o soldado – Porque quando cheguei ainda o encontrei vivo e as últimas palavras que me disse enquanto morria nas minhas mãos foram estas: «Amigo, eu sabia que tu vinhas!»
Eis um exemplo da verdadeira amizade. Um amigo que arriscou a vida pelo seu amigo.
Efetivamente, amigo é aquele que nos estende a mão quando lhe dizemos: “Preciso de ti!”. Sim, amigo é aquele que não nos abandona quando já todos nos esqueceram.
Amigo é aquele que não avança sem nos dar a mão, quando tropeçamos e ficamos para trás, como poderemos verificar neste exemplo comovente que se passou há uns anos atrás nas Olimpíadas especiais de Seatle: Nove participantes, todos com deficiência mental ou física, alinharam-se para a corrida dos 100 metros rasos.
Ao sinal, todos partiram excepto um garoto que tropeçou no asfalto na arrancada e, sangrando dos seus joelhos, começou a chorar. Os outros oito participantes, ouvindo o choro, voltando-se para trás e vendo o que se passou, pararam a corrida e correram a ajudar. Uma das meninas, com o Síndroma de Down, ajoelhou, deu um beijo
no garoto e disse: “Pronto, agora vai sarar!”. E todos os nove competidores deram os braços e correram juntos até à linha de chegada. O estádio levantou-se em peso e os aplausos duraram dois minutos. O que é então a amizade, senão o amparar o outro na queda, tomando consciência de que o que importa mesmo, nesta vida, mais do que ganhar sozinho, é ajudar o outro a vencer, mesmo que isso signifique diminuir o passo e até mudar o curso? Esse é o autêntico sentido da amizade.
Mesmo que isso signifique até carregar o outro aos ombros, como o fez aquele soldado ou como fez também certa menina, que na rua, caminhando com uma criança
nas suas costas, foi interpelada por alguém que admirou aquele fardo pesado em corpinho tão pequenino e frágil – Minha menina, levas um fardo muito pesado!
Ela, olhando o viajante respondeu: – Não é um fardo, é meu irmão!
As palavras daquela corajosa criança ficaram gravadas no coração do viajante. E se a dor dos homens nos abate e toda a coragem nos falta, na hora de os carregar aos ombros, que as palavras desta criança nos lembrem: “Não é um fardo que carregas, é teu irmão...” Não há fardo que não se consiga levar, nem há obstáculo que não se consiga ultrapassar, se a amizade for a norma da nossa vida. E aí até se consegue o impossível, como aquele paralítico que sugeriu ao seu amigo cego que o levasse às costas, propondo-se ser os seus olhos se o cego aceitasse ser as suas pernas. Fizeram-se bengala mútua e, vencendo as suas dificuldades, ninguém os impediu de ir a qualquer lado.
Mas, se nos maus momentos, aquele que se diz nosso amigo nos abandona, então tenhamos a certeza de que nunca o foi, porque assim foi Judas com o seu amigo
Jesus Cristo a quem entregou com um beijo. Ou então como o caso da parábola
seguinte: Dois amigos atravessavam uma floresta. Um urso veio atrás deles e, enquanto fugiam, um caiu e o outro subiu para uma árvore mais próxima, sem ajudar o companheiro. O urso chegou-se ao que estava no chão, mas, como este não se mexia, o urso cheirou, lambeu mas, pensando que ele estava morto e, como já devia estar de barriga cheia, foi-se embora. Quando o urso desapareceu, o amigo da onça que estava na árvore perguntou:
– Quando o urso se aproximou de ti parecia que estava a falar. Que te disse?
– Disse-me que nunca me fiasse de amigos como tu – respondeu o outro.
Caros amigos e leitores do JMF, a vida tem-nos demonstrado à saciedade que,quando tudo nos corre bem, não faltam amigos, mas, quando surgem as dificuldades (doença, miséria, desgraça, perigos, etc…), aí a seleção torna-se natural e descobrimos os verdadeiros.
Há, no entanto, um Amigo que não nos abandona, e de Esse nós podemos fiar nos porque, mesmo quando éramos seus inimigos, Ele deu a Sua Vida por nós.
Esse Amigo é Jesus Cristo, que nos convida a encontrar n`Ele alívio para as nossas dores e para os nossos fardos, a descobrir na mansidão do seu coração e no conforto do seu peito, o segredo da verdadeira amizade, daquela amizade do jovem soldado que não abandonou o amigo no campo de batalha; ou daqueles deficientes que voltaram para trás para trazer o companheiro caído na pista de competição; ou como a amizade daquela menina que carregava o irmão e não um fardo; ou ainda como aquele cego e aquele coxo que descobriram na amizade da partilha do que tinham de bom a forma de suplantar as rasteiras da vida que os tinham deixado com dramáticas limitações.
Fonte: Jornal Missão franciscana Edição de setembro/Agosto/2011.
Frei José Dias de Lima, OFM ( Provincia de Portugal)

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