30/03/2012
- Autor: Fabiano Ávila
- Fonte: Instituto CarbonoBrasil/UNU-IHDP
Indicador de Riqueza Inclusiva, que será apresentado por completo na RIO+20, mostra que o crescimento do Produto Interno Bruto brasileiro entre 1990 a 2008 foi resultado da exploração de seus estoques de florestas e recursos minerais
Os
países emergentes conseguiram nos últimos anos se esquivar das crises
econômicas e apresentaram bons números de crescimento. Porém, o aumento
do Produto Interno Bruto (PIB) dessas nações teve um custo que pode
acabar sendo muito alto, a exploração abusiva da biodiversidade e dos
recursos minerais.
Por exemplo, a riqueza brasileira medida pelo PIB entre 1990 e 2008
aumentou 34%, mas no mesmo período o capital natural teria caído 46%. Se
todos os fatores sociais, ecológicos e manufaturados fossem levados em
conta, o “crescimento real” do Brasil seria de apenas 3%.
Essa nova maneira de calcular o crescimento é justamente o grande
objetivo do “Indicador de Riqueza Inclusiva”, criado pelo Programa
Internacional de Dimensões Humanas da Universidade das Nações Unidas
(UNU-IHDP).
“Um país pode exaurir completamente todos os seus recursos naturais e
ainda assim apresentar dados positivos de PIB. Precisamos de um
indicador que estime a riqueza das nações – naturais, humanas e de
manufatura -, e que leve em conta inclusive os constituintes sociais e
ecológicos do bem-estar humano”, explicou Anantha Duraiappah, diretor
executivo do UNU-IHDP.
A prévia dos resultados desse novo indicador foi apresentada nesta quarta-feira (28) em Londres, durante a conferência “Planeta sob Pressão”, sendo que os dados completos serão divulgados em junho na Rio+20.
Outro país destacado pelos autores do indicador foi a Índia, que
apresentou um crescimento do PIB ainda maior que o brasileiro entre 1990
e 2008, 120%, mas ao custo da perda de 31% de seu capital natural. O
verdadeiro avanço do país seria de apenas 9%.
“O trabalho com o Brasil e a Índia ilustra porque o PIB é inadequado e
enganador como um índice de progresso econômico para uma perspectiva de
longo prazo”, afirmou Duraiappah.
O relatório a ser apresentado na RIO+20 analisará o crescimento de 20
países: Austrália, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Equador,
França, Alemanha, Índia, Japão, Quênia, Nigéria, Noruega, Rússia, Arábia
Saudita, EUA, Reino Unido e Venezuela. Juntos, eles produzem 72% do PIB
mundial e abrigam 56% da sua população.
“Nosso objetivo é oferecer aos governos relatório bianuais para
facilitar a transição para a chamada economia verde, criando as bases de
produtividade e sustentabilidade do futuro”, disse Duraiappah.
“Até que os padrões de medida que a sociedade utiliza para mensurar o
progresso sejam transformados para capturar elementos de
sustentabilidade, o planeta e seus povos continuarão a sofrer com o peso
de políticas de crescimento em curto prazo”, completou Pablo Muñoz,
diretor científico do relatório.
De acordo com Yvo de Boer, ex-presidente da Convenção Quadro das
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), as empresas também
devem mudar seus indicadores.
“Devido à escassez de recursos, aumento dos preços dos alimentos,
problemas de segurança energética e o crescimento populacional, as
empresas estão sendo desafiadas a melhorar suas estratégias e modelos de
negócios”, disse de Boer. “Felizmente, já existe uma tendência para
incrementar e fortalecer os sistemas de informação e relatórios de
sustentabilidade.”
Os dados do “Indicador de Riqueza Inclusiva” coincidem com um comunicado
divulgado em fevereiro pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada
(Ipea), que apontava para a alta participação dos setores de uso
intensivo de recursos naturais na economia brasileira.
O quadro geral que o Ipea passou foi que o Brasil é um fornecedor de
commodities para o mercado global. Assim, o país arca com os passivos
ambientais das atividades de uso intenso dos recursos naturais e ainda
gasta para importar bens produzidos com a nossa matéria-prima no
exterior.
Imagem: Gráfico mostra os
diferentes fatores do crescimento, com o PIB sendo apresentado em azul
claro e o Indicador de Riqueza Inclusiva em azul escuro / UNU-IHDP
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