Júlio Lázaro Torma*
" Ali o crucificaram,ele outros dois,um de cada lado"
(
Jo 19,18)
Nesta Sexta-Feira da
Paixão, vivemos o maior dos Mistérios que é a Entrega, Paixão e Morte de
Jesus Cristo, que veio ao mundo em forma humana para nos Libertar e
limpar com seu sangue de toda culpa e mancha do pecado de Adão ( Gn 3).
Não devemos fazer da Sexta-Feira da Paixão, um mero espetaculo,
assistir a representação de algo passado, fazer do dia um feriado a mais
do calendário ou se panturrar de peixes e frutos do mar no almoço e na
janta. Enquanto outros do nosso lado não tem o que comer durante o ano.
Devemos viver, mergulhar fundo no mistério.Vamos viver como
estivéssemos em Jerusalém e no monte Calvário naquela trágica
Sexta-Feira véspera da Festa da Páscoa.
Se te perguntares a onde vais e de onde vens?, responda do Monte Calvário, te deixe envolver
no maior gesto de Amor que alguém pode dar e que um Deus pode dar que é a sua própria vida para libertar a humanidade.
Neste dia Santo vamos meditar no oficio da Paixão, onde as comunidades
joaninas, nos apresentam os últimos momentos da vida de JESUS EM NOSSO
MEIO COMO SER HUMANO.
Mais uma vez
ele é rejeitado pela sociedade, por pessoas de " bem", gente honrada,
honesta, integra.Pessoas que deveriam recebe-lo, mas não o fazem.Assim
foi toda a vida de Jesus ele não viveu em mansões, palácios, não morou
em Jerusalém ou Roma.
Nasceu
rejeitado numa gruta na fria noite de Belém e morre de forma trágica,
humilhante fora dos muros de Jerusalém.Onde morreu numa cruz, como "
amaldiçoado por Deus"( Dt 21,23; Gl 3,13). Sofreu uma morte injusta e
cheia de contradições, onde sofreu um falso julgamento sem comparação
na história da humanidade e do próprio poder judiciário.
Ele morre na periferia longe do poder religioso, político, econômico
que o mata no Calvário, morre na periferia da capital de sua terra e na
periferia do mundo.
Nasceu, viveu e
morre na periferia longe do poder, mostrando qual é a sua opção de vida,
em meio dos pobres, gente desprezada e para os pobres.
Foi acolhido pelos pastores, naquela noite de Belém e morre no meio de dois ladrões, como um perigoso deliqüente.
Se naquela fria noite de Belém, as trevas se tornam luz, ao meio dia as
trevas cobrem o dia, numa " longa noite escura"( São João da Cruz),
onde acontece o duelo entre a vida e a morte, entre a luz e as trevas,
bem e o mal.
Onde as forças da morte, do mal e as
trevas vencem o bem, a luz e a vida numa vitória aparente, onde a Vida se renascerá com mais força sobre a morte.
Ao olharmos o Crucificado e ao seu redor, somos chamados, como ele fez
as piedosas mulheres, no caminho da cruz, a dura realidade ( Lc
23,27-28) e como Pôncio Pilatos a tomar partido de que lado realmente
estamos?
mitos dirão, estou do lado
de Jesus, amo Jesus, creio em Jesus e daria a minha vida por ele.Falar
não adianta, cadê a prática?, crer em Jesus, até o diabo e os demônios
crêem e o temem.Ou somos como aqueles que diante de Pilatos gritam "
crucifica-o!"
Há um tempo apareceu
na comunidade de relacionamento orkut, uma comunidade: " Jesus deve
apanhar mais" e que " Jesus deveria sofrer mais'.Todos nós de bom censo
ficamos indignados com aquele gesto blasfemo independente de
denominação,
religião,gênero ou cores partidárias.
Do alto da cruz, Jesus nos interpela:" vos todos, que passais pelo
caminho, olhai e julgai se existe dor igual a minha"( Lm 1,12).
Vivemos num mundo de crucificados, onde Jesus se faz presente em cada
rosto sofrido( Mt 25,31-46), quantas vezes passamos por ele e desviamos o
nosso olhar( Is 53,2-3)?,pois o seu olhar nos agride e faz com que
tenhamos culpa.
Tapamos os nossos
ouvidos ao seu grito, sem parar nos chamando a nossa conversão.Mesmo
diante da dor dos crucificados, vemos que o poder dominante do
capitalismo e neoliberalismo, divide as vitimas.Fazendo como aquele
ladrão que insultava Jesus na hora da morte( Lc 23,39).
Em nossa época não é só o ser humano que é crucificado, vitima da
violação dos direitos humanos, das
violências normativas e estatais,pobreza,miséria,preconceitos de toda
espécie, tráfico humano, exploração sexual,pedofilia,
drogadição,pornografia,precarização do trabalho,desemprego, falta de
terra, saúde,moradia,vestuário e alimentação, bem como a criação que "
geme e sofre como dores de parto"( Rm 8,22).
Eis que nós por omissão e atos crucificamos e ajudamos a crucificar Jesus que ainda sofre no nosso irmão.
Como escreve o poeta Francisco Lobo da Costa ( 1853-1888), " São horas
de tristeza! Solene nostalgia, Amente encurva, aos bates do frio
coração."Nosso coração frio se encontra diante da dor e do sofrimento de
nossos irmãos e de CRISTO.
Onde
nesta hora em que o Senhor, fonte de vida na cruz morre, para nós salvar
e lavar nos de toda culpa de filhos de Adão; em toda a terra se
entristece, a
onde " campina no luto se envolveu...São horas...escurece...o bosque é
triste" e a ' lua esconde-se a tremer saudosa,Qual branca ruga no arcal
do céu"( Francisco Lobo da Costa).
Jesus na cruz morre de braços abertos, para nos acolher e mostrar a
grandeza de seu Amor para com a humanidade.ele com seu gesto de Amor,
une o homem a Deus,restabelecendo a Aliança entre o homem e Deus e a
criação que fora quebrada pelo pecado que nos oprime.
Ao olharmos Jesus na cruz, nos perguntamos se somos a multidão que
assiste ao longe um espetaculo( Lc 23,48)?, Ou somos Maria e João,
discípulos que vão até o fim e que são solidários aos irmãos que mais
sofrem e que estão ao pé da cruz o consolando e confortando na sua dor e
sofrimento?
" E agora que resta ao triste?
Aqui
as sombras da herdade
E uma flor triste-a saudade
Brotando aos pés da cruz!"
( Francisco Lobo da Costa)
No Silêncio da longa noite escura nós esperamos e temos a certeza da Ressurreição.
Jo 18,1-19,42
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* Membro da Equipe Arquidiocesana da Pastoral Operária de Pelotas/ RS
* Membro da Equipe Arquidiocesana da Pastoral Operária de Pelotas/ RS
Um comentário:
Pela evangelização da Ásia!
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