Os donos da boate Xingu e aliciadores responderão à ação criminal na Justiça Federal em Altamira
25/03/2013
O
Ministério Público Federal denunciou seis pessoas ligadas ao caso da
Boate Xingu, pelos crimes de trabalho escravo, tráfico de pessoas,
exploração sexual, corrupção de menor e formação de quadrilha. Os
acusados foram identificados pelas vítimas libertadas da boate em
fevereiro, depois de operação da Polícia Civil do Pará.
A
boate ficava nas proximidades dos canteiros de obras da usina de Belo
Monte. O MPF instaurou uma investigação separada para apurar a denúncia
de que a exploração sexual ocorria dentro da área declarada de utilidade
pública pelo Governo Federal para a construção da usina hidrelétrica.
A
denúncia já foi recebida na sexta-feira (22) na Justiça Federal de
Altamira, o que significa que as acusações do MPF tem fundamentos e os
acusados se tornaram réus em ação criminal. O caso vai tramitar na
esfera federal porque o crime de trabalho escravo é de competência
federal. As nove vítimas só foram libertadas após a fuga de uma menor de
idade que também foi traficada do sul do país e era impedida de sair da
Boate Xingu.
Claci de Fátima Morais da Silva,
Adão Rodrigues, Solide Fátima Triques, Moacir Chaves, Carlos Fabrício
Pinheiro e Adriano Cansan podem ser condenados a penas que, somadas,
variam entre 1 e 30 anos de prisão. Claci era a proprietária de uma
boate em Santa Catarina, onde aliciou as mulheres, com apoio de Moacir
Chaves, prometendo que elas ganhariam até mil reais por dia trabalhando
na barragem.
As vítimas foram levadas de van de
Santa Catarina até Altamira, uma viagem de cerca de 4 mil quilômetros.
Ao chegarem na boate, foram recebidas pelo acusado Adão Rodrigues e pela
mulher dele, Solide Fátima Triques. Elas foram colocadas em quartos
precários, alguns com trancas do lado de fora. Adão e Solide estão
presos desde fevereiro em Altamira.
“Além da
precariedade das instalações, as vítimas foram colocadas em quartos sem
janela e sem ventilação, o que se torna desumano, quando considerarmos
as temperaturas locais e o fato de que o gerador de energia era mantido
desligado após encerramento das atividades da boate”, diz a denúncia do
MPF.
“Da esperança de lucro fácil, as vítimas
tornaram-se objeto do lucro alheio. Além do aluguel do quarto em que
dormiam, a cada programa pagavam comissão à Boate. Adquiriam os produtos
que necessitavam, em regra, diretamente dos denunciados, em cantina da
própria Boate, sendo obrigadas a se sujeitar a pagar, por exemplo, 5
reais por uma lata de refrigerante”, segue a narrativa, confirmada por
depoimentos das vítimas.
As mulheres eram
vigiadas para não saírem do local por Carlos Fabrício Pinheiro, gerente
da boate, e Adriano Cansan, que atuava como garçom e segurança. Os dois
também estão presos em Altamira. O MPF pediu a prisão preventiva de
Claci e Moacir, que ainda não foram encontrados. O processo tramita na
Justiça Federal de Altamira, com o número 0000297-16.2013.4.01.3903.
Conheça as acusações contra cada um dos denunciados:
Adão
Rodrigues, proprietário da Boate Xingu, firmou acordo para trazer as
vítimas da região sul, visando explorá-las sexualmente com intuito de
lucro. Financiou o deslocamento. Participava diretamente da gestão da
Boate e restringiu a locomoção das vítimas em razão de dívida contraída.
Claci
De Fátima Morais da Silva, aliciadora, responsável pela escolha e envio
das vítimas para a Boate Xingu. Tem como atividade habitual a
exploração da prostituição com o fim de lucro. Firmou acordo com o
denunciado ADÃO para ganhar um percentual sobre o faturamento da Boate.
Tinha a confiança das vítimas, sendo peça fundamental para que,
ludibriadas, permanecessem na situação de exploração.
Solide
Fátima Triques, esposa do Sr. Adão Rodrigues, auxiliava diariamente o
marido no gerenciamento da Boate, controlava a venda de bebidas e o
fluxo de dinheiro, sendo também responsável pelo pagamento das
comissões. Alojou as vítimas logo que chegaram do sul do país.
Moacir
Chaves, aliciador, explora habitualmente a prostituição alheia com o
fim de lucro. Dentre as vítimas havia uma suposta namorada sua
(Silmara), que passou a exercer a prostituição por intermédio do
denunciado e que dividia com ele os seus rendimentos. Responsável direto
pelo deslocamento das vítimas do sul do país a Altamira. Trabalhava
como gerente da Boate da denunciada Claci em Joaçaba, e deveria exercer a
mesma função na nova Boate que seria inaugurada em Vitória do Xingu.
Adriano
Cansan, funcionário da Boate Xingu, conhecido como 'Alemão', exercia a
função de garçom, sendo também responsável por fiscalizar e controlar as
vítimas. Ameaçava as vítimas, afirmando que apenas sairiam dali após
quitarem as suas dívidas. Já foi funcionário da denunciada Claci, no sul
do Brasil. Teria, supostamente iniciado perseguição armada à
adolescente que fugiu;
Carlos Fabricio Pinheiro,
funcionário da Boate Xingu, conhecido como 'Chico', exercia a função de
gerente da boate, sendo responsável por reter os valores devidos às
vítimas, efetuando os descontos das supostas dívidas. Era responsável
por levar as vítimas ao canteiro de obras da UHE Belo Monte para
distribuir panfletos da Boate.
Fonte: jornal Brasil de Fato
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