Casos xenofóbicos têm tido repercussão internacional. As mortes por motivo de xenofobia têm se tornado pauta de agências nacionais e supranacionais, as quais buscam reprimir esse tipo de intolerância social. Mas por que a xenofobia tem aumentado? Por que na Europa?
Por Fernanda Cristina de Paula
Em 2008, foi constatado na Rússia que provavelmente 300 pessoas
(em cinco anos) foram mortas por ataques xenofóbicos. Recentemente, os
dois filhos de uma advogada sofreram seguidas agressões verbais e
físicas de alunos da escola em que estudavam, na Espanha, por serem
brasileiros. Em julho de 2011, aproximadamente 80 pessoas morreram em
uma explosão de bomba e fuzilamento, realizados por um extremista
político com motivos xenofóbicos, na Noruega.
O termo xenofobia se originou na psicologia e é utilizado para
designar uma doença: o medo patológico de estrangeiros. Enquanto
patologia, a xenofobia se constitui em um medo ou aversão irracional,
sem motivos justificáveis. No entanto, atualmente, o termo faz
referência a outro fenômeno: os casos de preconceito, discriminação e
violência física contra estrangeiros; tudo isso baseado em um discurso
não irracional, mas sustentado (principalmente) por ideais de
nacionalismo e discussões sobre crise econômica.
Atualmente, houve o aumento de notícias sobre casos de
xenofobia, principalmente na Europa. Mas qual seria a causa desse
aumento? Por que há uma concentração desses casos na Europa? Qual a
relação entre migrantes, nacionalismo e crise econômica?
FLUXOS MIGRATÓRIOS
A proliferação de casos de xenofobia é o reflexo de um padrão e de uma nova intensidade dos fluxos migratórios. Compreender esses fluxos e padrões migratórios ajuda no entendimento da xenofobia enquanto problema social.
A proliferação de casos de xenofobia é o reflexo de um padrão e de uma nova intensidade dos fluxos migratórios. Compreender esses fluxos e padrões migratórios ajuda no entendimento da xenofobia enquanto problema social.
Migração é a mudança de residência de um indivíduo ou grupo
para outra unidade administrativa (ou seja, outro país, estado ou
município). As causas da migração podem ser variadas: busca por novas
oportunidades de emprego, busca por melhor qualidade de vida, refugiados
por motivos de desastres naturais, guerras, fome ou perseguição
(religiosa, étnica, cultural) no seu país de origem. Três fatores
caracterizam, atualmente, a migração internacional: (1) padrão de
migração, (2) maior facilidade de viajar pelo planeta e se comunicar com
pessoas de qualquer parte do mundo, (3) necessidade de países receberem
migrantes.
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Diferentemente do século XIX, quando o fluxo migratório era de pessoas saindo do Velho Mundo (Europa) para o Novo Mundo (Continente Americano), o padrão migratório do século XX e início do século XXI é de grupos saindo de países do sul para residirem em países do norte do planeta. Isso é devido à concentração de países subdesenvolvidos no hemisfério sul de onde saem pessoas que migram para o hemisfério norte (onde se concentram países desenvolvidos, com melhores salários e oportunidade de empregos), buscando melhores condições de vida.
(2) Facilidade de deslocamento e comunicação
Associado a esse padrão dos fluxos migratórios, outro fator que marca a migração atualmente é a globalização (desenvolvimento das tecnologias de transporte e comunicação, que permitem a interação em escala global). Esse fenômeno contemporâneo é responsável por um aumento significativo da facilidade de deslocamentos e comunicação dos migrantes. O avanço dos meios de transportes facilita e difunde meios rápidos de se locomover de um país a outro. A facilidade de comunicação permite, como em nenhuma outra época, que o migrante continue a se comunicar, manter laços e enviar dinheiro para pessoas (geralmente familiares) de seu país de origem. Essas facilidades, possíveis pela globalização, promovem ainda mais a migração contemporânea.
(3) Necessidade de migrantes
O continente europeu apresentou nas últimas décadas dois motivos para precisar de migrantes em seus países. O primeiro motivo é que, depois da reestruturação econômica pós 2ª Guerra Mundial, houve demanda de trabalhadores para empregos que oferecem (relativamente) baixos salários por trabalho braçal, sem exigência de alta escolaridade; foi a massa de migrantes que atendeu a essa demanda do mercado de trabalho. Esse tipo de emprego não interessava aos europeus, os quais apresentam boa escolaridade e preferem empregos com melhores condições de trabalho e salários.
O segundo motivo que fez com que a Europa precisasse de trabalhadores migrantes é a estrutura etária da população. A tendência desse continente é de cada vez nascer um número menor de pessoas ( baixa taxa de natalidade) e de aumento da expectativa de vida. Desse modo, os trabalhadores migrantes são necessários tanto para suprir a quantidade inferior de jovens aptos a trabalhar quanto para pagar os impostos que contribuem para o pagamento do número crescente de aposentados.
Esses três fatores (padrão de migração, facilidade de deslocamento e comunicação, necessidade de trabalhadores estrangeiros) são responsáveis por um grande fluxo migratório para a Europa. Portanto, nos últimos anos, uma quantidade significativa de migrantes fixou residência em países europeus.
A convivência (na mesma porção espacial) com pessoas de etnia,
religião e hábitos diferentes pode causar o estranhamento dos moradores
em relação aos estrangeiros. Notar e estranhar a diferença são uma
reação humana normal (esse fenômeno de estranhamento do estrangeiro é
conhecido também como "choque cultural"). No entanto, o estranhamento
evolui para xenofobia quando as pessoas começam a discriminar e culpar
os estrangeiros por problemas que acontecem na cidade onde moram ou em
seu país.
O nacionalismo é o conjunto de ideias e atitudes para pensar o
desenvolvimento e o bem da própria nação. No entanto, diante de crises
econômicas recentes nos países europeus, discursos nacionalistas têm se
pautado no sentimento xenofóbico para explicar e resolver as más
situações em que se encontra a economia de seu país. O principal
argumento do discurso nacionalista, baseado na xenofobia, é de que os
migrantes "roubam" os empregos do restante da população do país que os
abriga. Nesse sentido, para os nacionalistas com tendências xenofóbicas,
a solução é a expulsão dos migrantes e a proibição da entrada de
estrangeiros no país. Nos casos mais dramáticos, o exacerbamento da
xenofobia leva alguns indivíduos ou grupos a ações extremas, como
atentados terroristas e assassinatos.
ATUALIDADE: O RECEIO EUROPEU
Devido ao padrão de migrantes em direção à Europa, é este continente que tem apresentado a maior parte dos casos extremos de xenofobia. Como exemplo, só nesta década, tem-se o incêndio criminoso de um edifício onde moravam migrantes turcos, na Alemanha; o caso recente do norueguês que explodiu uma bomba no centro de Olso (capital da Noruega) e fuzilou estudantes de um partido de esquerda (que eram contra o discurso de expulsão de migrantes), totalizando aproximadamente 80 mortos. Além disso, foram observadas manifestações e passeatas contra migrantes na França, Portugal, Espanha e Inglaterra. O alvo da xenofobia são, principalmente, latinos, asiáticos e africanos.
Devido ao padrão de migrantes em direção à Europa, é este continente que tem apresentado a maior parte dos casos extremos de xenofobia. Como exemplo, só nesta década, tem-se o incêndio criminoso de um edifício onde moravam migrantes turcos, na Alemanha; o caso recente do norueguês que explodiu uma bomba no centro de Olso (capital da Noruega) e fuzilou estudantes de um partido de esquerda (que eram contra o discurso de expulsão de migrantes), totalizando aproximadamente 80 mortos. Além disso, foram observadas manifestações e passeatas contra migrantes na França, Portugal, Espanha e Inglaterra. O alvo da xenofobia são, principalmente, latinos, asiáticos e africanos.
A xenofobia e os consequentes atos contras migrantes são
oficialmente considerados como crime e violação dos Direitos Humanos.
Com receio de que os casos de xenofobia iniciem uma grande onda de
intolerância étnica, religiosa e cultural (tal como a vivida na 2ª
Guerra Mundial, qual resultou no genocídio de judeus na Alemanha de
Hitler), autoridades da União Europeia e organizações supranacionais
como a ONU têm criado projetos para repudiar e evitar o desenvolvimento
da xenofobia entre os europeus. Grande parte de cidadãos europeus também
fazem questão de se mobilizar em passeatas a fim de expressar que a
xenofobia é também repudiada por grande parte das pessoas desse
continente.
fonte:http://geografia.uol.com.br/geografia
* Fernanda Cristina de Paula Géografa/Mestre em Geografia (IG/UNICAMP), professora da Rede Municipal de Ensino de Jaguariúna (SP), depaula.fernandac@yahoo.com.br
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