O programa pastoral do Papa nos convida a considerar os mais necessitados como eles realmente são, nossos irmãos, filhos de um mesmo Pai amoroso.
São Paulo,
Fonte: Zenit.org
Publicamos a seguir o testemunho enviado a ZENIT por José
Caetano, fotógrafo que trabalhou como guia no grupo dos Vaticanistas que
viajaram no avião do Papa nessa viagem ao Brasil, os chamados VAMP
(Vatican Accredited Media Personal):
***
Uma das maiores mensagens deixadas pelo Papa Francisco em sua
primeira grande viagem fora da Itália, para a Jornada Mundial da
Juventude no Brasil não foi somente dirigida aos jovens, mas a todos os
homens, e não fez parte dos discurso, mas sim de suas ações.
Particularmente trabalhei como guia no grupo dos Vaticanistas que
viajaram no avião do Papa nessa viagem, os chamados VAMP (Vatican
Accredited Media Personal), e durante a viagem, logo antes do encontro
do Pontífice com os representantes da Sociedade Civil no Teatro
Municipal do Rio de Janeiro, um dos jornalistas brasileiros que estavam
ali me perguntou o que eu achava que o Papa iria falar para os
empresários e políticos ali reunidos.
Não respondi imediatamente porque prever o que o Papa Francisco vai
falar ou fazer é uma atividade digna de profetas altamente ungidos por
Deus, e eu só sei fazer uma análise da conjuntura e tentar prever algo.
Mas uma constante no que se refere ao pontificado de Bergoglio é seu
cuidado para com os pobres. Cuidado esse que não nasce de uma
pseudo-teologia latina, como poderia se pensar de um Papa vindo da
Argentina. Também não nasce simplesmente do fato de ter ele escolhido ao
“pobrezinho” de Assis para homenagear ao se tornar Papa. Esse cuidado
com os pobres, essa dedicação pela pobreza nasce de um método quase
científico. Francisco experimenta a pobreza.
Em suas incansáveis visitas aos bairros pobres da capital portenha e
sua visita à favela de Varginha, na comunidade de Manguinhos, no Rio de
Janeiro, lhe conferem autoridade para tratar do tema da pobreza. Ele
toca os pobres com seu coração e com suas mãos. Ele conhece e escuta os
problemas das pessoas “descartadas” da sociedade. E identifica o que
chama de “cultura do descartável”.
Em Manguinhos foi claro em dizer que “Nenhum esforço de ‘pacificação’
será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que
ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si
mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes,
perde algo de essencial para si mesma. Não deixemos, não deixemos entrar
no nosso coração a cultura do descartável! Não deixemos entrar no nosso
coração a cultura do descartável, porque nós somos irmãos. Ninguém é
descartável!
O Pontífice identifica a causa do problema das sociedades modernas e
dá a solução: compreender os outros como nossos irmãos. E por esse mesmo
motivo, coloca a Fraternidade como tema da próxima Jornada Mundial da
Paz, que sera celebrada no primeiro dia de 2014.
“A fraternidade, fundamento e caminho para a paz” é justamente o tema
que Francisco nos coloca para meditar, imediatamente concordante com o
que propõe em Manguinhos.
Por outro lado, se podemos identificar uma preocupação constante em
todos os discursos e homilias do Papa nessa viagem ao Brasil e em outras
ocasiões de seu pontificado, é seu desejo de que deixemos nossa zona de
conforto e que saiamos de casa ao encontro dos mais pobres. Não
simplesmente para torná-los alvo de qualquer programa assistencialista
ou de uma pastoral desprovida de alma, de espiritualidade. O Papa nos
manda colocar Cristo no centro de nossas vidas, e a partir daí, a partir
da vivência do encontro com Cristo, ir ao encontro dos pobres como
nossos irmãos.
A mensagem pastoral do Papa Francisco é exigente, pois não somente
nos convida a sermos agentes de qualquer programa paliativo, que
simplesmente alivie o sofrimento de algumas pessoas, mas o programa
pastoral do Papa nos convida a considerar os mais necessitados como eles
realmente são, nossos irmãos, filhos de um mesmo Pai amoroso, e como
nossos irmãos, o nosso compromisso deve ser mais profundo, mais
duradouro, e só consiguerimos atingir esse nível de autoridade para
ajudar o próximo quando nos dedicarmos a tomar uma xícara de café com
eles, como disse o próprio Francisco em seu discurso em Varginha.
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