Francisco reunido à uma delegação do Instituto Dignitatis Humanae.
Uma tontura de cabeça, um encontro cancelado, um comentário brusco sobre as
escolhas do novo pontífice. Quarta-feira passada, no arco de poucas
horas, soou um sinal de alerta pelo Papa Bergoglio.
Depois da audiência geral na Praça de São Pedro – a temperatura estava fria – Francisco sentiu sua cabeça girar, e o leve mal-estar o obrigou a ir logo repousar, renunciando ao encontro com o cardeal Angelo Scola, que veio especialmente de Milão a lhe falar sobre uma futura visita à Expo 2015.
Não é pouca coisa. Scola foi o principal antagonista de Bergoglio no conclave: não por motivos pessoais, naturalmente, mas como expoente de outra plataforma. Scola ainda é uma das personalidades mais renomadas entre os bispos italianos, e uma boa relação com ele é decisiva para orientar a Conferência Episcopal Italiana na linha de reforma que o papa tem em mente.
Na realidade, Francisco está explorando exageradamente as suas forças. Aos 76 anos e com a responsabilidade de uma organização de mais de 1,1 bilhão de adeptos, o papa argentino não tirou um minuto de férias neste verão europeu. Ao contrário de João Paulo II, ele não se restaura com pequenas "fugas" na natureza e, ao contrário de Bento XVI, não se concede regularmente todos os dias uma hora de caminhada pelos jardins vaticanos.
Aos jovens da paróquia de San Cirillo, em Roma, ele disse no domingo passado que tira apenas meia hora de repouso depois do almoço e, depois, "de novo ao trabalho, até a noite". Francisco espera muito das suas forças. Há um motivo. Bergoglio sente que não tem muito tempo à disposição. Uma dezena de anos, antes de decidir, provavelmente também ele, passar o bastão. E dez anos na história da Igreja são muito poucos.
Na maré de elogios e de aplausos que o rodeia, o papa argentino está sozinho, muito solitário. Se ele se limitasse ao programa que muitos cardeais eleitores esperavam, não haveria problemas. Reorganizar o IOR e agilizar a Cúria são questões técnicas de uma realização nada difícil. Consultar os bispos mais frequentemente – como era pedido ao futuro pontífice durante as reuniões gerais antes do conclave – podia ser realizado com reuniões plenárias do Colégio Cardinalício mais frequentes e com uma ordem do dia precisa.
Mas Francisco está fazendo muito mais do que muitos dos seus eleitores imaginavam. (Isso aconteceu com João XXIII). Ele quer remodelar a Cúria desde os fundamentos, reorganizar o Sínodo dos Bispos, dar forma a uma nova abordagem às temáticas sexuais, levar o clero a abandonar atitudes burocráticas e autorreferenciais, mudar o estilo do poder episcopal, inserir as mulheres em postos de governo, imprimir com uma nova comissão (anunciada nessa quinta-feira) um novo impulso à luta contra a pedofilia, protegendo as vítimas e dando indicação aos episcopados.
Há uma pergunta que paira sobre o Palácio Apostólico: quem apoia Francisco? Com quais forças ele pode contar? A resposta é que um "partido" ou um "movimento" ativo entre clero e bispos pró-Francisco não existe. Não se reforma um aparato corpulento como o eclesiástico – milhares de bispos, centenas de milhares de padres e religiosos, uma rede de centros de poder grandes e pequenos – sem uma forte fileira de seguidores fiéis e comprometidos.
Na Cúria, uma equipe bergogliana ainda não existe. O novo secretário de Estado, Dom Parolin, é o homem certo (também pela sua forte marca sacerdotal) para trabalhar com Bergoglio, mas a maioria dos cargos curiais são provisórios.
Até agora, não se vê nos dicastérios curiais e no episcopado mundial uma patrulha compacta de cardeais, bispos e padres prontos para lutar pelas suas reformas como podiam ser os defensores da reforma gregoriana na Idade Média ou da reviravolta do Concílio de Trento. Os episcopados nacionais estão inertes. Muitos assistem passivamente às externalizações de Francisco. Muitos conservadores esperam em silêncio um passo em falso seu. Nas grandes organizações, o aparato sabe que é feito de borracha.
Nesse clima, as declarações do secretário de Ratzinger, Dom Gänswein, ao semanário alemão Zeit, espalharam inquietação. A revista, embora não entre aspas, escreveu que, para o braço-direito de Bento XVI, a decisão de Francisco de não morar nos apartamentos papais foi sentida como uma "afronta". Além disso, Gänswein, embora reconhecendo que o papa é apenas um, exclama, desconsolado, textualmente: "A cada dia, eu espero de novo o que será diferente (do que antes)".
Mais do que um encorajamento, uma rejeição ao novo curso. Francisco está sozinho, mesmo que o coração dos fiéis bata por ele.
Depois da audiência geral na Praça de São Pedro – a temperatura estava fria – Francisco sentiu sua cabeça girar, e o leve mal-estar o obrigou a ir logo repousar, renunciando ao encontro com o cardeal Angelo Scola, que veio especialmente de Milão a lhe falar sobre uma futura visita à Expo 2015.
Não é pouca coisa. Scola foi o principal antagonista de Bergoglio no conclave: não por motivos pessoais, naturalmente, mas como expoente de outra plataforma. Scola ainda é uma das personalidades mais renomadas entre os bispos italianos, e uma boa relação com ele é decisiva para orientar a Conferência Episcopal Italiana na linha de reforma que o papa tem em mente.
Na realidade, Francisco está explorando exageradamente as suas forças. Aos 76 anos e com a responsabilidade de uma organização de mais de 1,1 bilhão de adeptos, o papa argentino não tirou um minuto de férias neste verão europeu. Ao contrário de João Paulo II, ele não se restaura com pequenas "fugas" na natureza e, ao contrário de Bento XVI, não se concede regularmente todos os dias uma hora de caminhada pelos jardins vaticanos.
Aos jovens da paróquia de San Cirillo, em Roma, ele disse no domingo passado que tira apenas meia hora de repouso depois do almoço e, depois, "de novo ao trabalho, até a noite". Francisco espera muito das suas forças. Há um motivo. Bergoglio sente que não tem muito tempo à disposição. Uma dezena de anos, antes de decidir, provavelmente também ele, passar o bastão. E dez anos na história da Igreja são muito poucos.
Na maré de elogios e de aplausos que o rodeia, o papa argentino está sozinho, muito solitário. Se ele se limitasse ao programa que muitos cardeais eleitores esperavam, não haveria problemas. Reorganizar o IOR e agilizar a Cúria são questões técnicas de uma realização nada difícil. Consultar os bispos mais frequentemente – como era pedido ao futuro pontífice durante as reuniões gerais antes do conclave – podia ser realizado com reuniões plenárias do Colégio Cardinalício mais frequentes e com uma ordem do dia precisa.
Mas Francisco está fazendo muito mais do que muitos dos seus eleitores imaginavam. (Isso aconteceu com João XXIII). Ele quer remodelar a Cúria desde os fundamentos, reorganizar o Sínodo dos Bispos, dar forma a uma nova abordagem às temáticas sexuais, levar o clero a abandonar atitudes burocráticas e autorreferenciais, mudar o estilo do poder episcopal, inserir as mulheres em postos de governo, imprimir com uma nova comissão (anunciada nessa quinta-feira) um novo impulso à luta contra a pedofilia, protegendo as vítimas e dando indicação aos episcopados.
Há uma pergunta que paira sobre o Palácio Apostólico: quem apoia Francisco? Com quais forças ele pode contar? A resposta é que um "partido" ou um "movimento" ativo entre clero e bispos pró-Francisco não existe. Não se reforma um aparato corpulento como o eclesiástico – milhares de bispos, centenas de milhares de padres e religiosos, uma rede de centros de poder grandes e pequenos – sem uma forte fileira de seguidores fiéis e comprometidos.
Na Cúria, uma equipe bergogliana ainda não existe. O novo secretário de Estado, Dom Parolin, é o homem certo (também pela sua forte marca sacerdotal) para trabalhar com Bergoglio, mas a maioria dos cargos curiais são provisórios.
Até agora, não se vê nos dicastérios curiais e no episcopado mundial uma patrulha compacta de cardeais, bispos e padres prontos para lutar pelas suas reformas como podiam ser os defensores da reforma gregoriana na Idade Média ou da reviravolta do Concílio de Trento. Os episcopados nacionais estão inertes. Muitos assistem passivamente às externalizações de Francisco. Muitos conservadores esperam em silêncio um passo em falso seu. Nas grandes organizações, o aparato sabe que é feito de borracha.
Nesse clima, as declarações do secretário de Ratzinger, Dom Gänswein, ao semanário alemão Zeit, espalharam inquietação. A revista, embora não entre aspas, escreveu que, para o braço-direito de Bento XVI, a decisão de Francisco de não morar nos apartamentos papais foi sentida como uma "afronta". Além disso, Gänswein, embora reconhecendo que o papa é apenas um, exclama, desconsolado, textualmente: "A cada dia, eu espero de novo o que será diferente (do que antes)".
Mais do que um encorajamento, uma rejeição ao novo curso. Francisco está sozinho, mesmo que o coração dos fiéis bata por ele.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 06-12-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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