Júlio Lázaro Torma*
" Tu es meu Filho amado, em ti ponho meu bem querer"
( Mc 1,110
Estamos em nossas comunidades celebrando a Festa do Batismo do Senhor.
O batismo está ligado a Festa da Epifania. Onde encerramos o Ciclo
Natalino e iniciamos o tempo comum até a quarta feira de cinzas.
Marcos inicia o seu Evangelho, dando destaque ao Batismo de Jesus no
rio Jordão. No seio das comunidades de Marcos havia um debate entre
aqueles que aderiram a fé e aqueles que ingressaram nas comunidades
mediante a pregação apostólica. Os discípulos de João Batista, os
mandeus, como Apolo e outros haviam aderido a comunidade do " caminho",
como os encontrados na comunidade de Éfeso ( At 18,24-19,7).
O Batismo de Batista era um batismo de conversão e de purificação. Na
qual vem ao encontro do desejo de todo o homem e mulher de mudar de
vida, reorganizar e organizar a sua vida, procurando um novo estilo de
vida diferente daquele em que vivemos.
João Batista pregava: " Fazei penitência, endireitai os vossos
caminhos". Isso vai ao encontro ao que vem do fundo da nossa
consciência, quantas vezes nós não falamos, " eu vou mudar", ' preciso
mudar", ' quero mudar", ' não vou mais fazer isso", ' devo ser melhor", "
preciso agir de maneira mais digna" e " não vou fazer mais isso ou
aquilo", " devo fazer tudo diferente do que eu fiz até agora".
Essa vontade de purificação é nobre e indispensável, mas não basta.
Esforçamos para corrigir os nossos erros, defeitos, mudarmos as nossas
atitudes, ser mais responsáveis, cumprir os nossos deveres e propósitos.
E acabamos caindo na mesmice e praticando os mesmos erros e atos de
sempre. O João Batista reconhece o limite de seu esforço:" Eu batizo
vocês com água, mas ele vos batizara com o Espírito Santo com fogo" ( Mt
3,11).
O Batismo de Jesus supera radicalmente a mensagem de João Batista. O
céu que estava fechado agora se abre não para os castigos, nem o
machado está na mão para cortar, nem a pá para atirar no fogo" ( Mt
3,7-12), como anunciava João Batista e os outros movimentos batistas ao
longo do rio Jordão.
Se pelo pecado de Adão ( Gn 3) o céu se fechou sobre a terra e o
gênero humano, Pelo batismo de Jesus o novo Adão, o céu se abriu para o
gênero humano e a criação. Pois o céu se abre e Deus fonte de Amor, nos
derrama o seu amor. Se Deus é Amor, então ele só pode nos dar Amor, Paz,
Bondade mesmo que nós erramos. Em Cristo nos tornamos os " filhos e
filhas de Deus". Nos tornamos " Filho e Filha muito amado". A mensagem
nos deixa claro, que com Jesus os céus outrora fechados, agora está
aberto, mesmo que a gente erra e viva na mesmice ou numa vida medíocre.
Pois a voz que Jesus escutou de Deus nos fala para cada um de nós:" Tu
és meu filho amado; em ti ponho meu bem querer" ( Mc 1,11).
Mesmo que vivemos numa vida errada, devemos nos purificar
constantemente, mas como dom da " dignidade de filhos e filhas de Deus',
da qual devemos cuidar com alegria e agradecimentos.
Para quem vive está fé, a sua vida está cheia de momentos de graça,
o nascimento de um filho, o contato com uma pessoa boa, a experiência
de um amor puro, honesto, sincero e verdadeiro... que põe em nossa vida
uma luz e um calor novos.
De repente parece -nos ver o " céu aberto". Algo novo começa em
nós, sentimo-nos vivos, desperta o melhor que existe em nosso coração. O
que talvez tenhamos sonhado secretamente nos é dado agora de forma
inesperada; um novo inicio, uma purificação diferente, um " batismo do
Espírito". Por trás destas experiências está Deus amando- nos como Pai.
Está seu Amor e o seu Espírito " doador de vida"(1)
1.José Antonio Pagola:" O Caminho Aberto por Jesus- Marcos, Ed Vozes. Petrópolis, 2013
Mc 1, 7-11
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* Membro do colegiado Nacional da Pastoral Operária
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