Júlio Lázaro Torma*
" Todos aqueles que vos buscam,
hão de louvar-vos ó Senhor"
( Sl 22(21),27)
O Evangelho de Marcos, escrito pelo ano 70 d.C, nos fala de uma
atitude desconcertante de Jesus para com os seus discípulos,bem como
para a sociedade de seu tempo.
Jesus como é de seu feitio transgride as leis, as normas da religião
oficial e os costumes de seu tempo. O que os homens rejeitam e excluí,
Jesus inclui e acolhe, no caso aqui é de duas mulheres, rejeitadas pela
sociedade a mulher hemorrágica e a adolescente de 12 anos filha do
rabino Jairo,chefe da sinagoga.
A mulher sofre dupla discriminação por ser mulher, que na sociedade
era considerada inferior e por ser doente.Ela sofria de hemorragia á
doze anos,o que fazia ser considerada impura,como mandava o livro de
Levítico," Quando uma mulher tiver o seu fluxo de sangue ficará impura" (
Lv 15,19-33).
E todo o homem que a toca-se ou objeto que ela toca-se ficava impuro.
Ela durante todos estes anos foi vítima da exploração por parte de
médicos que em vez de cura-la a exploravam tirando tudo o que tinha.A
menina é excluída pois está morta e não pode fecundar.
Jesus cura a mulher e ressuscita a menina.Ele faz um gesto Litúrgico e
Eucarístico. Ao chamar a menina e mandou que " lhe desse de comer" ( Mc
5,43).Ele está fazendo um gesto Eucarístico.Onde todos são chamados a
participar da Mesa da Eucaristia e a " Tomai e comei, isto é o meu
corpo" ( Mt 26,26).
Na messa da Eucaristia não á exclusão e todos são iguais é a messa da igualdade.
O Cristianismo,o movimento de Jesus é a religião da inclusão e da
igualdade, como nos mostra as mesmas narrativas deste texto nas
comunidades mateanas e lucanas( Mt 9,18-26 = Lc 8,40-56).
A Igreja hoje hierarquizada perdeu o sentido revolucionário de
Jesus. Por ser guiada por varões acabamos ignorando está " revolução" de
Jesus de acolhida das mulheres. A jovem de 12 anos morta e
infecunda,que não pode dar a vida, é chamada a viver e ser fonte de
vida.
Muitas
vezes somos coniventes diante dos sofrimentos das mulheres, do
feminicídio e o extermínio da juventude na qual consideramos até normal.
Como a violência física, sexual, psicológica, o assedio moral e
sexual sofrida pelas mulheres, mesmo existindo um grande avanço para
coibir estas práticas, na legislação penal como a Lei Maria da Penha.
Que mesmo tendo não consegue reduzir o número de atos sofridos pela
mulher e o número de homicídios ou feminicídios.
Não é cabível que dentro da Igreja, de nossas
famílias,comunidades,pastorais tenhamos ou reproduzimos práticas
machistas,patriarcais ou atitudes que machucam, denigram ou reduza o
papel e desvaloriza a mulher.
Um cristão deve olhar a mulher com os olhos de Jesus em vez de
desvalorizar, valoriza-la e vê-la como uma irmã e amiga que deve ser
valorizada e respeitada por ser ela filha de um mesmo Pai que nos fez
iguais,pois nós " somos imagem e semelhança de Deus"( Gn 1,26).
Nós varões somos chamados á uma " profunda conversão", a superar o
machismo e o patriarcalismo que nos desfigura reinante em nossa
sociedade e na igreja.
Devemos ter novas relações entre homem e mulher. As diferenças entre
os sexos, além de sua função na geração de uma nova vida,devem ser
encaminhadas para a cooperação,apoio e crescimento mútuos.
E para isso, nós varões precisamos escutar com muito mais lucidez e
sinceridade a interpelação daquele de que segundo o relato do
Evangelho," saiu uma força" para curar a mulher.
Mc 5,21-43
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* Membro do Colegiado da Pastoral Operária Nacional
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