220 cientistas ao serviço das Nações Unidas produziram durante dois anos o estudo mais completo sobre condições meteorológicas extremas e concluem que o efeito das alterações climáticas irá aumentar a frequência e a intensidade das cheias, secas e ondas de calor.
"Por mais quanto tempo podem defender a vossa inacção?", pergunta a comissária europeia do Clima aos governos que querem adiar decisões na próxima cimeira do Clima, em Durban. Foto Dr. RawheaD/Flickr
"As alterações climáticas levam a alterações na frequência, intensidade, extensão, duração e tempo" dos acontecimentos meteorológicos extremos, diz o resumo deste relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas que juntou os cientistas de topo mundial com investigação nesta área aos dados disponíveis desde 1950 sobre estas catástrofes naturais.
Os cientistas afirmam que "há prova de que estes fenómenos extremos têm-se alterado em resultado de influências antropogénicas, incluindo o aumento da concentração de gases de efeito de estufa na atmosfera". E o custo económico anual destes desastres climáticos nas últimas décadas está calculado em cerca de 150 mil milhões de euros, tendo aumentado exponencialmente desde 1980. Uma subida que pode ser também explicada à luz do aumento da riqueza e da urbanização no planeta, com os prejuízos medidos pelas seguradoras. No entanto, não estão incluídos neste cálculo as perdas em vidas humanas ou o desaparecimento de património cultural.
Enquanto as perdas para a economia são mais avultadas nos países desenvolvidos, é nos países em desenvolvimento que se sente mais esse custo na proporção do seu Produto Interno. E "entre 1970 a 2008, mais de 95% dos desastres naturais ocorreu nos países em desenvolvimento", lembra o relatório do IPCC distribuído esta sexta-feira aos governos de todo o mundo.
A partir da experiência das últimas décadas, os cientistas dizem que "a severidade dos impactos dos fenómenos climáticos extremos depende muito do grau de exposição e vulnerabilidade" de cada população e por isso aconselham os governos a reduzir essa vulnerabilidade. E apontam algumas medidas prioritárias, como travar a rápida e desordenada urbanização e melhorar as condições de vida dos mais pobres.
O estudo prevê ainda um aumento substancial das temperaturas máximas no planeta no fim deste século, bem como das ondas de calor em quase todo o mundo e da velocidade do vento nos ciclones tropicais. As secas também deverão intensificar-se em regiões que incluem a Europa do Sul e o Mediterrâneo. A erosão costeira e a maior frequência de inundações serão o resultado do aumento do nível das águas do mar.
Tudo junto, os fenómenos extremos terão "maior impacto nos sectores ligados ao clima, como a água, agricultura e segurança alimentar, floresta, saúde e turismo". Por isso os cientistas recomendam medidas de gestão do risco mais adequadas ao cenário que está previsto, o que passa pela criação de infraestruturas sanitárias, abastecimento de água, na regulamentação e fiscalização da construção, mais educação ambiental e uma gestão e planificação sustentável do uso da terra. Mas também "responder às causas que estão por detrás da vulnerabilidade, incluindo as desigualdades estruturais que criam e mantêm a pobreza e limitam o acesso aos recursos".
"Estamos a perder demasiadas vidas e bens económicos com os desastres naturais", disse o co-presidente do grupo de trabalho do IPCC, Chris Field. O relatório surge a poucas semanas da cimeira de Durban, que terá de novo as alterações climáticas na agenda de trabalho dos governos de todo o mundo. E ainda na semana passada, a Agência Internacional da Energia veio dizer que o planeta já só tem cinco anos para tomar medidas para cortar a emissão de gases de efeito de estufa e prevenir a catástrofe do aquecimento global.
"À luz dos factos agora conhecidos, tem de ser colocada a pergunta aos governos que querem adiar decisões: por mais quanto tempo podem defender a vossa inacção?", disse ao jornal Guardian a comissária europeia para a Acção Climática, Connie Hedegaard.
Fonte: esquerda.net
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