Autor: João Batista Libânio
O tempo de Advento e Natal tem a força de acordar em nós uma solidariedade que deixe o campo de gestos esporádicos e eventuais para entrar no "ethos" do nosso existir para transformar-se em cultura.
Somos um tecido existencial feito de desejos grandes e concretizações pequenas, sonhos longos e vigílias breves, de aspirações infinitas e realizações limitadas. Ora perdemo-nos nos discursos dos desejos grandes, dos sonhos longos, das aspirações infinitas. Ora nos emaranhamos na pequenez de feitos, concretizações e realizações.
A solidariedade é, ao mesmo tempo, um grito maior que atravessa os oceanos, que vai para além do presente e um conjunto de pequenas ações que tecem o cotidiano de fraternidade.
A solidariedade é, ao mesmo tempo, um grito maior que atravessa os oceanos, que vai para além do presente e um conjunto de pequenas ações que tecem o cotidiano de fraternidade.
A fé cristã está continuamente a despertar-nos para ela. Há momentos privilegiados para isso. Os tempos litúrgicos natalinos e o início de ano falam bem alto desse sentimento tão humano e cristão.
Conta-se que D. Helder, antes de entregar-se às inúmeras vigílias de oração, gostava de compulsar os jornais e colher neles os fatos e sofrimentos da humanidade para, solidário, apresentá-los a Deus. Às vezes, nós, cristãos, esquecemos a força da solidariedade da oração e do jejum. Ela não nos vem da publicidade, mas da certeza de que “a prova de ter fé está em esperar de Deus o impossível. O impossível do homem é o possível de Deus" (Peter-Hans Kolvenbach).
O Advento tem o sabor de silêncio, de recolhimento, de espera na oração. Em vez de fechar-nos no pequeno mundo dos problemas pessoais e familiares, a oração lança-nos para além dele e assim alcança tantos irmãos, necessitados de apoio.
Além dessa solidariedade diante de Deus, vivemos outras formas. Freqüentemente se seguem às situações de penúria e de catástrofe movimentos de socorro, quer através da oferta de dinheiro ou de outros bens, quer, em alguns casos, de voluntariado de ajuda. Nesse final de novembro, assistimos a sofridos noticiários televisivos que nos exibiam cenários de devastação, de desabamentos de casas e de mortes por causa das terríveis chuvas em Santa Catarina. Muitos nos sentimos sensibilizados a fazer atos solidários.
Natal fala ainda mais em solidariedade. Quando Betinho vivia, ele promovera aquele gesto simbólico de arrecadar alimentos para que, ao menos, no dia de Natal, nenhum brasileiro passasse fome. Sabemos que a fome volta cada dia. E, por isso, passado o Natal, as pessoas tornaram a senti-la. Entretanto, o gesto serviu para mostrar-nos que algo permanente deve ser feito nesse país para debelar definitivamente com o flagelo terrível da miséria.
Natal fala ainda mais em solidariedade. Quando Betinho vivia, ele promovera aquele gesto simbólico de arrecadar alimentos para que, ao menos, no dia de Natal, nenhum brasileiro passasse fome. Sabemos que a fome volta cada dia. E, por isso, passado o Natal, as pessoas tornaram a senti-la. Entretanto, o gesto serviu para mostrar-nos que algo permanente deve ser feito nesse país para debelar definitivamente com o flagelo terrível da miséria.
O mesmo Betinho repetia: “A fome é imoral”. É, sem dúvida, a realidade mais imoral que existe nesse país. Por ocasião de eleições, os noticiários mostram cenas de fome e miséria em determinadas regiões. Passados os dias, cai sobre tal realidade enorme silêncio. Mas a situação ficou intocada. Alguns gestos solidários, que se fizeram então, não descarregam nossa consciência.
O tempo de Advento e Natal tem a força de acordar em nós uma solidariedade que deixe o campo de gestos esporádicos e eventuais para entrar no "ethos" do nosso existir para transformar-se em cultura.
Quando falamos de cultura, entendemos essa teia de símbolos e sentidos com que representamos a vida. Ela perpassa as crenças, o código de convivência familiar e comunitária. Cria técnicas e estratégias de reprodução do trabalho. Ora, se a solidariedade se faz cultura, então os olhos verão todas as coisas sob tal prisma, as ações serão alimentadas por esse espírito. E toda a sociedade se modificará.
Só a solidariedade consegue reverter o ciclo de morte e de solidão que o egoísmo e individualismo da sociedade pós-industrial vêm preocupantemente gestando. Só ela rompe essa espiral do descaso, do indiferentismo, do ceticismo cínico dos privilegiados dos bens materiais diante dos pobres e carentes. Só ela consegue trazer um pouco de verdadeira paz e alegria profunda àqueles a quem pesa a desventura de ser venturoso no meio dos desventurados
Só a solidariedade consegue reverter o ciclo de morte e de solidão que o egoísmo e individualismo da sociedade pós-industrial vêm preocupantemente gestando. Só ela rompe essa espiral do descaso, do indiferentismo, do ceticismo cínico dos privilegiados dos bens materiais diante dos pobres e carentes. Só ela consegue trazer um pouco de verdadeira paz e alegria profunda àqueles a quem pesa a desventura de ser venturoso no meio dos desventurados
Que o Advento e o Natal favoreçam a criação em nós e em torno de nós da cultura da solidariedade!
fonte: Dom total
Nenhum comentário:
Postar um comentário