Inchaço
das cidades, desmatamento, reordenação do território, incremento da
violência, alcoolismo e uso de drogas, bem como da prostituição,
especulação imobiliária, aumento de empresas prestadoras de serviço são
alguns dos elementos que configuram a aquarela das cidades da Amazônia
que abrigam alguma experiência de grande projeto. Uma visita do
jornalista Rogério Almeida aos territórios de Carajás.
Juruti, pequena cidade do Baixo Amazonas, no estado do Pará passa por
tal experiência por conta do extrativismo mineral da bauxita, sob a
tutela da empresa estadunidense Alcoa.
O minério é matéria prima para a produção da alumina, que é
transformada em alumínio. A mesma Alcoa mantém uma planta industrial na
capital do Maranhão, São Luís. A energia elétrica é o principal insumo
da empresa eletrointensiva.
Na mesma cadeia produtiva a norueguesa Norsk Hidro mantém duas
plantas industriais no município de Barcarena, no norte do Pará. Até
pouco tempo a Vale foi a principal acionária da cadeia que aglutina
minas, mineroduto e indústrias.
Nas terras do Carajás, a sudeste do estado, ocorre uma abissal
reestruturação do território por conta do incremento da cadeia de
mineração da Vale. Uma passagem na cidade do minério, Parauapebas, que
abriga a principal mina de ferro da Vale, prestes a cessar a exploração,
impressiona a reconfiguração que experimentou a cidade nos derradeiros
anos.
Não adentrava a cidade havia um tempo. Apenas passava pela principal
via de acesso. Nesta semana tive a oportunidade de percorrer novas
periferias, como o bairro Altamira. Pelo que me consta, não existia na
década de 1990, quando conheci a região. Uma avenida principal cercada
de ipês constituía a principal via. Os hotéis eram modestos e as
churrascarias a oportunidade de refeição e lazer.
A periferia da cidade parece ter sofrido um aumento. Tal fenômeno
sempre ocorre quando se anuncia um novo projeto de exploração mineral,
construção de obras de infraestrutura, como o que ocorre na cidade
vizinha, Canaã dos Carajás. E a duplicação da Ferrovia de Carajás, que
desloca milhões de dólares em minério de Parauapebas até São Luís.
Os barracos de madeira proliferam entre ruas esburacadas, desprovidas
de saneamento básico sob uma rede de energia marcada pela gambiara. A
lógica do extrativismo dos recursos da Amazônia tende a gerar riqueza em
outros rincões, interpretam os tradados da academia.
Nas terras dos Carajás é a Vale que estrutura, reestrutura, organiza e
desorganiza os territórios em suas áreas de interesse. Como a abertura
de novos frentes ela tem implantado rodovias, melhorado alguns acessos
no interior dos locais de extração, subjugando territórios já
estabelecidos. Isso tem ocorrido com nos projetos de assentamentos
rurais, no sentido de possibilitar a implantação de ramais ferroviários e
torres para a instalação de energia.
O tempo de capital urge, e não se coaduna com o tempo das lógicas
camponesas do vasto leque da Amazônia: indígena, quilombola, assentado
da reforma agrária. O capital a tudo devora, até mesmo da lentidão dos
processos burocráticos, e exige a flexibilização dos marcos legais.
A tecnologia de ponta da mega corporação não dialoga com práticas
milenares de sobrevivência do homem do campo. É desigual a força dos
entes envolvidos, dos projetos de desenvolvimento em jogo.
Em sua base a população é desprovida de informação suficiente que a
qualifique para uma discussão mais profunda sobre o complexo xadrez da
economia mundial, que linka o grotão ao resto do mundo.
Lá no Brasil profundo, num território marcado pela anarquia fundiária
disputam especuladores, fazendeiros, grileiros, camponeses e indígenas.
Na arena, existe gente de boa fé, com uma propriedade já constituída, e
que lhe garante a reprodução econômica e social. Gente com quase três
décadas fincadas na terra. Coisa dos tempos do Grupo Executivo das
Terras do Araguaia-Tocantins (Getat), o Incra da ditadura em terras
Amazônicas.
É tempo de chuva nas terras dos Carajás, tão distante de Brasília,
alheia às ameaças de morte, ao dinamitamento de vidas inteiras na
floresta tropical, ou no que resta dela. É tempo de uma abissal
alteração na ecologia econômica, social e política no belo Vale das
terras dos Carajás.
Fonte: Rogério Almeida, Furo - rogerioalmeidafuro.blogspot.com.br - janeiro de 2013
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