Júlio Lázaro Torma*
" Meu Deus,meu Deus,porque me abandonastes?"
( Mc 15,34)
Hoje iniciamos a celebração da Semana Santa, a " Semana das semanas'', a " Grande Semana", da Entrega, Paixão e Morte e Ressurreição de Jesus que culmina na madrugada de domingo de Páscoa ( Pesach). Celebramos o domingo de " Ramos" quando trazemos palmas, ramos, flores e ervas medicinais.
Estamos seguindo o itinerário de Jesus, estamos próximos dos pórticos
de Jerusalém, em Betânia ( casa dos pobres) e Betfagé ( casa do figo),
perto do monte das oliveiras a onde o povo se concentrava para as
romarias. Durante a caminhada salmodiavam os salmos 120-134 ( Cânticos
de peregrinação).E junto com os milhares de romeiros subamos " para
Jerusalém a cidade tão bem edificada,que forma um tão belo conjunto" (
Sl 122,3) e " Vinde subamos á montanha do Senhor" ( Is 2,3).
Eis que subamos, cantemos alegremente salmos de alegria pois o
Senhor o " Príncipe da Paz" ( Is 9,5), " esta se próximo" ( Fl 4,5) e
vem " simples montado num jumento, no porto de uma jumenta" ( Zc 9,9) e a
ele as ruas tomadas pela multidão correm cantando com ramos de
oliveira,folhas de palmeiras,salgueiros e ramos de mirta ( Dt 16,Lv
23,40,Ne 8,14-17) e cantemos alegremente, " Bendito seja o que vem em nome do Senhor" ( Sl 118,26-27).
Jesus entra na cidade de Davi, na cidade da Paz e messiânica, como um
rei de maneira provocativa diante dos poderes do Templo ( religioso) e
de Pôncio Pilatos ( político), dominador que oprimem, empobrece e
dominam o povo.
Assim como o seu antepassado o poderoso rei Davi ( II Sm 5,6-11),
Jesus entra em Jerusalém.Ele entra pacificamente montado no jumento. O
jumento era o meio de locomoção das pessoas pobres de seu tempo, de
serviço e de sinal de missão de paz de um rei.
Quando um rei entrava numa cidade montado num cavalo era sinal de guerra e de destruição daquele povo.
Jesus entra de maneira provocativa cercado pelos discípulos e a
multidão, anunciando um Reino diferente que inverte as prioridades, onde
quem quiser ser o maior deverá ser o menor e que veio para os pobres e
pecadores.
E que o seu reino não é um reino dominador e opressor, mas um Rei que é
servo, que se esvaziou de si mesmo, de sua condição real e se fez o"
servo sofredor" ( Is 50,4-7).
Ele não é acolhido pelos poderosos de seu tempo que tem medo dele,
pois eles tem medo de perder os seus privilégios e farão de tudo para
assassina-lo, como forjar um julgamento falso, cheio de mentiras e onde
eles mesmos se contradizem o tempo todo e manipulam a opinião pública
contra Jesus.
Quando a elite se vê e sente os seus interesses ameaçados a primeira
coisa que ela faz é isolar e eliminar aquele que lhe atrapalha e causa
uma ameaça como sucedeu com Jesus.
Outro paradoxo da festa de hoje que deve ser destacado é a mesma
multidão que está as vezes aclamando ( Mc 11,8-10) e que alguns dias
depois está imediatamente condenando ( Mc 15,13-14). Mas uma vez a nossa
realidade humana. A multidão é sempre versátil, a massa não pensa ela é
facilmente manipulável.
Apenas um líder hábil para manipular de alguma forma para o melhor e o
pior.Os seres humanos que compõe a multidão são facilmente
influenciados por fatores ou situações que por vezes negam a si mesmo,
em instituições, empresas, negócios que muitas vezes há gravantes
situações de injustiças...
Quantas pessoas aceitam se queimar para denunciar? O medo pode ser
rapidamente, o medo da perda do emprego, medo da perda da amizade, medo
de alguma ameaça de morte, o medo de não chegar a uma posição
privilégiada, o medo de ter que lutar em defesa da justiça, medo do
medo... É triste! Mas a maioria das pessoas são assim.
Eu pessoalmente já experimentei e passei por isso mais de uma vez. No
entanto, é está maioria que compõe as massas ou seja são homens e
mulheres que estão fazendo qualquer coisa.
Olhamos para nós mesmos e perguntamos quem somos a multidão, Simão
Cirineu, Pedro que nega, Judas que trai e os discípulos que fogem? ou os
transeuntes que passam anonimamente diante da cruz?
Quantas vezes Jesus esta caído nas nossas ruas e nós não lhe
ajudamos e viramos o nosso olhar, pois o seu olhar nos agride e também
nos ofende e nos chama a dura realidade em que vive bilhões de seres
humanos em nosso planeta.
Jesus está hoje gritando em meio aos crucificados de nossa sociedade,
aqueles que muitas vezes zombamos deles e que pedimos a sua morte, uma
higienização da sociedade, não porque eles que são os mais pobres nos
atrapalham. Mas por que eles causam um mal estar nos privilegiados, que
criam miseráveis, entre os pobres e que não querem ver, para não terem
peso na sua consciência e serem chamados a responsabilidade desta dura
realidade, diante do grito abafado de milhares de crucificados que
encontramos pelas ruas, calçadas, praças, avenidas,estrada e calçadão de
nossas cidades.
Onde o grito de Jesus abandonado nos crucificados nos chama a sairmos
do nosso comodismo e como Simão Cirineu nos colocar á serviço, não ter
medo do desconhecido, pois é como nos fala o Papa Francisco.
" Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído
pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de
se agarrar ás próprias seguranças" e que tem medo de tocar nos
crucificados nas beiras e caídos nas estradas do mundo.
É indigno converter a semana santa, em folclore, turismo, meros
espetáculos, comércio para abastecer os lucros da Páscoa, feriadão. Para
os seguidores de Jesus celebrar a Paixão e Morte do Senhor é um
agradecimento emocionado, adoração ao amor " incrível" de Deus e
chamados a viver como Jesus, solidarizemos e servimos aos crucificados. Mc 11, 1-10; Mc 15,1-39
__________________________-
* Membro do Colegiado Nacional da Pastoral Operária
Nenhum comentário:
Postar um comentário