7 de jun. de 2011

Reflexões acerca do envelhecer.


Vivieme Moraes em um texto que caiu em minhas mãos faz um reflexão a cerca do envelhecer.Transcrevo o texto pra reflexão de todos.
Talvez ninguém esteja mais consciente de sua finitude, à mercê das dificuldades com a corporeidade, em situação de fragilidade ante as ameaças da natureza (e da cultura) do que o sujeito que envelhece (GOLDFARB, 2004, p.40).

Ao longo de nossa jornada tem-se constatado que a longevidade da população brasileira está cada vez mais evidente dentro de nossa sociedade. Através da convivência com o mais idoso membro familiar, por exemplo, é possível um intercâmbio de valores, um olhar mais abrangente e transformador para as novas relações sociais que estão por vir.
Uma coisa é fato: envelhecemos desde o momento em que nascemos. No entanto, este processo natural e inevitável só é percebido através de algumas mudanças. Por exemplo, físicas (variáveis, especialmente em sistemas de órgãos), cognitivas (que podem afetar a capacidade funcional), econômicas e políticas, que fazem parte do dia-a-dia de cada ser humano. Mudanças estas que podem acontecer de maneira tranqüila, consciente ou de maneira mais intensa, dependendo muito de como a velhice é vista e encarada por cada um. Mas de qualquer maneira, ‘o idoso deve, todo o tempo, ser visto como um indivíduo único e valioso, uma pessoa que tem uma “história de vida” especial e uma configuração de ocupações para compartilhar’ (GLOGOSKI, DIANE apud PEDRETTI, EARLY, 2004, p.1046).
O tempo vai passando e a história sendo criada de acordo com suas vivências e emoções. Emoções essas que muito provavelmente ficarão registradas na memória, mesmo que se passem alguns anos. E o que seria de nós seres humanos se não pudéssemos compartilhar nossas histórias, com outras pessoas mais jovens ou ainda mais experientes que nós? O bom da vida é também poder trocar experiências, compartilhar tristezas e alegrias, viver o presente e, porque não, pensar no futuro. Um futuro mais próximo, planejado com o mesmo entusiasmo e emoção de tempos atrás.
Através da “bagagem adquirida” por cada um, é encantador verificar que as pessoas de maneira geral, adaptam-se com sucesso às diversas transições ocorridas com o envelhecimento. E que em algumas situações estressantes conseguem se reorganizar e lidar com o presente de maneira mais positiva.
É interessante que suas estratégias para lidar com os fatos (por exemplo, sublimação, supressão e humor) são freqüentemente mais bem-sucedidas que outras estratégias (por exemplo, hostilidade, negação e fantasias escapistas) usadas pelos adultos mais jovens. (GLOGOSKI apud PEDRETTI,  2004, p.1048).         
Alguns idosos, de modo geral, fazem uso de estratégias para “driblar” certas situações, se reorganizando, mudando algumas prioridades de metas mais tangíveis de acordo com sua realidade, envolvendo, assim, e por que não, sua família. Que em alguns casos se faz presente e em outros não, de acordo com o tempo e prioridades de cada um.
E como bem diz Goldfarb (2004, p.15), “o tempo é aquilo que transcorre, permitindo a construção de conceitos, construindo memória, criando histórias, produzindo subjetividades”. Ou seja, pode ser algo que por diversas vezes passou tão rápido, que vários momentos de nossa existência se foram, sem que ao menos nos déssemos conta disso.
O momento da infância, por exemplo, onde cada um pode sentir o calor do colo de nossa mãe, a doçura e delicadeza com que nos olhava e cuidava. A alegria com que brincávamos com irmãos e amigos sem nos preocuparmos com o passar das horas. As aventuras vivenciadas nessa mesma época, as descobertas incríveis, que naquele momento eram para nós a “oitava maravilha do mundo”.
 Vivências como estas ficarão marcadas na memória de cada um de nós, independente do tempo e de tantas outras histórias também vivenciadas com o mesmo fulgor ao longo de nossa existência.
 Com o envelhecer ocorrem muitas mudanças, é fato, mas são mudanças que estão dentro de todo um contexto já vivenciado e condizente com a história de cada um. Deste modo, não é algo novo que aconteceu da noite para o dia, e sim um processo gradativo e conquistado à medida que se tem vivido e experimentado um pouco da vida. E enquanto há vida, há a necessidade de vivermos intensamente cada momento, cada redescoberta, e as compartilharmos com familiares e amigos que estão a nossa volta.
 Envelhecer sim, porém com dignidade e alegria mesmo quando sua memória já não é mais a mesma, e o medo do desconhecido se faz presente em muitos momentos. Portanto, o envelhecer não precisa ser necessariamente triste, e sem novas descobertas, pode ser também uma fase tão especial quanto às outras já nos foram.
 E como diz Gonzaguinha (1982) ,
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
  Referências
GLOGOSKI, Carolyn; FOTI, Diane. Necessidades Especiais do Idoso. In: PEDRETTI, Lorraine Williams; EARLY, Mary Beth. Terapia Ocupacional: capacidades práticas para disfunções físicas. 5ª ed.São Paulo:Roca, 2004. p.1044-1067.
GOLDFARB, Delia Catullo. Demências: clínica psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

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