19 de jun. de 2015

CNBB se opõe à redução da maioridade penal

Fonte: domtotal.com
Entidade revela o temor de que algumas violações aos direitos da criança deixem de ser crime.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou, nesta quinta-feira (18), nota em que afirma que a redução da maioridade penal representará uma ameaça a direitos hoje previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
No documento, a entidade revela o temor de que, se aprovada pelo Congresso Nacional, a medida acarrete um “efeito dominó”, fazendo com que algumas violações aos direitos da criança e do adolescente, como a venda de bebidas alcoólicas, abusos sexuais, entre outras, deixem de ser crime.
“Seria uma consequência natural, já que reduzir a idade de responsabilização penal para 16 anos terá implicações enormes sobre a vida social. Poderá valer para a compra de bebidas alcoólicas, direção de carros, trabalho. Abrimos um leque enorme”, disse o secretário-geral da entidade, Dom Leonardo Steiner, sustentando que, em outros países, a medida não surtiu os efeitos esperados. “Não podemos cair na tentação de nos desvencilharmos de nossos problemas sociais e de nossos jovens”.
Para a CNBB, é um equívoco afirmar que o estatuto não estabelece punições aos adolescentes que cometem atos infracionais. No documento, a entidade lembra que, no Brasil, os jovens podem ser responsabilizados penalmente já a partir dos 12 anos - idade abaixo da estipulada pela maioria dos países industrializados. Na avaliação da CNBB, reduzir a maioridade penal dos atuais 18 anos para 16 anos não resolverá a violência.
Segundo o presidente da CNBB, Dom Sergio da Rocha, embora ao ser sancionado, há 25 anos, o ECA tenha sido saudado como uma das melhores leis do mundo em relação à criança e ao adolescente, as medidas socioeducativas nele previstas não foram devidamente aplicadas ao longo dos anos, não sendo possível afirmar que a lei contribui para a impunidade.
“Embora tenha sido tão bem acolhido, o ECA não foi levado a sério como deveria. Hoje, teríamos de revalorizar e verificar a responsabilidade do Poder Público”. Na nota, a CNBB ainda sustenta que "as medidas socioeducativas previstas no estatuto foram adotadas a partir do princípio de que todo adolescente infrator é recuperável, por mais grave que seja o delito que ele tenha cometido. Esse princípio está de pleno acordo com a fé cristã”, menciona a nota.
Vice-presidente da CNBB, Dom Murilo Krieger destacou que, em momentos de comoção, quando é grande a cobrança por respostas rápidas para problemas como a criminalidade. “Nesses momentos, diante de alguns fatos tristes envolvendo adolescentes, nascem mitos e equívocos, como a ideia de que a redução solucionará o problema da falta de segurança. Com isso nos desobrigamos de buscar soluções educativas. O que queremos é criar uma consciência e demonstrar que o problema é bem mais amplo, que os jovens têm direito a uma nova oportunidade”.
Agência Brasil

18 de jun. de 2015

Reordenando os Sentimentos

 Fonte: http://capuchinhos.org.br/caprs/artigos/detalhes/reflexoes/reordenando-os-sentimentos
Publicado por Frei Jaime João Bettega
Reordenando os sentimentos, incrementando tudo com uma boa dose de esperança. Vai dar certo! “As coisas que temos nos ajudam a viver. O que damos aos outros pode mudar nossa vida.” Ao longo dos dias, as necessidades vão surgindo. O que é básico sempre se dá um jeito. A sensibilidade permite uma atenção para com os outros. Impossível viver bem sabendo que o semelhante não tem o necessário. Estender a mão para dar e para receber é um movimento inspirador.
A profundidade da vida vai acontecendo entre trocas e laços que culminam em abraços! Ter algumas coisas é questão de dignidade. Todos deveriam ter o necessário. Enquanto esse sonho não se realiza, a solidariedade vai adequando ações e promoções. Ainda bem que muitas pessoas já fizeram a experiência de dar ou doar-se. As mudanças da vida acontecem pela caridade.
O excesso de apego nunca resultará em satisfação. O egoísmo carrega consigo a infelicidade. Em alguns momentos, talvez, não se tenha nada para dar. Mesmo assim, pode-se fazer muito: acolher, escutar, silenciar, ficar por perto, surpreender. Sair de si e ir ao encontro é um exercício básico, questão até de sobrevivência. A leveza dos dias está alicerçada na bondade. Pessoas do bem se encontram, exalam o odor da alegria e da realização. Impossível querer ser feliz sem participar desse movimento, que tem o amor ao próximo como a melhor melodia.
Pensar só em si é facilitar aquela tristeza que vai adoecendo a esperança e escurecendo o horizonte. Que bom saber que o que damos aos outros vai mudando nossa vida. É fantástico viver assim. Bênçãos! Paz e Bem! Santa Alegria! Abraços!
Sobre o autor

Frei Jaime BettegaFrei Jaime Bettega

 Frei Jaime tem formação em Filosofia, Teologia, Administração de Empresas, Pós Graduação em Gestão de Pessoas e Mestrado em Administração, com enfoque na Espiritualidade nas Organizações. Professor de Ética Organizacional do curso de Administração de Empresas da UCS.,  Coordenador da Legião Franciscana de Assistência aos Necessitados (Lefan) e é o fundador do Projeto Mão Amiga, que auxilia crianças carentes.
Apresentação do programa, na rádio São Francisco SAT (560 AM)e Articuladro do Jornal Correio Riograndense e colunista no Pioneiro.

16 de jun. de 2015

Cuidar de quem nos cuidou

Publicado por Frei João Carlos Romaninini | 17/05/2015 - 10:33 
Autor: Frei Jaime Bettega
 
Fonte:  http://capuchinhos.org.br/caprs/artigos/detalhes/espiritualidade/cuidar-de-quem-nos-cuidou
Ver os pais envelhecendo é maravilhoso. Perceber o legado que uma geração passa à outra é provar o doce sabor que a vida oferece.
Os espaços já estavam devidamente preparados. Havia uma certa expectativa. Ambientes vazios sempre aguardam por alguém. A Casa São Frei Pio, em Caxias do Sul, que há tempo cuida da saúde dos frades, passou a ter uma nova ala destinada a idosos em situação de vulnerabilidade. Ao
todo serão 20 leitos. A manhã daquela terça-feira, um dia que parecia igual aos demais, se transformou num fato que mereceu registro histórico: a chegada dos primeiros idosos.
Alguns acompanhados por familiares, outros não. No olhar, a esperança e no corpo, as marcas dos anos vividos. Um misto de alegria e de emoção tomou conta de todos.
O enorme convento ampliava sua finalidade: cuidar de quem certamente cuidou dos outros.
O número de idosos tem crescido, enquanto que o número de filhos por família assinala uma sensível diminuição. Chegar ao entardecer da vida é algo natural. É um direito poder envelhecer dignamente. Ser cuidado está implícito na existência pessoal e familiar. Nenhum idoso atrapalha o ritmo de vida dos mais jovens. Pelo contrário, é uma presença que fortalece laços e confirma a história. O surgimento de casas que abrigam pessoas de idade avançada se tornou quase uma necessidade. Porém, os laços de afeto não deveriam jamais ser interrompidos.
Cuidar de quem nos cuidou é uma nobre missão. Oportunidade ímpar de retribuir tudo o que foi recebido. Em alguns momentos, as dificuldades até se intensificam, mas o amor filial é capaz de suportar até o que parece ser impossível. Ver os pais envelhecendo é maravilhoso. Perceber o legado que uma geração passa à outra é provar o doce sabor que a vida oferece. A convivência entre avós e netos é simplesmente fantástica, pois imprime jovialidade àqueles que já somaram algumas décadas de vida. No entanto, há casos bem mais exigentes, onde a presença de cuidadores se faz necessária.
A cultura do cuidado precisa ser recuperada. Há uma facilidade em terceirizar as obrigações mais corriqueiras. Muitos não querem ter incomodação, nem limitação da liberdade. Aproveitar a vida é o emblema mais badalado. Um dia, porém, as limitações da velhice alcançarão os que hoje vivem a jovialidade. Quem não cuidou dos seus, é bem provável que também não seja cuidado. Todos os filhos deveriam se preparar para ser, um dia, pais de seus próprios pais.


Sobre o autor

Frei Jaime BettegaFrei Jaime Bettega

 Frei Jaime tem formação em Filosofia, Teologia, Administração de Empresas, Pós Graduação em Gestão de Pessoas e Mestrado em Administração, com enfoque na Espiritualidade nas Organizações. Professor de Ética Organizacional do curso de Administração de Empresas da UCS.,  Coordenador da Legião Franciscana de Assistência aos Necessitados (Lefan) e é o fundador do Projeto Mão Amiga, que auxilia crianças carentes.
Apresentação do programa, na rádio São Francisco SAT (560 AM)e Articuladro do Jornal Correio Riograndense e colunista no Pioneiro.

10 de jun. de 2015

Nós votamos, eles elegem

Só um imbecil pensa que empresas realmente 'doam' a candidaturas.
fonte: domtotal.com
Frei Betto
Haverá eleição presidencial nos EUA em 2016. Como no Brasil, lá também o povo vota, mas quem elege é o dinheiro. Os pré-candidatos estadunidenses já paparicam os grandes doadores de campanhas: Sheldon Adelson, dono de cassinos, nos últimos 12 anos doou US$ 120 milhões aos republicanos; George Soros, especulador, US$ 44 milhões aos democratas. Os irmãos David e Charles Koch, do ramo petroquímico, se dispõem a arrecadar US$ 900 milhões para os republicanos; e tantos outros bilionários se mobilizam. Na corrida ao Planalto, em 2014, nossos candidatos arrecadaram, juntos, R$ 586 milhões. A campanha de Dilma abocanhou R$ 318 milhões, mais da metade do total. Zerou todas as despesas e ainda sobraram R$ 169 mil. Aécio arrecadou R$ 201 milhões, e ficou dependurado na dívida de R$ 15 milhões. Até 1997, no Brasil era proibido empresas financiarem campanhas eleitorais. O PSDB quebrou a boa norma e fez aprovar a lei eleitoral nº 9.504, que permite financiar candidatos sem que o dinheiro passe pelos partidos. Só um imbecil pensa que se trata de "doação". É, de fato, investimento. Empresas e bancos "emprestam" grana à espera de retorno assegurado pelo desempenho político do eleito. Não há papel assinado, exceto quando a doação é ao partido. Se o candidato perde, o investidor contabiliza na folha de "perdas e danos". E nada impede de o candidato embolsar parte do recurso recebido. Se é eleito, sabe que deverá ser leal a seus "investidores", caso contrário será castigado nas próximas eleições e ficará a pão e água... Os maiores investidores procuram formar bancadas, como a do BBB (bola, bala e Bíblia), assim como há bancadas do agronegócio, da bebida alcoólica, dos frigoríficos etc. São 39 os países que, hoje, proíbem empresas de financiarem eleições, entre eles Portugal, França, Canadá, México, Colômbia e Peru. Além da grana "por fora" de empresas e bancos, no Brasil há ainda a grana do Fundo Partidário. Até abril deste ano era de R$ 290 milhões. Dilma, apesar do ajuste fiscal, triplicou-o. Agora é de R$ 868 milhões. Também ela investe na base aliada... Em época de eleições, você já escutou "Interrompemos a nossa programação para o programa eleitoral gratuito." Mentira. Não é gratuito. O valor do tempo cedido por rádios e TVs à campanha eleitoral é abatido no imposto de renda das emissoras. Em 2014, elas ganharam R$ 840 milhões de isenções fiscais. E o mais intrigante: a União é, constitucionalmente, a proprietária do sistema radiotelevisivo brasileiro. E, no entanto, paga para utilizá-lo em campanhas de interesse público. O STF decidiu por 6 a 1, em maio de 2014, proibir doação de empresas a campanhas eleitorais. Porém, o juiz Gilmar Mendes, contrário à decisão, apelou para o recurso de "pedido de vistas" e enfiou o processo debaixo do braço. E não há lei que o apresse. Na verdade, ele queria ganhar tempo para transferir a decisão para o Congresso. Acreditava que deputados e senadores, capitaneados por Eduardo Cunha, vetariam a proibição. Resta à sociedade civil pressionar para que os nossos políticos tenham vergonha na cara e decência no bolso. E, na próxima eleição, votar com mais consciência.

Frei Betto é escritor e religioso dominicano. Recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares. Foi assessor especial da Presidência da República entre 2003 e 2004. É autor de "Batismo de Sangue", e "A Mosca Azul", entre outros.

Nós o Crucificamos!!!

                             Júlio Lázaro Torma
                            " Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!"
                                                                         ( Lc 23, 34)
   No último domingo ocorreu em São Paulo, a parada do orgulho gay. E no meio do protesto um ato que ofendeu algumas facções radicalizadas e fundamentalistas do cristianismo.
    Onde uma transexual fez a performance de Jesus crucificado e sob a cabeça estava  a inscrição de " Basta Homofobia GLBT", onde alguns se sentiram ofendidos pelo ato da transexual. Eu como cristão e católico praticante não me ofendi com a imagem da crucificação.
    Para mim ela além de ser um protesto foi um grito para nos chamar a dura realidade dos crucificados do nosso tempo e do nosso país que está cada vez mais retrogrado, conservador e fundamentalista.
     Jesus é crucificado diariamente em nosso país e assume muitos rostos, como tem dito os nossos bispos latino americanos, diversas vezes nas suas conferências em Puebla, Santo Domingo e Aparecida, de que Jesus tem diversos rostos, como sem terra, sem teto, desempregados, indígenas, negros, mulheres, imigrantes, refugiados, presidiários, menores abandonados e porque não dizer também os homossexuais.
    Pessoas estas que são estigmatizadas pela sociedade e por nós cristãos. Quantas vezes nós não os estigmatizamos e não demos o nosso testemunho de cristãos.
   Como nos fala Mohandas Karamchan Gandhi, " Eu seriá cristão, sem dúvida, se os cristãos o fossem vinte e quatro horas por dia". O que não acontece e nós não mostramos aos outros a verdadeira mensagem e imagem de Jesus que viveu e pregou o Amor.
   Jesus em sua vida terrena não andou no meio de pessoas de bem, mas foi para o meio dos marginalizados da sociedade de seu tempo como as prostitutas, pecadores, leprosos e os cobradores de impostos ( corruptos), aqueles que eram considerados " esse povinho maldito que não conhece a Lei" ( Jo 7, 49) pelos lideres religiosos de seu tempo. E que morreu como um amaldiçoado entre dois ladrões.
   O gesto da transexual condenado pelos religiosos como uma blasfêmia a fé cristã, por aqueles que sempre condenaram as encenações da paixão feita pelos católicos. Ali naquele gesto está o desespero de toda a comunidade GLST, que são diáriamente assassinados nas ruas e esquinas do nosso país. O Brasil é um dos países que mais assassinam e humilham homossexuais no mundo.
   É um grito para nós cristãos a nos chamar a dura realidade, onde pregamos o amor de um lado e ao mesmo tempo incentivamos o ódio e a marginalização dos outros, os chamando e considerando como doentes, e querendo a sua cura.
   Nos esquecemos que " Deus nos fez a sua imagem e semelhança", " para que neles se manifestem as obras de Deus" e " que todos nós somos filhos e filhas de Deus" (  Gn 1,27; Jo 9,3 ; I Jo 3, 1ss).
    Onde muitos desses irmãos e irmãs, foram expulsos das Igrejas, comunidades cristãs, rejeitados pelas famílias em nome da moral e dos bons costumes e sofrem toda a forma de violência e atrocidades.
    Devemos entender que quem sofre se sente como Jesus na cruz e se identifica com ele. O gesto da transexual na cruz deve ser visto como um apelo para nós cristãos de nos converter e ver no outro a imagem do crucificado.
    Que é crucificado diariamente nos irmãos sofredores por causa do nosso ódio.
    Vivemos num país de maioria cristã a onde não vivemos de fato e nem de direito o maior mandamento deixado por Ele, " Amem -se vos uns aos outros, assim como eu amei vocês" (  Jo 14, 12).
    Onde está o testemunho de amor de nós cristãos, diante da dor desses irmãos?, como podemos ser cristãos se em cada 24 horas um homossexual é morto no Brasil; uma em cada 3 mulheres já tenha sofrido algum tipo de abuso sexual?. E recebemos o triste prêmio de que 39% de assassinatos de transexuais acontece em nosso país, algo em que nós cristãos devemos nos envergonhar e pedir perdão por este pecado que branda aos céus.
   Em que o grito dos crucificados, desesperados  do socorro que não vem de nenhuma parte, cuja única esperança é o céu, como fez Jesus na cruz.
    A cruz é um simbolo da fé, da resistência, de sofrimento e da presença de Jesus Cristo no meio do povo. Mais que um símbolo, a cruz ajuda a construir uma mística de resistência aos sofrimentos inerentes á vida de quem sofre e uma comparação com as perseguições e a luta de Jesus com os poderosos de seu tempo para mostrar um caminho novo.
   Hoje os homossexuais são também a feição sofredora de Cristo, o Senhor, que nos questiona e nos interpela, querendo ser ouvido, escutado, amado e respeitado como são.
   Jesus no olhar e no rosto desfigurado dos homossexuais nos chama a dura realidade, " Em verdade eu vos declaro, todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos foi a mim que fizestes" ( Mt 25, 45).
   Como podemos dizer que amamos a Deus que não vemos se nós desprezamos, ferimos e somos causa de queda para os irmãos, que vemos.
   Está mais do que na hora de nós cristãos deixarmos de ser hipócritas e pedir perdão pelas vezes que ferimos o outro por causa de sua orientação sexual e gênero, somos causadores de sofrimento e morte.
    O protesto de transexual crucificada não me ofende como cristão, mas me chama a conversão de ver o outro como um irmão e irmã, o outro eu que merece o meu respeito e amor. De que devemos acolher e respeitar o outro como ele é.
   E mostrar aos homossexuais que Deus os ama e os fez a sua imagem e semelhança e que não os excluí na sua família,pois Deus é Amor.
    Pois nós crucificamos Jesus hoje de novo no irmão que sofre todo o tipo de discriminação.

5 de jun. de 2015

Festa de Quinta- ferira.

 FESTA DE CORPUS CHRISTI
                                              Júlio Lázaro Torma
                                              " Elevo o cálice da minha salvação,
                                                invocando o nome santo do Senhor"
                                                                  ( Sl 115 ( 116), 13)
  Celebramos a Festa de Corpus Christi, onde lembramos solenemente o mistério da Eucaristia, o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo.
   Em cada Missa e celebração, o celebrante nos recorda " Felizes os convidados para a ceia do Senhor", somos convidados a nos sentar na mesa Sagrada, sentar a mesa é nós ter afinidade com o dono da casa, que nos convida a sentarmos na sua mesa.
   Para os primeiros cristãos, a " Missa" e " Eucaristia", eles chamavam de " Ceia do Senhor" e também a " mesa do Senhor". Eles tinham ainda muito presente na memória que celebrar a Eucaristia não é senão atualizar a ceia que Jesus compartilhou com os seus discípulos na véspera de sua execução.
   Mas como nos falam os exegetas, aquela " última ceia", foi só a última de uma longa cadeia de refeições e ceias que Jesus costumava celebrar com todo o tipo de pessoas.
   Para o povo hebreu a mesa, a refeição é o local sagrado, onde se reúne a família para cear e agradecer o alimento que é o dom de Deus. A mesa principalmente no sábado era o local da refeição, da celebração, de rezar, ouvir palavra de Deus e de conversar longamente após a ceia.
   O hebreu não ceava com qualquer um, não se sentava com qualquer um. Não se come com estranhos ou desconhecidos. Muito menos com os pecadores e pessoas impuras.
    Como dividir o pão com pessoas que não conhecem a  Deus e vivem longe de sua palavra e seus mandamentos.
    Jesus em sua vida, vai contra a corrente, na contra mão, ele se senta na mesa, com os pecadores, com as prostitutas, cobradores de impostos, pessoas consideradas indigestas pela sociedade e pela religião oficial de seu tempo.
    Onde Jesus mostra o amor de Deus para com o seu povo. Pois para com ele não a distinção e que todos são chamados a sentar na mesa do amor e que a sua mesa é acessível a todos. E que a mensagem de Deus é para todos. E que todos cabem dentro do coração amoroso de Deus.
    Passados vinte séculos da Instituição da Eucaristia, a celebração da Eucaristia, virou algo piedoso e até celeto, onde são convidados a sentar a mesa, os " piedosos, os puros" e as vezes dizemos, ' quem esta preparado se aproximem do altar" e excluímos os outros, parecendo que estamos julgando quem pode chegar perto e fazer parte da vida de Jesus.
    Nos esquecemos as palavras de Jesus: " que quem precisa de médico são os doentes e não os são" ( Mt 9,12), como vamos julgar os outros e não deixamos que se aproximem da mesa sagrada?
     Todos nós somos convidados a " ceia do Senhor" e a " sentar a mesa". Mesa esta que não deve haver exclusão, e que todos principalmente os pecadores, humilhados, fracos e abatidos devem se aproximar da " grande ceia do amor", que continua acessível á todos como sempre.
    A  Eucaristia é para pessoas abatidas e humilhadas que anseiam por paz e alívio; para pecadores que buscam perdão e consolo, para pessoas que vivem o coração faminto de amor e amizade ( José Antonio Pagola).
    Jesus não vem ao altar para os justos, mas para os pecadores, não para os sãos mas para os doentes ( Mt 9, 12-13).
         Mc 14, 12-16,22-26

3 de jun. de 2015

Geração Cabeça Baixa

Publicado por Frei Elton Caires Santos 
GERAÇÃO “CABEÇA BAIXA”
É bom que se diga que a tecnologia não é coisa de hoje. Não foi Bill Gates que lha inventou. Conforme suas origens na Grécia Antiga, a tecnologia é o conhecimento científico (teoria) – teoria quer dizer ver com o espírito - transformado em técnica (habilidade). “A tecnologia envolve um conjunto organizado e sistematizado de diferentes conhecimentos científicos, empíricos e até intuitivos, voltados para um processo de aplicação na produção e na comercialização de bens e serviços” (GRISPUN, 1999, 49). Isso quer dizer que todas as gerações vivem a sua tecnologia. Antigamente, uma geração era definida a cada 25 anos. Nos tempos atuais, no entanto, não é preciso esperar muito e - afirma-se - que a cada 10 anos surge uma nova geração. Nesse sentido, a história registrou a Geração Baby Boomer (os nascidos após a Guerra de 1945), a Geração X (geração diretas já e o fim da ditadura), a Geração Y (a geração da tecnologia e da inovação a qualquer custo) e a Geração Z (os jovens nascidos na década de noventa do século passado, cujo perfil é imediatista, com características nano tecnológicas). Como uma espécie de subgrupo da geração Y e Z, surge a “Geração Cabeça Baixa”. Não entenda “cabeça baixa” como uma atitude de respeito ao interlocutor, atenção aos mais velhos ou uma obediência cega, muito pelo contrário. A Geração “Cabeça Baixa” é imposição, é aquela que não olha no olho porque não tira o olho do seu brinquedo eletrônico (iphone, ipad, tablet e todas as mídias digitais). Essa geração está estabelecendo uma relação interpessoal com as coisas e uma relação coisificada com as pessoas. Que paradoxo! Não se levanta a cabeça para falar com o outro porque o entretenimento privativo é a regra maior. Afinal de contas, hoje, no Brasil, por exemplo, tem mais celular habilitado do que gente registrada nos Cartórios de Pessoas Naturais. Foi-se observado – pasmem!- que as pessoas se reúnem em bares, eventos sociais e até casais em momentos de intimidade, mas não são capazes de conversar viva voz, de estabelecer uma comunicação direta, e sim mediante as ferramentas digitais oferecidas pelo mercado, muitas vezes em tom de exibicionismo, exclusividade e, por conseguinte, status. Hoje, já é possível observar uma roda de amigos e cada um – em silêncio – com o seu instrumento eletrônico mais moderno, última geração, teclando com aqueles que estão longe. E aqueles que estão próximos? A verdade é que não basta ser alfabetizado e conhecer os “ícones” para dominar a tecnologia, precisa-se, de fato, de uma educação tecnológica que deixe on line as pessoas de longe e, sobretudo, as pessoas de perto. Portanto, a “Geração Cabeça Baixa” está encurvada diante de si mesma ou, o que é pior, está adorando o digital em detrimento do analógico, o ser humano. Aqui, analógico quer dizer, a terapia do abraço, da atenção, do cafuné, do bom dia, do “verdadeiro mundo real”, da pessoa humana em “tempo real”. Por isso, é preciso viver de cabeça erguida, com os olhos fixos na verdadeira vida, que está n’ Ele, o Ressuscitado, vivo e glorioso. Com isso, faz-se eco a um bordão de um famoso radialista chamado Newton Moura Costa, que hoje surge como um apelo: “Levante a cabeça. Não esmoreça. Pra frente é que se anda!”
Sobre o autor

Frei José Jorge Rocha

Professor na Universidade Católica do Salvador, Formador do Pós-Noviciado I e II, Guardião da Fraternidade Frei Urbano em Salvador-BA.

1 de jun. de 2015

Qual utopia? O que fazer?

Por: Frei Betto
fonte: http://www.cnlb.org.br/portal/qual-utopia-o-que-fazer/

Essas duas interrogações movimentam os grupos de oração que assessoro. Diante da depressão cívica que assola o Brasil, há que recorrer à lâmpada de Diógenes e buscar luz no fim do túnel.

Utopia significa quimera, o que não se pode alcançar. Eduardo Galeano a comparou ao horizonte: quanto mais se caminha rumo a ele, mais ele se afasta. No entanto, ele norteia os nossos passos. O termo foi cunhado por Thomas Morus, santo católico, no livro de mesmo título publicado na Inglaterra, em 1516.

“Que fazer?” é o titulo do livro de Lênin, editado em 1902 para motivar os comunistas russos à revolução vitoriosa em 1917.
As duas indagações nos interpelam hoje. Responder à primeira não é difícil: queremos outros mundos possíveis, onde não haja injustiça e no qual sejam partilhados os frutos da Terra e do trabalho humano. Só à poderosa minoria que desfruta da desigualdade social não interessa o colapso do capitalismo neoliberal.
Os cristãos, em decorrência de sua fé, têm a obrigação moral de não se conformar com esse mundo. Devemos centrar a esperança no Reino de Deus que, para Jesus, não era apenas uma instância pós-morte, mas um projeto a se realizar no futuro histórico.
Por isso, Jesus foi condenado como prisioneiro político. Pregou, sob o reino de César, outro reino…
Porém, “que fazer?” É mais fácil listar o que “não fazer”: compactuar com a opressão e a corrupção; aceitar discriminações; sobrepor a competitividade à solidariedade; ferir a ética e contrariar os direitos humanos etc.
Quanto ao fazer, cabe a cada um, dentro de seu contexto e segundo suas possibilidades, dar respostas efetivas. Considero tarefa imediata organizar a esperança. Reforçar movimentos sociais que defendem os direitos dos mais pobres, animar jovens a abraçar a utopia, fomentar educação popular na formação de novos protagonistas sociais.
É preciso resistir à tentação de descartar o partido político como mediador entre sociedade civil e Estado. Para equacionar problemas de convivência social, o ser humano ainda não inventou outro recurso melhor do que a política. Quem tem nojo da política é governado por quem não tem. E tudo que os políticos safados esperam é que tenhamos bastante nojo da política.
Para mediar a relação sociedade civil e Estado também não se criou outra instância melhor fora dos partidos. São eles que sistematizam nossos anseios de cidadania em programas e projetos a serem administrados e realizados pelo Estado.
Se um partido desce ladeira abaixo após perder a identidade que o diferenciava, para melhor, dos demais partidos, não haverá quem acione a luta interna para que o partido retorne a seus princípios originários?
Os novos partidos serão capazes de evitar os erros cometidos pelos que trocaram o projeto de Brasil pela ambição de poder?
Repito: é hora de deixar o pessimismo para dias melhores. O mistério pascal ensina que a vida sempre prevalece sobre a morte, ainda que as aparências indiquem o contrário.

 Frei Betto
é escritor e religioso dominicano. Recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares. Foi assessor especial da Presidência da República entre 2003 e 2004. É autor de “Batismo de Sangue”, e “A Mosca Azul”, entre outros.