22 de nov. de 2014

Mapa da corrupção

Fonte:domtotal.com
Na América Latina, a corrupção é um legado de nossa herança colonial
Sabe-se que a colonização da América Latina por países europeus, em especial Espanha e Portugal, foi profundamente marcada por roubos, saques, extermínio dos povos originários, escravidão e ampla corrupção daqueles que, no Novo Mundo, gerenciavam os interesses dos colonizadores.Na América Latina, a corrupção é um legado de nossa herança colonial. Somos herdeiros de uma tradição escravocrata, que deixou profundas sequelas em nossas estruturas e em nossos hábitos. Para sobreviverem ou alcançarem funções de poder, muitos recorriam a subornos, ao peculato e ao nepotismo.
Na tradição política da América Latina, os recursos públicos têm sido apropriados em função de interesses privados. A lógica do sistema capitalista favorece esse caldo de cultura ao considerar que os privilégios do capital devem estar acima dos interesses do trabalho. Prática que se estende à "corrupção" da natureza através da devastação ambiental.

Há, pois, em todo o mundo, e especialmente na América Latina, uma verdadeira oligarquia cleptocrática, para a qual a corrupção é um mecanismo intrínseco ao sistema de contratos, acordos, negócios e transações, principalmente na relação com o poder público. A cleptocracia é tanto mais facilitada quanto menos se conta com mecanismos de controle social do Estado e da administração pública.
Essa corrupção inerente ao nosso sistema político latino-americano corrobora para desacreditar as instituições políticas e viciar sempre mais os processos eleitorais. No Brasil, as empresas não votam mas ganham eleições...

Pesquisa da ONG Transparência Internacional, com sede em Berlim, divulgada em dezembro de 2013, apontou que Somália, Coreia do Norte e Afeganistão são os países onde há mais corrupção, enquanto Dinamarca e Nova Zelândia, seguidos de Luxemburgo, Canadá, Austrália, Holanda e Suíça se destacam como os países onde há mais transparência nas contas públicas.

Entre 177 países pesquisados, o Brasil figura em 72º lugar. Na América Latina, aparece como mais vulnerável à corrupção que Chile, Uruguai, Costa Rica e Cuba, entre outros. E menos que Argentina, Venezuela, Bolívia e Equador.

Dos países avaliados, em 70% há fortes indícios de que funcionários públicos são maleáveis a subornos.

A Venezuela aparece na lista como um dos países onde há mais corrupção (160º lugar), enquanto os mais transparentes são o Uruguai (19º) e o Chile (22º).

Finn Heinrich, coordenador da pesquisa, admite que a corrupção atinge, em primeiro lugar, os mais pobres: "Se você observa os últimos países da lista, os cidadãos mais pobres são os mais prejudicados. Iraque, Síria, Líbia, Sudão e Sudão do Sul, Chade, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Haiti, Turcomenistão, Uzbequistão e Iêmen figuram entre os países nos quais grassa mais corrupção na administração pública e nas empresas privadas. A corrupção está muito relacionada a países em decomposição, como Líbia e Síria." É o caso também do Afeganistão.

Frei Betto é escritor e religioso dominicano. Recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares. Foi assessor especial da Presidência da República entre 2003 e 2004. É autor de "Batismo de Sangue", e "A Mosca Azul", entre outros.

14 de nov. de 2014

Servo Bom e Fiel

                                            Júlio Lázaro Torma*
                                                           " Muito bem empregado bom e fiel".
                                                                               ( Mt 25,23)
 Estamos quase no termino do ano litúrgico de Mateus. Onde estamos no quinto livrinho do Evangelho de Mateus " A Vida Definitiva do Reino" ( 19-25,46) e o Discurso:" A vinda do Filho do Homem" ( 24-25,46).
    Onde somos convidados a esperar a volta de Jesus, mas não esperar ele de forma conformista e no Evangelho da semana que vem Jesus nos dá o critério de como devemos agir ( Mt 25,31-45).
    Jesus nos fala em talentos, talento aqui não se refere a inclinação natural de uma pessoa a realizar determinada atividade.
    Mas a Parábola dos Talentos ( Mt 25,14-30), deve ser olhado e meditado á luz da Ressurreição de Jesus e a pós a sua partida para a casa do Pai.
    A Parábola dos Talentos nos fala de um homem que foi para o estrangeiro e que deu seus bens para os seus empregados,na qual eram três e cada um recebeu conforme a sua capacidade em administra-lo, a um ( cinco talentos), outro ( dois) e o último ( um talento). O talento era uma moeda romana de 36 kg.
    Mas a Parábola se concentra todo no terceiro homem, na qual as comunidades mateanas mostram que no seu meio havia cristãos que haviam aderido a proposta de Jesus e que tinham medo de se expor por causa das perseguições e que ficavam isolados dentro da comunidade.
   O Evangelho faz uma critica ao conservadorismo e ao fundamentalismo religioso dentro das comunidades.Onde preferimos uma pastoral de conservação, do que ser uma Igreja missionária e uma pastoral de fronteira que vai ao encontro do outro, principalmente das periferias geográficas e da existência.
   Muitas vezes por causa da diversidade no mundo, alguns acabam se agarrando ao passado e ao conservadorismo se tornando pessoas estereis,medrosas e conformistas, que não estão dispostas a mudar a realidade e a sair do eu,onde o que importa é a sua salvação individual.
    Isso faz com que tenham uma fé, fria, mesquinha e estéril. Que acaba muitas vezes enfraquecendo a própria Igreja e a própria vivência da pessoa que se afasta da comunidade.
   Jesus critica este conservadorismo, de enterrar o " talento" e que faz com que não sejamos criativos.
     A Igreja deve ir " além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária " ( D. Ap 370), isso faz com que tenhamos a criatividade pastoral de novos métodos missionários que exige;
    " Toda conversão supõe um processo de transformação permanente e integral,o que implica o abandono de um caminho e a escolha do outro. A conversão pastoral sugere renovação missionária das comunidades, para passar de uma pastoral de mera conservação pára uma pastoral decididamente missionária.Isso supõe mudança de estruturas e métodos eclesiais, mas exige nova atitude dos pastores, agentes de pastoral e dos membros das associações de fieis e movimentos eclesiais" ( CNBB; Doc." Comunidade de Comunidades:Uma Nova Paróquia, Doc 100).
     Ser conservador não quer disser que está servindo a Deus e que é fiel a Deus. A verdadeira fidelidade a  Deus não se vive a partir da passividade e da inércia, mas a partir da vitalidade e do risco de quem trata de escutar hoje seus chamados.
                                      Mt 25,14-30
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     * Membro do Colegiado da Pastoral Operária Nacional

6 de nov. de 2014

Bondade de Elton John: ´Façam do papa santo´!

Fonte  domtotal.com
Esperança, que seja a palavra de ordem, a qual nos protege de todo mal e de todo desânimo
'Ele é um homem amável e compassivo, que quer que todo mundo seja incluído no amor de Deus', afirmou Elton John sobre o papa.
Por Geovane Saraiva*

Nosso querido papa Francisco, nas palavras de alegria, gratidão e esperança, ao receber em audiência o Arcebispo Metropolitano de Brasília, Dom Sérgio da Rocha, em 31 de outubro de 2014, que renovou o convite para visitar a Capital Federal em 2017, dentro do contexto do jubileu dos 300 anos da Imagem de Nossa Senhora Aparecida, a qual foi encontrada no ano de 1717, nas águas do rio Paraíba do Sul. Neste sentido, como resposta do Vigário de Cristo, Dom Sérgio ouviu nas três palavras: “Alegria por sentir o afeto por parte do povo e do episcopado brasileiro, gratidão pelo convite e, por fim, a esperança que ele mesmo demonstrou de concretizar a visita”.

Esperança parece ser a tônica do seu profícuo pontificado, quando afirmou na manhã do mesmo dia: “O amor abre as portas da esperança e não o rigor da lei”. Também alegra-nos e enche-nos de esperança as palavras da figura emblemática e planetária de Elton John, ao elogiar empolgadamente o Bispo de Roma em 29 de outubro 2014: “Ele é um homem amável e compassivo, que quer que todo mundo seja incluído no amor de Deus; o Papa Francisco está quebrando as barreiras da Igreja Católica”, disse ao público durante a edição 2014 do evento Elton John AIDS Foundation, que foi realizado em Nova Iorque, na qual o célebre cantor e gênio da música internacional pronunciou um discurso marcado pela generosidade, que logo teve enorme repercussão. Na ocasião, John pediu para que o Papa Francisco fosse reconhecido imediatamente como santo: "Há dez anos um dos maiores obstáculos para o combate à sida era a Igreja Católica e hoje temos um Papa que questiona isso" e finalizou com a feliz expressão: “Agora façam imediatamente desse homem um santo”!

Sem esquecer o trinômio terra, moradia e trabalho, palavras saídas da boca abençoada do Santo Padre e dirigidas às lideranças dos movimentos populares, que concluíram no dia 29 de outubro de 2014 um encontro inédito, convocado a pedido do Santo Padre, que causou inaudito eco: “Estar ao lado dos pobres é Evangelho, não comunismo”, palavras que nos fazem lembrar da célebre frase de Dom Helder Câmara: "Se eu dou comida a um pobre, me chamam de santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre, me chamam de comunista”. Também são oportunas as palavras do pastor dos empobrecidos: “Ai do mundo se não fosse a utopia, ai do mundo se não fossem os sonhadores”, ao ser acusado de demagogo, sonhador ou outro cavaleiro andante.

É missão de todos nós colocarmos bem no centro da nossa existência a esperança, na certeza de que, a partir da mesma, a humanidade saiba perceber que é chamada a olhar para frente, de recordar e ter diante dos olhos e no âmago do coração a promessa do próprio Deus feita a Abraão: “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrarei” (cf. Gn 12, 1).  Daí a exortação do apóstolo Pedro, quando nos deixa clara a razão da nossa esperança, que se deve mostrar ao mundo (cf. 1Pd 3, 15), tão viva e presente no papa Francisco.

O que é esperança para nós cristãos? É a mais absoluta certeza do caminho certo, de que o mundo necessita de homens e mulheres com espíritos imbuídos desta virtude teologal, que no dizer do Santo Padre, o Papa Francisco, na catequese de 29 de outubro de 2014, significa: “Quando se olha Cristo não se erra”. E aqui me recorda a assertiva do apóstolo dos gentios: “Esperança, com efeito, é para nós qual âncora da alma, segura e firme, penetrante para  além do véu, onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito  sumo sacerdote para a eternidade, segundo a ordem de Melquisedec” (cf. Hb 6,19-20).

Esperança, que seja a palavra de ordem, a qual nos protege de todo mal e de todo desânimo, além de ser alento diante do sofrimento e esmorecimento; que permanentemente saibamos dar a devida importância, considerando-a um símbolo sólido de firmeza, força, tranquilidade e fidelidade, de tal modo que por meio dela, quando surgirem tempestades, possamos sempre mais nos colocar no caminho seguro e duradouro da existência humana. Quem sabe esperar no Senhor, jamais irá passar pelo perigo de ver seu barco naufragar. “O cristão deve ter paixão pela esperança” (Papa Francisco).
*Geovane Saraiva é padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso. É autor dos livros “O peregrino da Paz”, “Nascido Para as Coisas Maiores”, “A Ternura de um Pastor”, “A Esperança Tem Nome”, "Dom Helder: sonhos e utopias" e "25 Anos sobre Águas Sagradas”.