Júlio Lázaro Torma*
" E quem é o meu próximo?"
( Lc 10,29)
" E quem é o meu próximo?", é a pergunta que um doutor da Lei ( teólogo),faz a Jesus em tom de embaraça-lo.
Mas quantas vezes nós também não nos perguntamos sobre " quem é o meu próximo?".
Hoje nós vivemos numa época do medo,da desconfiança em relação ao
outro, aquilo que Thomás Hobbes no século XVII,havia cunhado do escritor
Tito Mácio Plauco( 230-180 a.C), "Homo homini lupus" ou " O Homem é o lobo do homem".
Onde cada vez mais imperá em nosso meio o individualismo,com ele os
falsos valores da sociedade de consumo e neoliberal.Onde o que impera é o
eu e as realizações dos meus
objetivos.
" Se eu estou bem",
não me importa o outro e para conseguir as minhas ambições pessoais
devo competir de forma feroz e agressiva,para a minha superação,êxito
individual no " salve se quem puder".
E onde nesta concorrência desleal só vence quem for mais esperto,o bom e
o melhor,a livre concorrência,os outros estão fada dos ao fracasso e
ficarem caídos pelo caminho.
Se de
um lado hoje vivemos num mundo globalizado,sem barreiras, fronteiras,
muros e aduanas,para o capital especulativo internacional e o deus
mamon,o dinheiro que é volátil de um canto a outro do planeta.Ai se
coloca barreiras, muros nas pessoas e entre as pessoas.
Onde tenho medo de me relacionar e conversar com o outro, incentivando um individualismo desenfreado e uma brutalização das
nossas relações humanas e afetivas,nos fechamos numa cultura do gueto.
Quando
falamos em meu próximo,logo remetemos para aqueles na qual convivo,meu
parentes,amigos e aquelas pessoas na qual gosto e convivo,mesmo que não
tenho nenhuma relação direta de convivência diária.
O próprio Jesus fala que " até os pagãos, ou os nossos inimigos também amam os seus amigos".
Nós seres humanos temos compaixão pelo outro, eu tenho compaixão por
quem está próximo de mim,pois a compaixão nasce pela simpatia que tenho
pelo outro,como escreve Santo Agostinho de Hipona," Nós só podemos amar quem conhecemos".
Para o núcleo semita ou judeu-cristão," Amarás o teu próximo como a ti mesmo"
( Lv 19,18), o meu próximo o meu irmão, minha irmã não é só aquele que
pertence
ao meu clã, mora na mesma localidade em que resido, do mesmo nível
social do que eu ou professa a mesma religião ou ideologia. Mas é todo o
ser humano sem distinção.
Quando amo o próximo, eu me esvazio de mim,me abro ao outro e me coloco no lugar do outro.
O cristianismo nasceu como uma revolução no mundo, com uma nova
ética,nas relações humanas entre as pessoas,como forma de humanizar o
homem,quando Jesus fala;" Este é o meu mandamento:Amai -vos uns aos
outros,como eu vos amo".
Quando eu
amo o outro ou a outra,me coloco no seu lugar.Se me coloco no lugar do
outro,eu na minha forma de agir e de me comunicar,com o outro.Procuro
fazer ao outro aquilo que desejo que o outro me faça.
Desejo ser tratado bem?, então vou tratar bem o outro, se trato o outro mal e machuco o
outro firo os seus sentimentos é certo que vou ser ferido também,ai vem a famosa regra de ouro:" TUDO O QUE VOCÊS DESEJAM QUE OS OUTROS FAÇAM A VOCÊS,FAÇAM VOCÊS A ELES"( Mt 7,12),todas as religiões e culturas tem o mesmo principio ético.
Eis que devemos ter para com o outro a mesma preocupação que temos
espontaneamente para com nós mesmos.Não se trata de nenhuma visão
calculista-dar para receber.Para o cristão é a compreensão do que é o
amor de Deus PAI.
No núcleo
ético-mítico dos semitas,na qual os cristãos e islãmicos somos
herdeiros,a ' posição primogênia é o face a face( cara a cara) de um
beduíno que na imensidão do deserto,divisa outro homem e espera que se
aproxime para poder reconhecê-lo;será preciso esperar que a distância se
faça proximidade para poder perguntar ao recém-chegado: " Quem és?" Seu rosto,curtido
pelo sol,pelo vento,pela areia,pelas noites frias e pela áspera vida de pastor nômade,é a epifania não " do outro eu", mas do " outro homem", sem similitude comum a tudo o que foi vivido pelo eu até este instante do face a face.
O outro e outro de mim.A lógica que me vincula a ele não é a " lógica da totalidade", mas a "lógica da alteridade", da '' outridade".A
resposta que vem do outro vem de onde eu não tenho acesso,onde minha
mão não alcança,onde eu não tenho domínio: vem da liberdade.
O outro é o meu próximo, como escreve Ernesto Che Guevara," sejam
sempre capazes de sentir, no mais profundo,qualquer injustiça cometida
contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo".Está é a qualidade
mais bela de um revolucionário,de um cristão e principalmente do ser
humano.
Toda
a pessoa é o meu próximo, pode ser aquele que conheço que mora do lado
da minha casa,como aquele que mora em Cabul.Aquela pessoa que eu sei que
nunca vou ve-la,vou ter contato é o meu próximo.
Quando alguém não tem acesso a uma vida digna.Quando uma mulher é
espancada, quando morre uma criança de fome na África, um índio é morto
em qualquer canto da América,algum palestino,iraquiano, afegã é morto em
algum bombardeio.Alguma vitima de catástrofe climática em qualquer
parte da orbe, isso me atinge.
No
Brasil temos 16 milhões de pessoas vivendo na extrema pobreza e 10
milhões de brasileiros vivem com menos de R$ 39 por mês. 10% das pessoas
que vivem no Brasil detem 75% da riqueza que o país produz e 5 mil
famílias (1%) controlam 45% da riqueza.
No mundo 0,16% da população dispõe de 66% dos recursos do
planeta.
Alguém vai me dizer " que
isso é normal", E desde que o mundo é mundo sempre foi assim e sempre
será assim.Entra Chico e sai Maneco,sai Renato e entra Lázaro e
continuará assim.
Será que é assim a
onde está o sentimento humano de ser humano?, não nos comportamos, nem
como os animais,mais parecemos robôs, máquinas,pois estamos embrutecidos
diante da dor do outro, nos deshumanizemos.
Quando alguém sofre eu também sofro, sou atingido,se alguém é atingida
pela violência, fome em qualquer lugar,também me atinge onde estou.
Qualquer ser humano que sofre,tem necessidade ou é morto,quem é
atingido é toda a humanidade, não importa o lugar em que vivo na orbe.
O Amor ao próximo, ele não tem barreiras, está além da
dimensão pessoal, familiar ( núcleo), rompe todas as barreiras.É uma questão política, ética e religiosa.
Pois sou intercalado a ter compaixão e ser solidário pelo
desconhecido,o distante é o meu próximo.Aquele que eu não conheço,não
sei o nome,sentimento ou identidade,ele é um ser humano, meu irmão.Como
ser humano merce o meu respeito e também sou responsável por ele.
Como pergunta Caim, " sou por acaso guarda do meu irmão?", sou responsável por ele.
Podemos dizer que sim.
Todos nós sem distinção somo s irmãos, não somos seres isolados no mundo e ninguém está imune.
quando alguém sofre toda a humanidade sofre, alguém é agredido toda
humanidade é agredida.Como fala os movimentos sociais, devemos
globalizar a luta e
João Paulo II,globalizar a solidariedade,onde todos possamos de fato
viver com dignidade,isto é sef cristão e ser humano de fato.
Bibliografia
Bíblia Sagrada
Sidekum, Antonio:Interpelação Ética, Ed Nova Harmonia, São Leopoldo (RS),2003
Zanotelli, Jandir: América Latina: Raízes Sócio-Político-Culturais, EDUCAT, Pelotas, 1998
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* Membro da Equipe Arquidiocesana da Pastoral Operária de Pelotas/ RS