28 de nov. de 2012

Quem é o meu Próximo

                                          Júlio Lázaro Torma*
                                                  " E quem é o meu próximo?"
                                                                  ( Lc 10,29)
  " E quem é o meu próximo?", é a pergunta que um doutor da Lei ( teólogo),faz a Jesus em tom de embaraça-lo.
  Mas quantas vezes nós também não nos perguntamos sobre " quem é o meu próximo?".
   Hoje nós vivemos numa época do medo,da desconfiança em relação ao outro, aquilo que Thomás Hobbes no século XVII,havia cunhado do escritor Tito Mácio Plauco( 230-180 a.C), "Homo homini lupus" ou " O Homem é o lobo do homem".
  Onde cada vez mais imperá em nosso meio o individualismo,com ele os falsos valores da sociedade de consumo e neoliberal.Onde o que impera é o eu e as realizações dos meus objetivos.
  " Se eu estou bem", não me importa o outro e para conseguir as minhas ambições pessoais devo competir de forma feroz e agressiva,para a minha superação,êxito individual no " salve se quem puder".
  E onde nesta concorrência desleal só vence quem for mais esperto,o bom e o melhor,a livre concorrência,os outros estão fada dos ao fracasso e ficarem caídos pelo caminho.
  Se de um lado hoje vivemos num mundo globalizado,sem barreiras, fronteiras, muros e aduanas,para o capital especulativo internacional e o deus mamon,o dinheiro que é volátil de um canto a outro do planeta.Ai se coloca barreiras, muros nas pessoas e entre as pessoas.
  Onde tenho medo de me relacionar e conversar com o outro, incentivando um individualismo desenfreado e uma brutalização das nossas relações humanas e afetivas,nos fechamos numa cultura do gueto.
 Quando falamos em meu próximo,logo remetemos para aqueles na qual convivo,meu parentes,amigos e aquelas pessoas na qual gosto e convivo,mesmo que não tenho nenhuma relação direta de convivência diária.
  O próprio Jesus fala que " até os pagãos, ou os nossos inimigos também amam os seus amigos".
  Nós seres humanos temos compaixão pelo outro, eu tenho compaixão por quem está próximo de mim,pois a compaixão nasce pela simpatia que tenho pelo outro,como escreve Santo Agostinho de Hipona," Nós só podemos amar quem conhecemos".
  Para o núcleo semita ou judeu-cristão," Amarás o teu próximo como a ti mesmo" ( Lv 19,18), o meu próximo o meu irmão, minha irmã não é só aquele que pertence ao meu clã, mora na mesma localidade em que resido, do mesmo nível social do que eu ou professa a mesma religião ou ideologia. Mas é todo o ser humano sem distinção.
  Quando amo o próximo, eu me esvazio de mim,me abro ao outro e me coloco no lugar do outro.
   O cristianismo nasceu como uma revolução no mundo, com uma nova ética,nas relações humanas entre as pessoas,como forma de humanizar o homem,quando Jesus fala;" Este é o meu mandamento:Amai -vos uns aos outros,como eu vos amo".
  Quando eu amo o outro ou a outra,me coloco no seu lugar.Se me coloco no lugar do outro,eu na minha forma de agir e de me comunicar,com o outro.Procuro fazer ao outro aquilo que desejo que o outro me faça.
  Desejo ser tratado bem?, então vou tratar bem o outro, se trato o outro mal e machuco o outro firo os seus sentimentos é certo que vou ser ferido também,ai vem a famosa regra de ouro:" TUDO O QUE VOCÊS DESEJAM QUE OS OUTROS FAÇAM A VOCÊS,FAÇAM VOCÊS A ELES"( Mt 7,12),todas as religiões e culturas tem o mesmo principio ético.
  Eis que devemos ter para com o outro a mesma preocupação que temos espontaneamente para com nós mesmos.Não se trata de nenhuma visão calculista-dar para receber.Para o cristão é a compreensão do que é o amor de Deus PAI.
  No núcleo ético-mítico dos semitas,na qual os cristãos e islãmicos somos herdeiros,a ' posição primogênia é o face a face( cara a cara) de um beduíno que na imensidão do deserto,divisa outro homem e espera que se aproxime para poder reconhecê-lo;será preciso esperar que a distância se faça proximidade para poder perguntar ao recém-chegado: " Quem és?" Seu rosto,curtido pelo sol,pelo vento,pela areia,pelas noites frias e pela áspera vida de pastor nômade,é a epifania não " do outro eu", mas do " outro homem", sem similitude comum a tudo o que foi vivido pelo eu até este instante do face a face.
  O outro e outro de mim.A lógica que me vincula a ele não é a " lógica da totalidade", mas a "lógica da alteridade", da '' outridade".A resposta que vem do outro vem de onde eu não tenho acesso,onde minha mão não alcança,onde eu não tenho domínio: vem da liberdade.
  O outro é o meu próximo, como escreve Ernesto Che Guevara," sejam sempre capazes de sentir, no mais profundo,qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo".Está é a qualidade mais bela de um revolucionário,de um cristão e principalmente do ser humano.
  Toda a pessoa é o meu próximo, pode ser aquele que conheço que mora do lado da minha casa,como aquele que mora em Cabul.Aquela pessoa que eu sei que nunca vou ve-la,vou ter contato é o meu próximo.
  Quando alguém não tem acesso a uma vida digna.Quando uma mulher é espancada, quando morre uma criança de fome na África, um índio é morto em qualquer canto da América,algum palestino,iraquiano, afegã é morto em algum bombardeio.Alguma vitima de catástrofe climática em qualquer parte da orbe, isso me atinge.
  No Brasil temos 16 milhões de pessoas vivendo na extrema pobreza e 10 milhões de brasileiros vivem com menos de R$ 39 por mês. 10% das pessoas que vivem no Brasil detem 75% da riqueza que o país produz e 5 mil famílias (1%) controlam 45% da riqueza.
  No mundo 0,16% da população dispõe de 66% dos recursos do planeta.
   Alguém vai me dizer " que isso é normal", E desde que o mundo é mundo sempre foi assim e sempre será assim.Entra Chico e sai Maneco,sai Renato e entra Lázaro e continuará assim.
  Será que é assim a onde está o sentimento humano de ser humano?, não nos comportamos, nem como os animais,mais parecemos robôs, máquinas,pois estamos embrutecidos diante da dor do outro, nos deshumanizemos.
  Quando alguém sofre eu também sofro, sou atingido,se alguém é atingida pela violência, fome em qualquer lugar,também me atinge onde estou.
  Qualquer ser humano que sofre,tem necessidade ou é morto,quem é atingido é toda a humanidade, não importa o lugar em que vivo na orbe.
  O Amor ao próximo, ele não tem barreiras, está além da dimensão pessoal, familiar ( núcleo), rompe todas as barreiras.É uma questão política, ética e religiosa.
  Pois sou intercalado a ter compaixão e ser solidário pelo desconhecido,o distante é o meu próximo.Aquele que eu não conheço,não sei o nome,sentimento ou identidade,ele é um ser humano, meu irmão.Como ser humano merce o meu respeito e também sou responsável por ele.
  Como pergunta Caim, " sou por acaso guarda do meu irmão?", sou responsável por ele.
  Podemos dizer que sim.
  Todos nós sem distinção somo s irmãos, não somos seres isolados no mundo e ninguém está imune.
  quando alguém sofre toda a humanidade sofre, alguém é agredido toda humanidade é agredida.Como fala os movimentos sociais, devemos globalizar a luta e João Paulo II,globalizar a solidariedade,onde todos possamos de fato viver com dignidade,isto é sef cristão e ser humano de fato.
              Bibliografia
 Bíblia Sagrada
 Sidekum, Antonio:Interpelação Ética, Ed Nova Harmonia, São Leopoldo (RS),2003
 Zanotelli, Jandir: América Latina: Raízes Sócio-Político-Culturais, EDUCAT, Pelotas, 1998
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  * Membro da Equipe Arquidiocesana da Pastoral Operária de Pelotas/ RS

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