19 de fev. de 2015

O COP 20 no Peru é uma farsa?

O COP 20 no Peru é uma farsa?
Considerado um dos países mais perigosos para ativistas ambientais, o Peru sediou a cúpula anual da ONU sobre mudança climática, mas líderes comunitários e indígenas afirmam que a ação é uma hipocrisia
Por Stephanie Boyd, em New Internationalist | Tradução por Vinicius Gomes
fONTE:http://revistaforum.com.br/digital/177/cop-20-peru-e-uma-farsa/
Realizada no início de dezembro, em Lima, no Peru, a COP 20 – série de reuniões sobre mudança climática promovidas pela ONU – foi acusada de hipócrita e enganadora pelos líderes indígenas e ativistas ambientais. O Peru gastou cerca de 54 milhões de dólares para sediar o evento e receber líderes de 195 países e mais de 10 mil delegados em sua capital.
Todavia, por trás do “carpete verde” cuidadosamente preparado pelo governo, o presidente Ollanta Humama e seus adidos promovem políticas destrutivas que representam retrocessos na legislação ambiental. Um exemplo é a falha na proteção de comunidades indígenas em seus direitos à terra e água, assim como a violenta repressão policial a que são submetidas.
Alfonso Lopez, um líder Kokama da Amazônia peruana, contou ao canal de televisão mais popular do país, o Canal N, que a COP 20 era uma farsa. Lopez afirmou que a estatal petrolífera PetroPeru tem despejado petróleo por mais de dez anos nos rios de sua comunidade e que nenhum de seus recursos hídricos eram aptos para o consumo humano. “A conferência é uma tentativa de acobertar a desgraça na qual as comunidades indígenas estão vivendo no interior do Peru”, disse.
De acordo com um novo relatório da ONG Global Witness, o Peru é o quarto país mais perigoso para ambientalistas. Pelo menos 57 ativistas ambientais foram assassinados no país andino desde 2002 – a maioria das mortes relacionadas a projetos de minas.
Há dois anos, três homens foram mortos pela polícia durante protestos contra a mina Glencore-Xstrata, ao sul dos Andes. Há poucas semanas, outros cinco ativistas morreram da mesma maneira, por conta de uma greve contra a empresa Newmont na mina de Yanacocha, ao norte dos Andes.
Novas legislações contra protestos de rua no Peru têm permitido que a polícia use armas de fogo contra manifestantes pacíficos e que seu agentes não sejam punidos por tais ações. Outra novidade é que os sobreviventes podem receber uma sentença de até 20 anos de prisão por “crimes”, como bloquear estradas.
O relatório da Global Witness dá ênfase ao assassinato, em setembro, de Edwin Chota e três outros líderes ambientalistas por madeireiros ilegais na Amazônia. Há mais de uma década, a comunidade nativa de Chota, os Ashaninka, tem exigido reconhecimento por suas terras ancestrais. Os quatro homens assassinados eram críticos da venda ilegal de madeira.
A indústria madeireira ilegal do Peru é um grande negócio: uma única árvore de mogno pode valer mais de 11 mil dólares nos Estados Unidos. A taxa de desflorestamento no Peru dobrou entre 2011 e 2012, e a destruição da Amazônia peruana é responsável por metade das emissões de gases estufas do país.
As comunidades indígenas são defensoras vitais dessas florestas, mas o Peru tem sido lento em reconhecer seus direitos à terra. Mais de 20 milhões de hectares, clamados judicialmente pelos indígenas, estão ainda sob custódia do governo, que não decide se os destina aos povos tradicionais. A nova legislação não ajuda: enfraquece os direitos dos nativos ao seu próprio território.
O fraco histórico do governo em relação ao cumprimento da legislação ambiental culminou em um aumento de conflitos. O país chegou ao ponto de registrar 135 confrontos socioambientais em outubro, sendo em sua maioria, relacionados a projetos de mineração, gás e petróleo.
Comunidades agrícolas e indígenas afirmam enfrentar a contaminação de seus recursos hídricos e perda de terras férteis por conta das mineradoras estrangeiras, assim como do óleo e gasodutos. Fora o amplo desflorestamento causado pela indústria ilegal de mineração.
(Foto de Capa: Jorge Rios, um dos ambientalistas assassinado em setembro de 2014, e sua família/Global Witness

17 de fev. de 2015

Campanha da Fraternidade


Campanha da Fraternidade inicia na quarta-feira

A Igreja está a serviço das pessoas, afirma dom Leonardo sobre a relação entre Igreja e sociedade, tema da CF 2015




Neste ano, são comemorados os 50 anos do encerramento do Concílio Vaticano II, um dos eventos mais marcantes da Igreja no século XX. A reunião episcopal foi realizada de outubro de 1962 a outubro de 1965.

No Brasil, eventos para celebrar o cinqüentenário vêm sendo realizados no último triênio. Para 2015, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe uma reflexão mais ampla sobre o Concílio, por meio da Campanha da Fraternidade (CF), que será aberta oficialmente, em âmbito nacional, na Quarta-Feira de Cinzas, 18 de fevereiro, às 10h45, com transmissão ao vivo pelas emissoras católicas de rádio e televisão.

O tema “Fraternidade: Igreja e sociedade” e o lema “Eu vim para servir” abordam a relação entre a Igreja e a sociedade à luz da fé cristã e dos documentos do Concílio Vaticano II.

De acordo com o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, o tema é bastante aberto e provoca uma “debate sobre a participação e atuação dos cristãos na vida social”.

O objetivo almejado pela CF 2015 é aprofundar, a partir do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus.

A Campanha também quer fazer memória ao caminho percorrido pela Igreja com a sociedade, para identificar e compreender os principais desafios da atualidade; apresentar os valores espirituais do Reino de Deus e da Doutrina Social da Igreja; apontar as questões desafiadoras na evangelização da sociedade e estabelecer parâmetros e indicadores para a ação pastoral; aprofundar a compreensão da dignidade da pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do espírito e do diálogo inter-religioso e intercultural, para superar as relações desumanas e violentas.
Além disso, a Campanha propõe ainda buscar novos métodos, atitudes e linguagens na missão da Igreja de levar a Boa Nova a cada pessoa, cada família; atuar profeticamente, com base na evangélica opção preferencial pelos pobres, para um desenvolvimento integral da pessoa e a construção de uma sociedade justa e solidária.
Fonte:/Capuhinhosrs.org.br

5 de fev. de 2015

A Revolução Ignorada


                                  Júlio Lázaro Torma*
                                             " Todos aqueles que vos buscam,
                                                hão de louvar-vos ó Senhor"
                                                                   ( Sl 22(21),27)
   O Evangelho de Marcos, escrito pelo ano 70 d.C, nos fala de uma atitude desconcertante de Jesus para com os seus discípulos,bem como para a sociedade de seu tempo.
   Jesus como é de seu feitio transgride as leis, as normas da religião oficial e os costumes de seu tempo. O que os homens rejeitam e excluí, Jesus inclui e acolhe, no caso aqui é de duas mulheres, rejeitadas pela sociedade a mulher hemorrágica e a adolescente de 12 anos filha do rabino Jairo,chefe da sinagoga.
   A mulher sofre dupla discriminação por ser mulher, que na sociedade era considerada inferior e por ser doente.Ela sofria de hemorragia á doze anos,o que fazia ser considerada impura,como mandava o livro de Levítico," Quando uma mulher tiver o seu fluxo de sangue ficará impura" ( Lv 15,19-33).
   E todo o homem que a toca-se ou objeto que ela toca-se ficava impuro.
    Ela durante todos estes anos foi vítima da exploração por parte de médicos que em vez de cura-la a exploravam tirando tudo o que tinha.A menina é excluída pois está morta e não pode fecundar.
    Jesus cura a mulher e ressuscita a menina.Ele faz um gesto Litúrgico e Eucarístico. Ao chamar a menina e mandou que " lhe desse de comer" ( Mc 5,43).Ele está fazendo um gesto Eucarístico.Onde todos são chamados a participar da Mesa da Eucaristia e a " Tomai e comei, isto é o meu corpo" ( Mt 26,26).
    Na messa da Eucaristia não á exclusão e todos são iguais é a messa da igualdade.
   O Cristianismo,o movimento de Jesus é a religião da inclusão e da igualdade, como nos mostra as mesmas narrativas deste texto nas comunidades mateanas e lucanas( Mt 9,18-26 = Lc 8,40-56).
     A Igreja hoje hierarquizada perdeu o sentido revolucionário de Jesus. Por ser guiada por varões acabamos ignorando está " revolução" de Jesus de acolhida das mulheres. A jovem de 12 anos morta e infecunda,que não pode dar a vida, é chamada a viver e ser fonte de vida.
   Muitas vezes somos coniventes diante dos sofrimentos das mulheres, do feminicídio e o extermínio da juventude na qual consideramos até normal.
    Como a violência física, sexual, psicológica, o assedio moral e sexual sofrida pelas mulheres, mesmo existindo um grande avanço para coibir estas práticas, na legislação penal como a Lei Maria da Penha. Que mesmo tendo não consegue reduzir o número de atos sofridos pela mulher e o número de homicídios ou feminicídios.
    Não é cabível que dentro da Igreja, de nossas famílias,comunidades,pastorais tenhamos ou reproduzimos práticas machistas,patriarcais ou atitudes que machucam, denigram ou reduza o papel e desvaloriza a mulher.
   Um cristão deve olhar a mulher com os olhos de Jesus em vez de desvalorizar, valoriza-la e vê-la como uma irmã e amiga que deve ser valorizada e respeitada por ser ela filha de um mesmo Pai que nos fez iguais,pois nós " somos imagem e semelhança de Deus"( Gn 1,26).
     Nós varões somos chamados á uma " profunda conversão", a superar o machismo e o patriarcalismo que nos desfigura reinante em nossa sociedade e na igreja.
    Devemos ter novas relações entre homem e mulher. As diferenças entre os sexos, além de sua função na geração de uma nova vida,devem ser encaminhadas para a cooperação,apoio e crescimento mútuos.
    E para isso, nós varões precisamos escutar com muito mais lucidez e sinceridade a interpelação daquele de que segundo o relato do Evangelho," saiu uma força" para curar a mulher.
         Mc 5,21-43
 _________________________
  * Membro do Colegiado da Pastoral Operária Nacional

3 de fev. de 2015

Novos perfis de família

Fonte: domtotal.com

Maria Antônia, bebê gaúcho, tem duas mães, um pai, seis avós! Nascida em Santa Maria, em setembro de 2014, o juiz Rafael Cunha autorizou seu registro de nascimento.

Os pais são Fernanda, Mariani e Luis Guilherme, que engravidou uma das moças e fez questão de ter seu nome na certidão de nascimento. O juiz reconheceu legalmente que Maria Antônia nasceu em um "ninho multicomposto".

Desde que resolução do Conselho Federal de Medicina, em 2013, permitiu a utilização de técnicas de fecundação "in vitro" por casais homoafetivos, cresceu no Brasil o número de crianças registradas em nome de dois pais ou duas mães.

O preconceito ainda impede que muitos reconheçam o óbvio: o perfil da família já não se restringe ao da relação monogâmica heterossexual.

Quem melhor percebe essa mutação é o papa Francisco que, em vez de se fingir de cego, como papas anteriores frente aos fenômenos da pós-modernidade, convocou um sínodo para debater o tema. Precedido por reunião extraordinária em outubro de 2014, o Sínodo da Família terá lugar em Roma, em outubro deste ano.

No questionário remetido a todas as dioceses do mundo, o papa pergunta como os católicos encaram casais recasados, a homossexualidade e outros temas considerados polêmicos no interior da Igreja. Francisco quis ouvir as bases, num gesto inédito de democratização da instituição eclesiástica.

É o fim da família? A família é uma estrutura cultural, não natural. Tal como a conhecemos hoje, existe há apenas meio milênio. Aliás, hoje se multiplicam as famílias monoparentais, cujo "chefe" é a mãe. Em comunidades indígenas, a qualidade de proteção e afeto às crianças faz a todos nós, "civilizados", corar de vergonha.

Para quem, como eu, foi educado no catolicismo à luz de estampas da Sagrada Família, não é fácil acolher os novos perfis de relações afetivas. Porém, ao abrir o Evangelho, nos deparamos com algo distinto do modelo devocional: o jovem Jesus que se desgarra do cuidado dos pais e abandona a caravana de peregrinos; o pregador ambulante que não merece a credibilidade de seus irmãos (João 7,5) e a família o tem na conta de "louco" (Marcos 3,21-31); o filho que parece rejeitar a própria família: "Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?" (Mateus 12, 48).

Quando exclamaram a Jesus "Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram", ele não desmentiu, mas assinalou a diferença: "Felizes, antes, os que ouvem a palavra de Deus e a observam." (Lucas 11, 27-28).

Jesus enfatizou que não são os laços de sangue que mais aproximam as pessoas, e sim o projeto comum que elas assumem.

Projetos alternativos criam conflitos. Jesus chegou a falar em "odiar" a própria família (Lucas 14, 26). O verbo grego miseo (=odiar) pode ser traduzido por "amar menos": "Se alguém quer me seguir e não prefere a mim mais que a seu pai e sua mãe..."

Frente ao modelo de família-gueto, centrada no umbigo de seus membros e avessa a estranhos e necessitados, Jesus propôs um modelo de família aberta, centrada no afeto, na gratuidade e na abertura ao próximo.

A família do século XXI já não será apenas a que possui em comum características biológicas, e sim a que o amor aproxima e une pessoas comprometidas com um projeto comum de vida, que estabelece entre elas profundas relações de intimidade e reciprocidade.

E há que lembrar que, em sua recente visita à Ásia, o papa Francisco rogou aos fiéis católicos que evitem "ser como coelhos", procriando irresponsavelmente. Um sinal de que os métodos contraceptivos, como o uso do preservativo, serão afinal aceitos pela Igreja Católica?

Frei Betto é escritor e religioso dominicano. Recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares. Foi assessor especial da Presidência da República entre 2003 e 2004. É autor de "Batismo de Sangue", e "A Mosca Azul", entre outros.