5 de fev. de 2015

A Revolução Ignorada


                                  Júlio Lázaro Torma*
                                             " Todos aqueles que vos buscam,
                                                hão de louvar-vos ó Senhor"
                                                                   ( Sl 22(21),27)
   O Evangelho de Marcos, escrito pelo ano 70 d.C, nos fala de uma atitude desconcertante de Jesus para com os seus discípulos,bem como para a sociedade de seu tempo.
   Jesus como é de seu feitio transgride as leis, as normas da religião oficial e os costumes de seu tempo. O que os homens rejeitam e excluí, Jesus inclui e acolhe, no caso aqui é de duas mulheres, rejeitadas pela sociedade a mulher hemorrágica e a adolescente de 12 anos filha do rabino Jairo,chefe da sinagoga.
   A mulher sofre dupla discriminação por ser mulher, que na sociedade era considerada inferior e por ser doente.Ela sofria de hemorragia á doze anos,o que fazia ser considerada impura,como mandava o livro de Levítico," Quando uma mulher tiver o seu fluxo de sangue ficará impura" ( Lv 15,19-33).
   E todo o homem que a toca-se ou objeto que ela toca-se ficava impuro.
    Ela durante todos estes anos foi vítima da exploração por parte de médicos que em vez de cura-la a exploravam tirando tudo o que tinha.A menina é excluída pois está morta e não pode fecundar.
    Jesus cura a mulher e ressuscita a menina.Ele faz um gesto Litúrgico e Eucarístico. Ao chamar a menina e mandou que " lhe desse de comer" ( Mc 5,43).Ele está fazendo um gesto Eucarístico.Onde todos são chamados a participar da Mesa da Eucaristia e a " Tomai e comei, isto é o meu corpo" ( Mt 26,26).
    Na messa da Eucaristia não á exclusão e todos são iguais é a messa da igualdade.
   O Cristianismo,o movimento de Jesus é a religião da inclusão e da igualdade, como nos mostra as mesmas narrativas deste texto nas comunidades mateanas e lucanas( Mt 9,18-26 = Lc 8,40-56).
     A Igreja hoje hierarquizada perdeu o sentido revolucionário de Jesus. Por ser guiada por varões acabamos ignorando está " revolução" de Jesus de acolhida das mulheres. A jovem de 12 anos morta e infecunda,que não pode dar a vida, é chamada a viver e ser fonte de vida.
   Muitas vezes somos coniventes diante dos sofrimentos das mulheres, do feminicídio e o extermínio da juventude na qual consideramos até normal.
    Como a violência física, sexual, psicológica, o assedio moral e sexual sofrida pelas mulheres, mesmo existindo um grande avanço para coibir estas práticas, na legislação penal como a Lei Maria da Penha. Que mesmo tendo não consegue reduzir o número de atos sofridos pela mulher e o número de homicídios ou feminicídios.
    Não é cabível que dentro da Igreja, de nossas famílias,comunidades,pastorais tenhamos ou reproduzimos práticas machistas,patriarcais ou atitudes que machucam, denigram ou reduza o papel e desvaloriza a mulher.
   Um cristão deve olhar a mulher com os olhos de Jesus em vez de desvalorizar, valoriza-la e vê-la como uma irmã e amiga que deve ser valorizada e respeitada por ser ela filha de um mesmo Pai que nos fez iguais,pois nós " somos imagem e semelhança de Deus"( Gn 1,26).
     Nós varões somos chamados á uma " profunda conversão", a superar o machismo e o patriarcalismo que nos desfigura reinante em nossa sociedade e na igreja.
    Devemos ter novas relações entre homem e mulher. As diferenças entre os sexos, além de sua função na geração de uma nova vida,devem ser encaminhadas para a cooperação,apoio e crescimento mútuos.
    E para isso, nós varões precisamos escutar com muito mais lucidez e sinceridade a interpelação daquele de que segundo o relato do Evangelho," saiu uma força" para curar a mulher.
         Mc 5,21-43
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  * Membro do Colegiado da Pastoral Operária Nacional

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