3 de jun. de 2015

Geração Cabeça Baixa

Publicado por Frei Elton Caires Santos 
GERAÇÃO “CABEÇA BAIXA”
É bom que se diga que a tecnologia não é coisa de hoje. Não foi Bill Gates que lha inventou. Conforme suas origens na Grécia Antiga, a tecnologia é o conhecimento científico (teoria) – teoria quer dizer ver com o espírito - transformado em técnica (habilidade). “A tecnologia envolve um conjunto organizado e sistematizado de diferentes conhecimentos científicos, empíricos e até intuitivos, voltados para um processo de aplicação na produção e na comercialização de bens e serviços” (GRISPUN, 1999, 49). Isso quer dizer que todas as gerações vivem a sua tecnologia. Antigamente, uma geração era definida a cada 25 anos. Nos tempos atuais, no entanto, não é preciso esperar muito e - afirma-se - que a cada 10 anos surge uma nova geração. Nesse sentido, a história registrou a Geração Baby Boomer (os nascidos após a Guerra de 1945), a Geração X (geração diretas já e o fim da ditadura), a Geração Y (a geração da tecnologia e da inovação a qualquer custo) e a Geração Z (os jovens nascidos na década de noventa do século passado, cujo perfil é imediatista, com características nano tecnológicas). Como uma espécie de subgrupo da geração Y e Z, surge a “Geração Cabeça Baixa”. Não entenda “cabeça baixa” como uma atitude de respeito ao interlocutor, atenção aos mais velhos ou uma obediência cega, muito pelo contrário. A Geração “Cabeça Baixa” é imposição, é aquela que não olha no olho porque não tira o olho do seu brinquedo eletrônico (iphone, ipad, tablet e todas as mídias digitais). Essa geração está estabelecendo uma relação interpessoal com as coisas e uma relação coisificada com as pessoas. Que paradoxo! Não se levanta a cabeça para falar com o outro porque o entretenimento privativo é a regra maior. Afinal de contas, hoje, no Brasil, por exemplo, tem mais celular habilitado do que gente registrada nos Cartórios de Pessoas Naturais. Foi-se observado – pasmem!- que as pessoas se reúnem em bares, eventos sociais e até casais em momentos de intimidade, mas não são capazes de conversar viva voz, de estabelecer uma comunicação direta, e sim mediante as ferramentas digitais oferecidas pelo mercado, muitas vezes em tom de exibicionismo, exclusividade e, por conseguinte, status. Hoje, já é possível observar uma roda de amigos e cada um – em silêncio – com o seu instrumento eletrônico mais moderno, última geração, teclando com aqueles que estão longe. E aqueles que estão próximos? A verdade é que não basta ser alfabetizado e conhecer os “ícones” para dominar a tecnologia, precisa-se, de fato, de uma educação tecnológica que deixe on line as pessoas de longe e, sobretudo, as pessoas de perto. Portanto, a “Geração Cabeça Baixa” está encurvada diante de si mesma ou, o que é pior, está adorando o digital em detrimento do analógico, o ser humano. Aqui, analógico quer dizer, a terapia do abraço, da atenção, do cafuné, do bom dia, do “verdadeiro mundo real”, da pessoa humana em “tempo real”. Por isso, é preciso viver de cabeça erguida, com os olhos fixos na verdadeira vida, que está n’ Ele, o Ressuscitado, vivo e glorioso. Com isso, faz-se eco a um bordão de um famoso radialista chamado Newton Moura Costa, que hoje surge como um apelo: “Levante a cabeça. Não esmoreça. Pra frente é que se anda!”
Sobre o autor

Frei José Jorge Rocha

Professor na Universidade Católica do Salvador, Formador do Pós-Noviciado I e II, Guardião da Fraternidade Frei Urbano em Salvador-BA.

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