Júlio Lázaro Torma*
Olhando a visita do Ícone e da Cruz da Jornada Mundial da Juventude (
JMJ), nos dois dias em que estiveram em Pelotas ( RS) e o número de
pessoas nas atividades nos chama a reflexão
junto aos dados do censo do IBGE( 2010).
O Brasil é hoje a 6ª economia do mundo,superamos a Grã Bretanha e somos
194 milhões de habitantes.Sendo que 123 milhões se declaram católicos
e 42,3 milhões se declaram evangélicos do ramo pentecostal ou
neo-pentecostal.
Fomos o maior país católico do mundo,onde em 1980 com a visita de João Paulo II, 85% se declarava católica.
Porque está evasão de fieis nas últimas três decadas,se formos olhar
ela esta ligada ao pontificado de João Paulo II ( 1978-2005) e ao atual
pontificado de Bento XVI.
Muitos
tentam colocar a culpa na Teologia da Libertação,nas reformas do
Concilio Vaticano II ( 1962-1965),nas conferências de Medellin ( 1968) e
Puebla ( 1979), que consagraram a " Opção preferencial pelos pobres" e
as " comunidades eclesiais de base".
Mas se olharmos o auge da Teologia da Libertação, ela ocorre nos anos
de 1970-1980, quando o catolicismo era a maioria da população
brasileira.
E que tinhamos um
episcopado sensível aos apelos e sofrimentos das classes populares, com
valiosos,zelosos e proféticos pastores como D.Helder Câmara,D. Ivo
Lorscheider,D. Luciano Mendes de Almeida,D. Paulo Evaristo Arns,D. Tomás
Balduino,D. Pedro Casaldáliga.Foi a época em que surge as pastorais
sociais,as CEBs se difundem por todos os quatro cantos do país.
Com o processo de curianização mundial e desmantelamento do Concilio
Vaticano II, a volta da grande disciplina e a " primavera interrompida"
de João Paulo II, á nivel mundial.
Tal processo de desmantelamento do Concilio e das Conferências de
Medellin, Puebla pelo Vaticano,fez com que desse força e folego aos
movimentos burgueses.
No qual a Opus Dei que no conclave de 1978, elegeu o Cardeal polonês Karol Wojtyla, como sucessor de
João Paulo I ( Cardeal Albino Luciani).
Eis que tais movimentos como o Opus Dei, de carácter burguês,
conservadores e de matizes eurocentricas e norte americana, começaram a
ter força no inicio da década de 1990, com a ofensiva neoconservadora de
João Paulo II, com apoio de dioceses, arquidioceses do Rio Grande do
Sul e Rio de Janeiro, onde merece destaque o papel desempenhado do
Cardeal Eugênio de Araújo Salles,o programa Evangelização 2000,por via
satélite.
Com o processo de
desmantelamento das pastorais sociais e as comunidades eclesiais de
base, se convertendo em comunidades eclesiais burocráticas, clubes
eclesiais de base.Onde agentes de pastorais comprometidos foram
colocados de lado.
Conforme acontece a burocratização das cebs e a substituição delas por movimentos conservadores e neopentecostais, a Igreja
Católica perde fieis e vê seu rebanho diminuir cada vez mais.
Do outro lado vemos a proliferação de canais de televisão católicos,com
uma programção conservadora,padres cantores, seminaristas pop star, sex
simbol, disputando audiência com canais de televisão e programas
evangélicos.
Movimentos exóticos,
inspirados na idade média, com trajes medievais, costumes estranhos,
maniqueistas e jansenistas, valam línguas estranhas, volta do latim.
Falam mal da teologia da libertação e colocam nela todos os males, o insusseso de sua própria evangelização neopentecostal.
Há um próverbio popular que diz:" faça o que eu digo e não faça o que eu faço" e diga com quem andas que direi quem és".
O pregador oficial da Casa Pontifícia Frei
Raniero Cantalamessa( O.F.M Cap),falou: " A Igreja vez a opção pelos pobres e os pobres fizeram a opção pelas seitas".
Mas será que foram os pobres que mudarão de lado ou foi a Igreja que
mudou?,ela fala em opção pelos pobres,mas procura se aproximar cada vez
mais dos ricos,das elites econômicas.
Se fala em opção pelos pobres, mas o que na prática vemos a hierarquia
rodeada pelos ricos, nas solenidades os ricos estão do lado dos
clérigos( ex Pe. Marcelo Rossi ao lado de Xuxa,Gugu, José Serra,...),
que causa mal estar nas classes empobrecidas e o seu afastamento da
instituição.
Tais movimentos são
burgueses e voltados para a burguesia, com uma teologia
conservadora.Priorizam o individual e as concentrações de massa.
Diferente das CEBs e pastorais, " pequenos grupos,
onde as pessoas tenham contados" (E.N),onde conheço e sei a onde mora, os seus sentimentos de quem está ao meu lado.
Os movimentos prometem igrejas lotadas,mas o que vemos é uma evasão de
fieis progressivamente para outras pequenas denominações
pentecostais.Onde há uma forte atuação dos movimentos ou que as
lideranças das comunidades são conservadoras,podemos ver uma forte
atuação e crescimento das denominações pentecostais ou
neo-pentecostais,diferente á onde as Cebs,pastorais atuam.
" Hoje em dia diante do agravamento da situação social, diante da
contestação crescente que expressa no mundo inteiro contra o sistema
neoliberal,a questão reaparece:" A Igreja está a favor dos ricos ou dos
pobres?"Não se trata de uma mera questão de palavras.
Pelas palavras todos estão em favor da promoção dos pobres e
todos se proclamam a serviço da libertação dos pobres.Mas os discursos
nada significam.É necessário ver os fatos e os resultados concretos"(
José Comblin).
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* Membro da Equipe da Pastoral Operária Arquiciocesana de Pelotas /RS
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