Marcelo Barros
Fonte: Adital.com.br
Há
um ano, após uma doença inesperada e muito virulenta, vimos partir para Deus o presidente Hugo
Chávez. No Brasil, a imensa maioria dos jornais e revistas o apresentaram como
matéria de capa, mesmo se, de todos os modos possíveis, procuraram denegrir a
figura do presidente Chávez. Na Venezuela, por uma semana inteira, da manhã à
noite, multidões formaram filas para lhe prestar homenagem e passar diante do
seu corpo. Em sua imensa maioria, vindas de todo o país, eram pessoas pobres
que queriam manifestar sua tristeza e agradecer pessoalmente ao homem que
reacendeu na Venezuela a chama do bolivarianismo e restituiu ao seu povo a
dignidade de ser o berço de uma nova integração latino-americana.
Intelectuais
e militantes sociais de todo o mundo reconhecem: no final do século XX, em um
momento histórico, no qual o Socialismo estava desacreditado pela corrupção e
ineficiência dos governos ditos socialistas de alguns países da Europa, Hugo
Chávez soube restituir a dignidade da política como um ato de amor solidário e mostrou
ao mundo que é possível um socialismo de tipo novo, democrático e a partir das
culturas oprimidas.
Durante
o Fórum Social Mundial de Caracas, em 2007, estava eu junto com Dom Tomás
Balduíno em uma conversa com a presidência da Conferência Nacional dos
Religiosos da Venezuela. E Dom Tomás perguntou ao padre, presidente da
conferência, o que os religiosos pensavam de Hugo Chávez. O religioso
respondeu: "Todos nós reconhecemos que, pela primeira vez, na Venezuela, temos
um governo que se preocupa com os mais pobres e vive para servi-los. Mas, o
presidente se une a Fidel Castro e não
respeita a liderança da Igreja Católica no país”. Saímos daquele encontro
lamentando que, ao invés de unir-se a todas as forças da sociedade no serviço
aos mais pobres, grande parte da hierarquia católica ainda se mantinha presa à tentação
do poder e do prestígio.
A ONU e organismos internacionais como a FAO
(Organização para a Agricultura e Alimentação da ONU) reconhecem que, de todos
os países latino-americanos, a Venezuela foi o que mais conseguiu diminuir a
desigualdade social. Superou totalmente o analfabetismo e avançou muito no
plano da saúde pública. Sem dúvida, há muitos desafios a vencer. Nesses dias, o
governo e o povo da Venezuela enfrentam um ataque violento por parte de alguns
setores da elite do país que perderam privilégios e são apoiados economicamente
pelo governo norte-americano. Os próprios meios de comunicação que não se
cansam em denegrir os governos populares latino-americanos mostram entrevistas
com estudantes que fazem protestos na Venezuela. E esses jovens declaram que o
fazem para retomar seus direitos de ir estudar nos Estados Unidos e comprar os
produtos de consumo que melhor lhes aprouver. De fato, a democratização dos
meios econômicos não tem facilitado isso para uma pequena elite, a custa da
maioria.
No decorrer dos tempos, muitas vezes, as Igrejas e religiões se posicionaram do lado dos poderosos que podiam ajuda-las e foram contrárias a qualquer projeto social e político transformador. Atualmente, cada vez mais as pessoas que têm fé em Deus ou buscam viver uma espiritualidade humana sabem: a justiça social e a realização dos direitos humanos, não só individuais, mas dos grupos e comunidades constituem uma base fundamental para a realização do projeto divino no mundo. Paulo dizia que a nossa fé deve levar à realização da justiça (Carta aos romanos) e que "foi para que sejamos verdadeiramente livres que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1).
Nenhum comentário:
Postar um comentário