Tivemos
um passado nublado em relação ao uso e à leitura da Palavra de Deus. A
bíblia foi tirada das mãos dos católicos. Isto chegou até os nossos
tempos, como aconteceu nas minhas primeiras férias de Seminário, em
1967, quando disse à minha mãe: "Por que não temos uma bíblia?". A
resposta foi reveladora: "A gente pode ter bíblia em casa!?".
Numa história de mais
de 500 anos, quem não tinha boa formação não podia manusear o Livro
Sagrado. Tudo por medo de uma má interpretação dos textos "fora do
contexto". Até parece que faltava confiança na inspiração que vem do
Espírito Santo. Ficamos no prejuízo e caminhamos pouco no conhecimento e
na intimidade com a Palavra de Deus.
Com o Concílio Vaticano
II o clima mudou. Hoje já sentimos os avanços que estão acontecendo e
os resultados evidentes da força da Palavra. A bíblia está voltando para
as mãos dos católicos, sendo a força transformadora das comunidades
cristãs. Isto revela a beleza e a ação do Espírito de Deus no seio da
Igreja.
A bíblia passou a ser o
"livro de cabeceira", aliada de muita gente como devoção e referência
para suas urgentes necessidades. É um instrumento de uso pessoal,
fazendo parte do dia a dia das pessoas. Não só isto, mas também com uma
maneira de leitura que ajuda na interpretação, evitando privilegiar
texto fora do contexto.
É interessante ter em
conta que muitas pessoas conseguem ligar a Palavra de Deus com os fatos
da vida. O texto, refletido e rezado, passa a iluminar as realidades,
abrindo caminho para superação das dificuldades. Isto acontece no nível
pessoal, mas também no comunitário, especialmente nos círculos bíblicos.
A habilidade para lidar
com a bíblia vem dos momentos formativos, de leituras de autores
voltados para a Palavra de Deus, do mês da bíblia e de escolas
teológicas com acento na Sagrada Escritura. Tudo isto revela que estamos
dando passos e provocando interesse das pessoas pela leitura frequente
da bíblia.
São 50 anos do Vaticano
II. Já temos um patrimônio de reflexão sobre a bíblia, mas não temos
ainda projetos pastorais com o tema "animação bíblica de toda a
pastoral". Até então, esta não tem sido a tônica das Igrejas
Particulares. Temos, sim, grandes iniciativas aqui e ali, mas que ainda
não revelam fato de relevância.
Aos poucos descobrimos
que a Palavra de Deus não está só na bíblia. Deus ainda se revela na
vida, nos acontecimentos e no relacionamento das pessoas. A bíblia ajuda
na descoberta da Palavra nas realidades do cotidiano. Isto cria ânimo,
renova as forças desgastadas com as dificuldades, e desperta esperança.
Antes da existência da
bíblia, a Palavra já era vivida nas comunidades. A escrita dos textos
bíblicos veio dizer que Deus sempre esteve presente no meio do povo. Às
vezes isto não é percebido, mas aparece na experiência pessoal e nas
atitudes das comunidades. Basta interpretar o que está por trás da luta
do povo.
Quanto falamos de
interatividade entre a fé e a vida, estamos falando da força da Palavra
que produz a fé em Deus, os compromissos com o seu projeto em Jesus
Cristo, em harmonia com a história de vida da comunidade. A leitura
atenta da bíblia joga luz sobre a fé e a vida, criando consciência
crítica no contexto social.
O Congresso de Animação
Bíblica da Pastoral quer despertar em toda a Igreja, e em todas as
pastorais, o compromisso com os anseios do Vaticano II, 50 anos depois;
também com os atuais documentos oficiais, principalmente o de Aparecida e
as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, 2011 -
2015.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Bispo de São José do Rio Preto.
Bispo de São José do Rio Preto.
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