16 de set. de 2012

Oxfam alerta para o agravamento da crise alimentar


O agricultor Aissata Abdoul Diop, da Mauritânia, mostra os efeitos 
da seca de março de 2012 no seu milho – Foto de Pablo Tosco/Oxfam

Entidade aponta que mudanças climáticas elevarão os preços dos alimentos, que devem pelo menos dobrar nos próximos 20 anos, fazendo com que as famílias mais pobres tenham que gastar 75% do seu rendimento em comida. Artigo de Fabiano Ávila do Instituto CarbonoBrasil
Segundo dados da Secretaria Nacional de Defesa Civil, 1.123 cidades brasileiras, reunindo mais de oito milhões de pessoas, estão a enfrentar a pior seca dos últimos 30 anos, que pode estender-se até 2013. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) já teria inclusive reduzido a estimativa para a produção de grãos deste ano, o que vai contribuir para a alta dos preços dos alimentos não apenas no Brasil, mas em todo o planeta.
Este tipo de cenário deve tornar-se comum, já que uma das consequências do aquecimento global é justamente o aumento da frequência e intensidade de fenómenos climáticos extremos. Assim, a crise alimentar, que atualmente é um problema seriíssimo, deve transformar-se numa tragédia de proporções incalculáveis.
Quem faz o alerta é a Oxfam no seu novo relatório “Extreme Weather, Extreme Price” (“Clima Extremo, Preço Extremo”), divulgado nesta quarta-feira (5). De acordo com a entidade, populações que hoje já passam dificuldade para se alimentar encontrar-se-ão numa situação ainda pior nas próximas décadas, comprometendo até 75% do seu rendimento na compra de comida.
“O aumento das temperaturas e mudanças nos padrões de chuva dificultarão a produção agrícola e causarão aumentos constantes nos preços. O pior é que eventos extremos, como a atual seca nos Estados Unidos, podem acabar com safras inteiras e forçar picos dramáticos nos preços”, afirmou Tim Gore, conselheiro de mudanças climáticas da Oxfam.
“Todos sofreremos com a alta dos preços, mas serão os mais pobres que sentirão mais fortemente os impactos. As consequências das mudanças climáticas na alimentação mundial ainda não são discutidas o suficiente. O mundo precisa acordar e perceber o perigo da inação.”
Segundo a Oxfam, os preços médios de alimentos devem dobrar até 2030. O milho, por exemplo, deve subir 177%, o trigo, 120%, e o arroz, 107%.
O custo destes produtos deve ficar ainda mais alto durante eventos extremos.
Uma seca na América do Norte, similar à de 1988, pode elevar o preço mundial do milho em mais 140% e do trigo, em 33%. Se acontecer na América do Sul, tal seca causaria o aumento de 12% no milho. Colheitas ruins na Índia e no Sudeste Asiático, prejudicadas, por exemplo, por enchentes, afetarão principalmente o arroz, causando uma alta mundial de 25%.
Adaptação
Apesar do cenário desolador, o relatório salienta que ainda é possível reverter esta tendência.
Investimentos numa agricultura sustentável baseada em pequenos produtores, principalmente nos países em desenvolvimento, podem facilitar o acesso das populações aos alimentos, o que, com certeza, diminuiria os preços.
Financiar medidas de adaptação e de redução de prejuízos em caso de eventos climáticos extremos também é apontado como uma opção. Aumentar as reservas de alimentos, o armazenamento de água e a monitorização do clima é considerado fundamental pela Oxfam.
Para tornar isto tudo possível, a entidade defende a capitalização do Fundo Climático Verde, que, apesar de teoricamente entrar em vigor em 2013, ainda não conseguiu reunir os recursos necessários para cumprir o seu objetivo de aliviar os impactos do aquecimento global.
“Os governos devem agir agora cortando as emissões de gases do efeito estufa, revertendo décadas de baixos investimentos em agricultura familiar e providenciando os recursos necessários para ajudar os pequenos produtores a se adaptarem às mudanças climáticas”, concluiu Gore.
Artigo de Fabiano Ávila, publicado pelo Instituto CarbonoBrasil

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