Paulo Mendes Peixoto *
Alguns valores são fundamentais para a história de nossa vida.
Entre eles citamos o dom da sabedoria, que vem do alto, de Deus. A
sabedoria divina, para ser praticada, exige de nós renúncias, que a
cultura atual, muito marcada pelo modelo consumista e capitalista, não
está disposta a assumir. Isto supõe coragem e desprendimento da pessoa.
Ser sábio é contrapor à ideologia de dominação, de perseguição e de
oportunismo para conseguir poder e prazer, podendo desfrutar dos bens
gananciosamente, perseguindo as práticas do justo. As atitudes de
autossuficiência excluem o valor da sabedoria divina, colocando toda sua
força naquilo que é realização sem a presença de Deus.
A vida assumida com sabedoria faz a pessoa ser justa e a reconhecer a
Deus como Pai. Sabe que sua existência não está resumida apenas no gozo
do momento, mas tem uma dimensão de eternidade, de felicidade duradoura
no seio do Criador. Esta foi a sabedoria pedida por Salomão, rei de
grande sabedoria, mas que conseguir reconhecer sua humanidade, submissa
aos princípios divinos.
A sabedoria está acima do poder e da riqueza. Ela é mãe e mestra das
coisas, capaz de proporcionar equilíbrio no nosso agir e no valor que
damos às realidades. Seu brilho faz com que reconheçamos, com mais
precisão, o que é valor absoluto e o que é relativo, trazendo serenidade
no agir. Sábio é quem consegue enxergar no mudo prático a presença das
forças divinas e as valoriza.
Para o profeta Isaías, a verdadeira sabedoria é dom de Deus,
acompanhada por outros dons que a fortalecem. Destacamos a inteligência,
o conselho, a fortaleza, a capacidade de conhecimento, o temor do
Senhor e o espírito com que tudo isto é colocado em prática (Is 11, 2).
Toda esta riqueza supõe um coração sensível, simples, autêntico e aberto
para essas realidades.
O acúmulo nunca é bênção de Deus, portanto não é expressão de
sabedoria. Ele tira a condição de liberdade, sabedoria e justiça. Não
passa de atitude egoísta, contrária à relação de justiça e fraternidade.
Temos que vencer o empecilho, o apego aos bens materiais.
* Dom Paulo Mendes Peixoto é arcebispo de Uberaba (MG).
Fonte: www.cnbb.org.br
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