6 de out. de 2012

“Expressar a sua fé em Deus sem medo nem vergonha”

Por Pe. Crispim Luhinzo   
05 / Out / 2012 14:40

Sou Africano, da República Democrática do Congo; tenho 32 anos. Chamo-me Crispim LUHINZO, sou padre da congregação dos Missionários Xaverianos.  Fui ordenado padre no ano passado e de repente destinado para o Brasil, no intuito de iniciar a missão. Já quase nove meses que estou aqui. Aprendi o português no CENFI- Centro Cultural Missionário- a fim de poder começar a missão. Agora atuo em Hortolândia-SP, no noviciado. Ajudo também na pastoral paroquial numa área missionária confiada aos padres do Noviciado onde eu moro. Esta área missionária é chamada “SÃO GUIDO MARIA CONFORTI”, setor da paróquia Nossa Senhora Aparecida, situada em Hortolândia (Jardim Rosolém), Arquidiocese de CAMPINAS- SP.
Eu fiz uma parte da minha formação fora do meu País de origem. Depois da formação filosófica e o noviciado no Congo, fui enviado nos Camarões (Yaoundé) para estudar a teologia.  Ali tive a sorte de fazer uma experiência missionaria no Chade por três meses, onde tantas coisas me ajudaram e até agora me ajudam a compreender melhor e concretamente as exigências da missão Ad-Gentes.  Portanto, sabemos que a procura de Deus em todo lugar e em todo tempo é a expressão de vitalismo espiritual no ser humano. Admirei muito a audácia do povo chadiano que percorreu tantos quilômetros, quase 35 a 30 para aqueles que vieram de longe a pé ou de bicicleta, para chegar a Igreja. Diante desta realidade todo mundo pode ficar de boca aberta, olhando para este povo sedento de Deus. Isto virou para mim ensinamento e motivo para entrar no ritmo deles. Era necessário vencer o medo de percorrer os caminhos sinuosos, como eles fizeram, a fim de levar a Boa Nova. Na verdade, precisava uma boa dose de humildade e de fé, para assumir aquela condição de vida. Às vezes, precisava levar a bicicleta sobre a cabeça para atravessar um lago.  As pessoas não se fadigam procurando a Deus, considerado como pérola preciosa de vida. “Uma viagem não é longa uma vez que a pessoa encontra o que ela está procurando”. Nisto descobri a novidade e a dinâmica da missão Ad Gentes, um movimento recíproco: o missionário partiu ao encontro do povo e os povos partiram ao encontro do missionário. Então percebi que a Igreja Chadiana está crescendo devagarzinho na consciência de participação de cada um na missão Ad Gentes.
Com efeito, aquela experiência missionaria no Chade me deu a possibilidade de definir a missão como “comunhão”. De fato, a comunhão supõe um ritmo de vida que precisa relativizar as coisas; “morrer na sua cultura para renascer numa outra”. Neste sentido, a missão necessita que o missionário se mergulhe no mundo da fraternidade universal. Isto requer sintonia de vida para com Deus e para com outras pessoas desconhecidas, encontradas no chão missionário. Aliás, a fé não é um negócio privativo na medida em que implica testemunho e empenho público onde a renovação da Igreja passa por testemunho dos fieis.  Alguém cantou: “a gente não sabe aonde vai, mas a gente vai para lá apesar de tudo”. E eu aumento este canto dizendo que: “a gente vai confiante em Deus, com entusiasmo, zelo, tamanha fé e disposição de coração sabendo que é necessário trazer a sua pedrinha, seja pequenininha, para construir e edificar o Reino de Deus”. Sabendo que toda a Igreja é missionária, tenho certeza que o missionário autêntico não é “cavaleiro solitário” não, pois a comunhão que determina a sua condição de discípulo impõe-lhe o ecumenismo que ultrapassa as barreiras de raça, religião, língua, e cultura. O ecumenismo supera as oposições, as brigas, as indiferenças que paralisam a humanidade de hoje. Portanto o ecumenismo é ainda um desafio para a missão da igreja.
O que acontece recentemente na Internet incomoda os fieis católicos. Há alguns oportunistas e extremistas que procuram os problemas por nada. Com efeito, escutamos que eles afirmam sem nenhum pudor que Jesus se casou com Maria Madalena. E como se isto não bastasse, querem provar o evento com falsos testemunhos usando os meios de comunicações. Nos Estados Unidos nos próximos dias será publicado um livro polêmico em que o autor quer mostrar que Jesus e seus apóstolos formaram um grupo dos homossexuais. Diante desta infâmia as perguntas se põem: Por que isto acontece? Qual a posição da Igreja nesta polêmica? Qual é a tarefa do cristão enquanto escuta as vergonhosas e ignominiosas notícias sobre a sua fé? Muitas vezes, faltamos à coragem de reclamar, de protestar e de defender a nossa fé diante de situações complicadas. Defender a fé neste sentido não significa brigar com ninguém, mas gritar alta, vigorosamente e com força o respeito da nossa fé cristã. Ficar calado vira razão para aqueles oportunistas e maus intencionados de continuar a sujar a nossa crença.
De fato, o que é importante para os fiéis católicos hoje, é o melhor conhecimento do conteúdo da fé da Igreja. Pode acontecer que alguém fique quieto diante daqueles ataques dos extremistas por que não domina bem a doutrina da fé. Há na igreja um número considerável de pessoas que usam os símbolos da igreja sem saber o sentido deles. Mecanicamente os gestos e sinais da Igreja tornam-se vazios de conteúdo enquanto os usam sem fé e ainda mais sem conhecer o que eles significam. Um dia perguntei simplesmente a certo grupo dos catequistas que me explicasse o sentido do sinal da cruz, aquele gesto e sinal que a gente faz tradicionalmente no início e no final dos encontros cristãos. Fiquei surpreso em ver que as respostas deles foram vacilantes. Se os catequistas não dominam bem a doutrina da fé qual tipo de batizados haverá na Igreja? O desafio de hoje consiste nisso, fazer o que os outros fazem sem nenhuma preocupação de conhecer melhor, de aprofundar, de se embrenhar na verdade da fé.   Cada cristão deve se questionar sobre isso.  Aguçar o conhecimento da doutrina da sua fé evita de cair nas práticas litúrgicas e devoções falsas e vazias. Os pastores da Igreja e os lideres pastorais têm que desenvolver com mais empenho e audácia a formação dos fieis sobre o assunto em questão. Isto concerne também os ensinamentos sobre a simbologia litúrgica que nós usamos: velas acesas, flores, óleo, água, ícones dos Santos, de Jesus, de Nossa Senhora; o uso de incenso e outras matérias, gestos e sinais litúrgicos.
O mês de outubro é conhecido tradicionalmente na Igreja Católica Romana como mês da missão. Este ano, o mês de outubro vai ser marcado pelo o início do ano da fé proclamada pelo Papa Bento XVI no dia 16 de outubro do ano passado. O ano de fé nos lembra de que não devemos aceitar que o sabor da nossa fé se dilua e a luz do Evangelho seja escondida ou apagada (Mt 5, 13-16).  Diante da sociedade de hoje caraterizada pela crise de fé, a Igreja deve continuar a sua peregrinação, apesar das perseguições e aflições que vêm “ad-intra e ad-extra” contra ela. Portanto, os fieis são convidados a superar a fé “preguiçosa” a fim de terem a postura de cristãos dignos deste nome. Aliás, todo mundo sabe que a fé é o motor e catalisador da vida cristã. Pois sem fé não é possível chegar à religião verdadeira; sem fé a crença torna-se uma brincadeira sem valor nenhum. Por isso podemos nos questionar: Qual é o nível da minha fé pessoalmente? O que eu faço da crença ou da minha fé? O que eu preciso para aprofundar a minha fé? Por que é necessário na vida de hoje saber melhor o conteúdo da minha fé? Com quem e por que devo expressar a minha fé em Deus sem medo e sem vergonha? Todas estas perguntas merecem uma atenção particular ao nível pessoal e ao nível da Igreja inteira. A fé não é brincadeira não! Precisamos nutri-la, cuida-la, protege-la e expressar sem medo e sem vergonha a sua verdade. Somente assim mostraremos que somos cristãos autênticos trabalhando pela edificação da igreja e do Reino de Deus. Não é o bastante ser padre, missionário, frade, irmã, líder pastoral, cristão, etc. É muito importante zelar pela a sua fé! Contudo,  somos convidados a redescobrir o caminho da tamanha fé e a alegria de valorizar uma conversão autêntica e renovada no Senhor Jesus Cristo, único salvador da humanidade.
fonte:http://pom.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1484:expressar-a-sua-fe-em-deus-sem-medo-nem-vergonha&catid=60:testemunhos&Itemid=88

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