Júlio Lázaro Torma*
" Aqui o boi vale mais que uma criança guarani"
( Guarani kaiowá
Anastácio)
Sou descendente de
europeus, fisicamente sou europeu,meus antepassados vieram das Ilhas dos
Açores ( Portugal),País Vasco ( Espanha) e Emilia Romagna ( Itália).E
corre nas minhas veias o sangue indígena Charrua, única herança deixada
pela minha avó paterna.
Os charruas
povo que habitava o sul do Rio Grande do Sul e a República Oriental do
Uruguay,eram ótimos cavalarianos e responsáveis pelas boiadeiras.foram
exterminados pelo presidente uruguaio Flutuoso Rivera,num churrasco
macabro e da traição,alguns deles foram levados a Paris como atração
exótica num Circo ou Zoológico humano na cidade luz.
Acima de tudo sou Brasileiro,com orgulho.E nem por isso devo deixar de dizer e escrever o que penso. Ou até por isso mesmo.
Tenho acompanhado a luta indígena há
anos e dos guaranis kaiowá da região de Dourados ( MS), desde
1997,onde coletei assinaturas pela demarcação de suas terras nas
residências da comunidade em que resido.
Eis que o Brasil em 1500, havia 5 milhões de habitantes divididos em
900 povos, que falavam 2 mil idiomas,que já viviam aqui á mais de 42
milhões de anos antes da chegada dos colonizadores europeus.
Passados 512 anos da chegada dos colonizadores e do capitalismo em
terras de Pindorama, temos visto o massacre silencioso e
diário,extermínio dos povos originários.
Pode ser através da ideologia do branquiamento,acobertamento,limpeza étnica,onde se diz que não existe racismo no país.
O caso dos povos indígenas vem mostrar o contrário do que a ideologia dominante e ufanista no Brasil mostra ao
mundo,de um país igualitário e sem racismo.
Onde a população originária é o que mais sofre, sem direitos básicos a
saúde, terra, moradia e trabalho.Além de estarem confinadas em
verdadeiros campos de concentração.
Como
o caso de 700 índios guaranis confinados em 1 hectare e do outro lado
vemos uma fazendo com 10 mil hectares de um proprietário.
Um boi precisa de 1,5 hectares,segundo os ruralistas.Ai podemos ver que
o ser humano vale menos que o boi.Além de vermos produtores rurais
jogando recipientes de agrotóxicos nas reservas indígenas,como se não
tivessem moradores ou que fossem lixões.
O caso dos 170 Guaranis Kaiowá( 50 homens, 50 mulheres, 70 crianças) de
Pyelito Kue nos chama atenção ao seu grito de suicídio coletivo se
forem expulsos de suas terras
ancestrais.
De 2003-2010, 555
guaranis se suicidaram.O suicídio é sinal de desespero e falta de
perspectivas em relação ao futuro. Ao tirar o índio de sua terra a
sociedade brasileira e o estado brasileiro estão o assassinando e
fazendo com que ele morra.
Em nome
do agronegócio e das transnacionais,o estado brasileiro se converte em
cavalo do comissário,expulsando os de suas terras,as entregando as
transnacionais.
Para a extração de
recursos minerais, criação de gado,monoculturas como soja,cana de
açúcar,fruticultura e florestamento,como a construção de hidrelétricas
que atira milhares de hectares no fundo de lagos artificiais que vão
beneficiar o capital estrangeiro.
Aqui no Brasil como cantava Renato Russo( 1960-1996), " Ninguém respeita a constituição" e querem
" Vamos faturar um milhão.Quando vendermos todas as almas de nossos índios num leilão".
Eis que como canta a banda pop Maná:" Quando teremos democracia?, Quando acabaremos com a burocracia?"
está é a pergunta, se somos um país democrático, os nossos povos
originários devem ter o seu direito a vida digna respeitada, bem como a
demarcação de suas terras homologadas. Tirar a terra do índio é tirar a
sua vida, dignidade e o mata-lo.
Ninguém quer ser expulso de sua terra ou casa?, alguém quer?
Numa sociedade que se valoriza tanto o sagrado direito de propriedade
de alguns.Não se aceita que outros os espoliados desta sociedade á
tenham, direito de viver em paz nas suas terras.
" Estamos exigindo todo
respeito.Respeito ao índio e a sua dignidade" ( Maná), pela
imediata demarcação das terras indígenas e desapropriação das grandes
propriedades em áreas indígenas, não expulsão dos povos originários de
suas terras.
Que o índio seja
respeitado e valorizado como ser humano e não os interesses econômicos
de grupos estrangeiros e de estrangeiros que se apossam de nossas
terras.
Até quando teremos que ver
índios assassinados,morando em beiras das rodovias,passando fome,pobres
num país rico e cuja terras já foram deles.E a pergunta que fica para
nós todos fazer " Que País é esse?" e " Brasil mostra a tua cara".
_________
* Membro da Equipe da Pastoral Operária Arquidiocesana de Pelotas /RS
Nenhum comentário:
Postar um comentário