23 de jan. de 2013

Andes estão perdendo glaciares em taxas alarmantes devido às mudanças climáticas, alertam cientistas

  Autor: Fernanda B. Müller   -  
 Fonte: Instituto CarbonoBrasil

Os dados preocupantes que mostram o degelo no Ártico e em outras partes do mundo podem nos dar a sensação de que os efeitos do aquecimento global sobre a cobertura de gelo são distantes de nós, porém pesquisas recentes mostram que sim, na América Latina os glaciares também estão retraindo.
Um novo estudo, o mais abrangente já publicado considerando os Andes tropicais, mostra que a taxa de degelo na região é mais acelerada do que a média global, colocando em sério risco fontes de água para a população de cidades como La Paz, na Bolívia.
O objetivo do estudo ‘Estado atual das geleiras nos Andes tropicais: uma perspectiva multi-secular sobre a evolução dos glaciares e das mudanças climáticas’, publicado no periódico The Cryosphere, é fornecer um panorama dos estudos sobre as geleiras nos Andes tropicais através da reunião de pesquisas realizadas na área nas últimas décadas.
“Em termos de mudança na área da superfície e na espessura, mostramos que a retração dos glaciares nos Andes tropicais ao longo das últimas três décadas é sem precedentes desde a extensão máxima alcançada na Pequena Era do Gelo (entre meados do século XVII e início do século XVIII)”, alerta um grupo de pesquisadores franceses e latino-americanos.
Eles argumentam que mesmo com alguns ganhos esporádicos de massa em várias geleiras, a tendência é marcadamente negativa nos últimos 50 anos. A média do déficit de massa chega a ser um pouco mais negativa do que a registrada em nível global.
Especialmente distinto em glaciares menores de baixa altitude, o fenômeno pode causar o seu desaparecimento nos “próximos anos/décadas”, notam os pesquisadores.
“Mensurações mensais na Bolívia, Equador e Colômbia mostram que a variabilidade da temperatura na superfície do Oceano Pacífico é o principal fator”, constataram, completando que a temperatura subiu 0,10°C por década nos últimos 70 anos, “uma taxa significativa”.
“A maior frequência de eventos do El Niño e mudanças na sua ocorrência espacial e temporal desde o final da década de 1970, em conjunto com a troposfera em aquecimento sobre os Andes tropicais, também pode explicar grande parte da retração dramática recente nos glaciares desta parte do mundo”.
Figura: (a) Glaciares monitorados nos Andes tropicais. Os glaciares com séries de dados em longo prazo (hexágonos pequenos e vermelhos) foram classificados (Tabela 1 do estudo). Para estes glaciares, registros de espessura (cubos amarelos) e de área (circulo azul) também existem. O hexágono grande e vermelho representa uma amostra de 21 glaciares na Cordilheira Real, Bolívia, para as quais estão disponíveis reconstruções do balanço de massa desde 1963 até 2006 (Soruco et al, 2009a). Outros glaciares cujas mudanças na espessura e/ou área foram monitoradas estão numerados. "MD initiated" indica os glaciares com mensurações de massa iniciando em 2008 (Incachiriasca), 2009 (Coropuna) e 2010 (Quisoquepinia). (b) Circulação geral da atmosfera sobre a América do Sul. O quadro pontilhado mostra a amplitude dos mapas de precipitação em (c) e (d). (c) e (d) significam a intensidade de precipitação por hora (mm h-1) em janeiro (c) e julho (d), respectivamente, entre 1998 e 2010 com base no TRMM (Tropical Rainfall Measurement Mission) Product 3B43 V6.

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