19 de jul. de 2013

Aristipo e a Extravagância da Virtude

por Breno Lucano


"... nada impede que um homem viva extravagantemente e bem.
Aristipo (DL, II: 69)

Aristipo, filósofo hedonista, filósofo emblemático, portanto. Isso porque incorremos no lugar-comum de que não se pode ser filósofo e hedonista ao mesmo tempo, nada de filosofar e se adentrar em bordéis, participar de banquetes, festas e sensualismo. A filosofia, dizem, não se ocupa disso. A ela deve-se mais respeito, mais determinação e menos ousadia. Pelo menos é o que pensam os que entendem a filosofia como algo capaz de conduzir ao infinito, ao eterno, ao absoluto. Aristipo ao lado de grandes nomes como Heráclito, Parmênides ou Aristóteles? Pouco provável. É curioso como no diálogo Filebo Platão nunca menciona o nome de Aristipo, embora dedique a obra inteira à discurssão do prazer. 

Nosso filósofo de Cirene evita os extremos. Isso o faz, diferentemente de Sócrates e dos platônicos, a exigir dinheiro em troca de suas aulas. Primeira subversão! Aristipo não vê o dinheiro como um bem em si - único bem é o prazer -, mas como um meio de descomplicar a vida, de torná-la mais facilitada. Para ele, a riqueza e a pobreza são dois estados que coagem, entravam a liberdade e impossibilitam uma verdadeira autonomia - lembremos que a autonomia é a palavra-chave na Antiguidade. Nem mendigo nem rico é visto como modelo de virtude. Assim, rejeita tanto os farrapos de Diógenes quanto o brocado de Platão. Se o dinheiro realmente nada vale, que, ao menos, sirva para dispersar as contrariedades.

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