9 de jul. de 2013

Francisco, um papa universal

É obrigação do papa não fomentar o enfrentamento, mas, muito pelo contrário, ajudar na tolerância

Papa Francisco abraça criança: inspiração na simplicidade
Por José M. Castillo
Acabamos de nos inteirar que o papa Francisco pensa em canonizar João Paulo II e João XXIII. Antes, já havia sido dito que também pensa em beatificar dom Romero. E, agora, sabemos que o papa está pensando em beatificar Álvaro del Portillo, o sucessor de São Josemaría Escrivá de Balaguer na prelazia do Opus Dei. Caso reflitamos, por um momento, que os defuntos que são elevados à honra dos altares representam – entre outras coisas – o modelo da Igreja que se quer apresentar como exemplo para todos os cristãos, torna-se inevitável questionar-se sobre qual a ideia que o papa Francisco possui a respeito do tipo de Igreja que, neste momento, convém ao mundo. Porque é evidente que a Igreja da Polônia (a de João Paulo II) não é a mesma Igreja do Vaticano II (a de João XXIII). Como também a Igreja que era promovida por dom Romero não se parece muito com a Igreja que o Opus Dei sustenta.
Há alguns dias, aqui mesmo, eu escrevia que "o papa Francisco não tem marcha ré". É verdade que não? Não estamos vendo que o papa Bergoglio dá um passo para uma direção com a mesma facilidade pela qual parece que o dá na direção contrária? Portanto, com o que ficamos?
A primeira coisa que parece ser razoável para responder estas perguntas é que, segundo a definição do Concílio Vaticano I (DH 3064) e o ensinamento do Vaticano II (LG 22), o papa tem potestade suprema sobre a Igreja universal. Logicamente, isto quer dizer que o bispo de Roma, como sucessor de Pedro, é o papa de todos os cristãos por igual. O mesmo daqueles que se sentem identificados com as ideias de João Paulo II ou Álvaro del Portillo, com daqueles que se identificam com João XXIII ou dom Romero. É claro, desde que não se prejudique a fé, é permitido sentir-se mais próximo da maneira de pensar, de viver e de aparecer em público deste papa ou do outro. No entanto, a chave de tudo o que estamos tratando aqui não são questões dogmáticas de fé. Estamos falando de presumíveis intenções papais. Intenções que dariam margem para suspeitar que o papa Francisco deseja certo modelo de Igreja ou que prefere outro.
Colocado isto, não há dúvida que o papa Francisco deu provas de sobra que prefere um modelo de exercer o papado que busca se inspirar na simplicidade e humildade do Evangelho de Jesus de Nazaré, o que supõe ir se despojando de manifestações de pompa e luxo que pouco ou nada tem a ver com a imagem de Jesus que os Evangelhos nos oferecem.

Pois bem, se Francisco é papa para todos os cristãos, é igualmente tanto para os cristãos de uma mentalidade como para os de outra. Ao ser eleito papa, Francisco se encontrou com uma Igreja dividida e, em não poucos assuntos, com uma Igreja dividida em grupos opostos. Com as coisas desta forma, é obrigação do papa não fomentar, nem manter a divisão e o enfrentamento, mas, muito pelo contrário, ajudar na tolerância, respeito e união.

Se é que o papa Francisco pensa que o melhor para a união da Igreja é beatificar ou canonizar as pessoas mencionadas ou outras semelhantes, nós, os crentes em Jesus de Nazaré, o que temos que fazer é respeitar o papa Bergoglio em suas decisões. Não apenas respeitá-lo, mas, especialmente, unir-nos a ele. E, unidos ao Papa, ajudar a todos a recompor a unidade da Igreja. Por isso – se é que a Igreja nos importa de verdade –, a única coisa razoável que podemos fazer é deixar de puxar cada um o tapete do outro, com a intenção de (seja pelo que for) ficar por cima daqueles que consideramos nossos adversários. Apenas a união de todos com todos, em torno da bondade que aprendemos no Evangelho de Jesus, poderá ser decisiva para a renovação da Igreja.

Para terminar, quero apenas acrescentar que tomar seriamente esta postura na vida pode nos custar muito. No Sermão da Montanha, Jesus nos ensinou, inclusive, a renunciar o exercício de nossos próprios direitos humanos. Na medida em que nos unamos ao Papa nesta postura fundamental, nessa mesma medida estaremos fazendo o mais eficaz que podemos fazer, neste momento, para o futuro dessa Igreja pela qual todos nós sonhamos. E que será – caso se realize este projeto – uma força de reconstrução e humanização deste mundo, no qual se tornará possível viver com paz e esperança.

Fonte: domtotal.com
Teología Sin Censura, 07-07-2013.

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