
Num emocionado reencontro com velhos amigos da Convergência Socialista
(atual PSTU), Luís Leiria lançou ontem o seu primeiro livro em São
Paulo, Brasil. O inferno de outro mundo foi publicado pela editora Sundermann
e reúne nove contos sobre vários temas. “Sempre tive dúvidas se a minha
primeira coletânea de contos deveria ou não ser temática. Os editores
normalmente preferem que os contos sigam um fio de continuidade. Os
editores deste livro queriam que incluísse contos sobre a Revolução dos
Cravos de Portugal, a mais incrível experiência que vivi quando tinha 17
anos”, contou Luís durante a apresentação do livro.
Luís aceitou a sugestão dos editores e incluiu dois contos que falam de
Portugal no período pré-revolução e no período revolucionário. Além
desses, outros do género fantástico, algumas distopias ou narrativas
relacionadas com o período que viveu em São Paulo. Como não podia
faltar, um conto maior, quase uma novela, a refletir a sua paixão pelo
jazz. “Eu pensava fazer uma recolha só de contos fantásticos e
distópicos. Mas acabei por ceder ao pedido dos editores que tão
generosamente aceitavam correr o risco de publicar um autor iniciante.”

Durante a sua apresentação, Valério, amigo de Luís desde antes da
Revolução dos Cravos, relembrou alguns episódios da vida política comum
em Portugal. “Luís foi um dos primeiros jovens a ter um direcionamento
político que nos aproximou da IV Internacional”, referiu, citando a
passagem do revolucionário peruano Hugo Blanco em Lisboa, em 1974, dois
meses após a queda do regime salazarista. Hugo Blanco queria ver a
revolução e fazer contactos em Portugal, e acabou por encontrar-se com
vários estudantes do secundário, como Valério e Luís, e apresentar-lhes
uma das correntes da IV Internacional.
Apesar do título do livro ser O inferno de outro mundo,
Valério frisou que Luís “sempre acreditou que podemos construir um mundo
que não seja um inferno”. “É um orgulho para nós que esse livro saia no
Brasil”, concluiu. “Dizia Roberto Bolaño [escritor chileno]” -
falou Luís durante a sua intervenção - “que para escrever romances não é
preciso imaginação. Apenas memória. Os contos que estão nesta coletânea
de uma forma ou de outra combinam lembranças. É a vantagem de começar a
escrever depois dos 50 anos. Hoje arrependo-me de tê-lo feito tão
tarde. Mas talvez esse defeito se transforme numa vantagem: tenho mais
recordações para combinar.”
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