13 de mar. de 2014

Francisco: um ano do papa que renunciou à 'corte'

O que surpreende entre aqueles que estão mais próximos dele é sua "determinação".
Por Andrea Tornielli
A imagem de Francisco sentado na quarta fileira entre os demais cúrias que fazem com ele os exercícios espirituais, em Ariccia, é emblemática deste primeiro ano do Pontificado. E comprova que, para ele, a autoridade é, acima de tudo, serviço. O cardeal Antonio Quarracino, que em 1992 o quis como “braço direito”, dizia que: “Sempre sei onde encontrar meu auxiliar Bergoglio. Na última fileira...”. E mesmo após ter sido ordenado cardeal ou durante suas visitas às “vilas misérias”, as favelas de Buenos Aires, Bergoglio sentava-se apenas nas últimas fileiras. Por este motivo não foi difícil para ele renunciar a alguns símbolos que o papado herda ao longo de séculos de história e de costumes imperiais. Um estilo que é também substancial e o que o tornou mais próximo e acessível.

Na suíte 201 da Casa Santa Marta, a luz do quarto do papa (que tem móveis de nogueira), acende-se cedo, as 4h30min da madrugada. Durante duas horas, Francisco permanece sozinho, em oração, meditando sobre as Leituras do dia e preparando a breve homilia que irá pronunciar. Pouco antes das sete, o papa vai sozinho à capela, onde aguarda cerca de 50 pessoas, alguns sacerdotes e os dois secretários: Alfred Xuereb e Fabián Pedacchio.

Os fiéis chegam todos os dias, vindos de diferentes paróquias romanas: como não pode visitar a todas, Bergoglio os convida a ir a sua casa. As pregações de Santa Marta são a novidade mais significativa do Pontificado: simples, compreensíveis e profundas.

Ao final da Missa, o papa se senta ao fundo da Igreja para rezar em silêncio durante alguns minutos. Em seguida, sai e saúda a todos os presentes (um a um). O café da manhã, às 8 horas, é no refeitório. É ali onde o papa almoça e janta (às 13 e às 20 horas, respectivamente). Pela noite, o serviço para os hóspedes da residência oferece apenas um primeiro prato. E depois, cada convidado, incluindo o Papa, se levanta e escolhe um segundo no buffet, “Eu preciso viver entre as pessoas. Se vivesse ilhado, isso não me faria bem”, explicou. Uma decisão, a de viver na Casa Santa Marta, que acabou por desestruturar, em poucos meses, a velha corte pontifícia.  

Os dias do papa seguem com intensidade. Além das audiências, dos encontros oficiais, das visitas dos chefes de estado, dos informes e práticas que vem da Secretaria de Estado e das Congregações, Francisco encontra tempo para ler pessoalmente, todos os dias, cerca de cinquenta cartas dentre as milhares que recebe de pessoas comuns. Algumas delas, após terem permanecido algum tempo sobre sua mesa, são o motivo das famosas ligações que o papa faz sem intermediações. Com Francisco também mudou o papel dos secretários particulares: já não acompanham o papa durante as audiências nem durante suas viagens; tornaram-se “invisíveis”. Como ocorria nos tempos de Pío XII, que trabalhava com alguns padres jesuítas que permaneciam a sombra. Pouco após sua eleição, Francisco revelou ao seu amigo Jorge Milia: não quer que seus colaboradores sejam os que dirigem sua agenda, os que estabelecem quem pode e não pode receber. E, efetivamente, é ele quem organiza, pessoalmente, muitos de seus encontros. 

O que surpreende entre aqueles que estão mais próximos dele é sua “determinação”, como contou o secretário Xuereb à Rádio Vaticana: “Trabalha incansavelmente e, quando necessita de um momento de pausa, senta-se e reza o Rosário. Creio que reza, pelo menos, três ao dia. Disse-me: ‘Isto me ajuda a relaxar’”. 

Uma atenção especial e com muita dedicação é dada aos encontros com os doentes. Durante as audiências das quartas-feiras passa horas abraçando os enfermos. “E isto porque – destacou Xuereb – ele vê neles o corpo de Cristo que sofre”. Uma tarefa que faz com que deixe em segundo plano até mesmo seus próprios mal-estares. “Durante os primeiros meses de Pontificado – contou o secretario – tinha fortes dores de cabeça devido ao ciático. Os médicos o aconselharam a não se agachar, mas ele, frente aos doentes nas cadeiras de roda ou as crianças enfermas em seus carrinhos, inclinava-se sem importar-se”.
Fonte: domtotal
Vatican Insider, 11-03-2014.

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