A domesticação de animais iniciou-se
há milhares de anos, uma prática pré-histórica. Consiste em adaptar por
seleção os animais preferidos, tidos como adequados e proficientes para
perfazer as necessidades humanas. Por essas e por outras razões a
domesticação é benéfica à civilização. Ao mesmo tempo em que animais,
aves e seres são tidos como criaturas dóceis e úteis à convivência
humana, é necessário sublinhar seu uso responsável.
Permanecem como elementos de preocupação que a domesticação não deixa
de ser prejudicial à natureza, à ecologia, à seleção natural, à
evolução biológica, etc. São percebíveis sintomas como a redução da
biodiversidade, extermínio de espécies, desequilíbrios ecológicos,
mudanças climáticas, abandono do habitat natural, entre outros.
Por outro lado, a domesticação propõe elementos de melhor qualidade de
vida humana e relações ecológicas e sociais. Influencia opções que se
aproximam do espírito de preservação da natureza e do ambiente.
O relacionamento do ser humano com seus animais domesticados é fonte
de alegria e autenticidade. Provoca sentimentos que incentivam
comportamentos de encanto por todas as criaturas e renunciam ao ato de
explorar e de destruir a natureza. Então, a domesticação tem sua face
benéfica ao mundo e ao ser humano, mas maléfica ao provocar impactos no
equilíbrio da natureza quando feita em grande escala.
Isto tudo é evidente, mas um testemunho pode transcender ao fato da
domesticação e revelar um pouco da essência do ser humano. Num
telejornal de domingo à noite um repórter foi às ruas e propôs a
mendigos, sem-teto e moradores instalados debaixo de pontes e de galpões
de resíduos recicláveis a compra de seus cachorros.
Tal como entrevistava uns e outros, logo entravam em cena sob a mesma
pergunta: você venderia seu cachorro? Em meio ao cenário de abandono e
de miséria as respostas põem em contato com a essência do ser humano:
“vender nunca, por preço nenhum. É a minha alegria. É meu companheiro.
Não tem dinheiro que pague”. Respostas que ultrapassavam de longe a uma
mera avaliação intelectual ou um cálculo econômico pelos bichos.
O filósofo alemão Immanuel Kant (1724 – 1804) diz que “podemos julgar
o coração de um homem pela forma como ele trata os animais”. Em meio a
tantos ataques à natureza, as respostas dos mendigos e do filósofo não
podem ser desvalorizadas para a tomada de consciência e de atitudes.
Antes, importa pensar e espelhar-se na postura de São Francisco de
Assis, que cantava louvores a Deus por todas as criaturas, até mesmo
pelos mais minúsculos dos animais.

Sobre o autor
Miguel Debiasi
Miguel Debiasi, é membro da
Província dos Freis Capuchinhos do Rio Grande do Sul, Mestre em
Filosofia e Teologia Autor de textos, artigos e crônicas. publicou o
livro Teologia da Tolerância – um novo modus vivendi cristã,
publicado em 2015 pela ESTEF, Escola de Espiritualidade e Teologia
Franciscana. Atualmente é pároco da Paroquia Cristo Rei de Marau e
Conselheiro do Governo Provincial, eleito no dia 04 de setembro de 2014.
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