Frei Alberto Beckhäuser
Apresentamos aqui uma visão de conjunto da Semana
Santa.
Deveríamos partir sempre da celebração do Tríduo pascal da Paixão-Morte,
Sepultura e Ressurreição do Senhor, com especial destaque à Vigília da Páscoa.
A Vigília pascal constitui o núcleo central de
toda a Semana Santa. Por isso mesmo deveria estar em primeiro lugar em toda a
ação pastoral. Importa encontrar formas e meios para trazer a Vigília pascal à
prática dos cristãos mais conscientes.
O Domingo de Ramos pode ser chamado de abertura
do retiro anual das comunidades eclesiais. O dia litúrgico é um tanto
sobrecarregado. Chama-se hoje: Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor. Os
mistérios evocados são vastos. Quem sabe, se poderia dar destaque à procissão
de ramos na Missa de sábado à noite e realçar, no Domingo, a Paixão do Senhor.
Talvez a 2ª leitura do Domingo, a carta de São Paulo aos Filipenses 2, 6-11,
possa dar a chave para a compreensão dos dois aspectos: a Entrada triunfal de
Jesus e a Paixão. Cristo humilhou-se… Deus o exaltou. A certeza da palma da
vitória sobre o pecado e a morte em Cristo deve acompanhar os cristãos na
contemplação dos passos da Paixão durante toda a Semana Santa.
Na segunda, terça e quarta-feira da Semana Santa,
a Igreja contempla o Servo sofredor, aparecendo, como figuras eloqüentes, Maria
Madalena que perfuma o corpo do Senhor, Pedro e Judas. A Igreja prepara-se para
o Tríduo pascal.
A Quinta-feira Santa é de uma riqueza muito
grande. Oferece dois momentos. A Liturgia do Santo Crisma na parte da manhã em
que, profeticamente, celebra os sacramentos onde ocorre a sagrada unção:
Batismo, Crisma, Unção dos Enfermos e Ordem. Na Missa vespertina já temos o
início do Tríduo pascal. Celebram-se os mistérios da última Ceia: o novo
mandamento, pelo lava-pés, a Eucaristia e o sacerdócio ministerial. Tudo isso,
pela entrega de Jesus para ser crucificado, pela entrega de Jesus em cada Santa
Missa, pela entrega dos cristãos pelo amor fraterno.
Na Sexta-feira Santa, a Igreja não celebra a
Eucaristia. Ela permanece em jejum. Comemora a Morte de Cristo por uma
Celebração da Palavra de Deus, constando de leituras bíblicas, de Preces
solenes, adoração da Cruz e Comunhão sacramental.
No Sábado Santo, com início na Sexta, a Igreja
celebra a Sepultura do Senhor, sobretudo através da Liturgia das Horas,
aguardando na esperança a ressurreição do Senhor. A comemoração da Sepultura do
Senhor é enriquecida na piedade popular pelo descendimento da Cruz e a
procissão do Senhor Morto.
Celebração Popular da Semana Santa
Em muitas regiões do Brasil, com especial
destaque para Minas Gerais, encontramos expressões populares na celebração da
Semana Santa. Vários foram os motivos que levaram a isso. Entre eles estão
certamente a língua, a clericalização da liturgia e seu caráter muito intelectual.
Criou-se, assim, um certo paralelismo entre a Liturgia romana e a expressão
popular. Importa, no entanto, compreender e valorizar essas formas populares,
para, a partir delas, se chegar a uma vivência maior dos mistérios de Cristo
pelo Rito romano e realizar uma possível integração das expressões populares.
A celebração popular da Semana Santa comemora
essencialmente o mesmo Tríduo pascal da Paixão-Morte, Sepultura e Ressurreição
do Senhor. Ela o faz ao ar livre através de procissões.
Assim, os Passos da Paixão são vividos na
Procissão do Encontro. Podemos valorizar todo um conteúdo ligado ao encontro
entre Deus e a humanidade, depois do desencontro por causa do pecado. O
encontro de Jesus com sua Santíssima Mãe no caminho do Calvário representa o
encontro da humanidade com seu Deus, encontro que passa pelo mistério da cruz.
Esta procissão é realizada no Domingo de Ramos, na Terça ou na Quarta-feira da
Semana Santa. Isso tem seu motivo. Na Liturgia anterior à reforma da Semana
Santa, nesses dias se proclamava a Paixão de Jesus conforme os sinóticos. A
agonia e a morte de Jesus recebem um destaque especial através do Sermão das
Sete Palavras. Trata-se de uma celebração da Palavra de Deus, com proclamação
da Palavra, o canto, a homilia e a oração, em sete etapas.
A Sepultura do Senhor é comemorada pelo
Descendimento da Cruz, com pregação, a Procissão do Senhor morto e o sermão da
Soledade. Tendo sido a semente lançada à terra, o Senhor repousa na esperança
da ressurreição.
Finalmente, temos a Procissão do Senhor
ressuscitado, realizada, em geral, após a Missa da Vigília. Em outros lugares,
na madrugada ou na manhã da Páscoa. É a procissão do triunfo de Jesus Cristo
sobre a morte, vivo e presente na Igreja, sobretudo no mistério da Eucaristia.
Às vezes, temos uma quarta procissão, sem contar
outras procissões de menor importância: a do Triunfo de Nossa Senhora. Em
certas cidades é realizada na tarde do Domingo da Páscoa. A humanidade
triunfante com Cristo é representada por Maria. Outras vezes ela é solenemente
coroada após a Procissão da Ressurreição do Senhor.
A participação popular caracteriza as
celebrações: os leigos são os agentes, enquanto o clero acompanha. Sobressaem a
linguagem visual e a ação, sobretudo pelo andar.
(*) texto do livro ”
Viver o Ano Litúrgico”, de Frei Alberto Beckhäuser
Fonte:
http://www.franciscanos.org.br/?page_id=55807#sthash.XBzH8jhx.dpuf
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